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Com a coletânea “Bogotá Suena”, artistas independentes da capital colombiana lutam pela preservação da própria memória musical

Foto: Divulgação

A cultura tem sido linguagem de resistência há séculos mundo afora e, aqui, na América Latina, não é diferente. Se, por um lado, o Brasil se vê cada vez mais isolado politicamente dos territórios de mesma origem cultural, por outro os movimentos artísticos da América Latina e América Ibérica se unem cada vez mais. Prova disso é a coletânea “Bogotá Suena”, iniciativa da entidade pública Idartes (Instituto Distrital de las Artes), da capital da Colômbia, junto a artistas independentes da cidade. O projeto chega ao quarto volume em meio a um grande desafio: difundir e imortalizar a memória musical colombiana e conectar as variadas expressões locais em diferentes gêneros (ouça aqui).

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“Hoje, os quatro mercados musicais mais fortes da América Latina são Colômbia, Argentina, México e Brasil. E, por cinco anos consecutivos, estes mercados foram os que mais cresceram anualmente no streaming mundial”, destaca o produtor argentino radicado no Brasil Hernan Halak, diretor da produtora Mundo Giras, sobre o potencial artístico das regiões. O Brasil, por exemplo, cresceu 13,1% , enquanto os EUA e Canadá cresceram 10,4% juntos. Os dados são do Relatório IFPI (Federación Internacional de la Indústria Fonográfica).

A Mundo Giras é parceira do Idartes na empreitada de extinguir as barreiras da criatividade musical entre povos de línguas neolatinas. “O que a gente quer mesmo é criar pontes, porque os países vizinhos e o Brasil têm que se abraçar muito mais. Pra isso, é importante prestarmos atenção nas manifestações culturais de latinidades pelo mundo”, completa. Vale lembrar que  o Idartes também responsável pela série de eventos Festivales Al Parque, conjunto de festivais que movimenta as cenas do jazz, salsa, hip hop, rock e todos os outros gêneros contemporâneos da Colômbia e territórios latinos. E chegou a levar nomes como Emicida, Tulipa Ruiz, Sepultura, Soufly e Liniker e os Caramelows para o seu palco.

Pedrina – Foto: Daniela Piedrahita

Esta é a primeira vez que a coletânea é lançada nos mercados brasileiro, espanhol e mexicano – ação que acontece de forma simultânea. As sonoridades escolhidas a dedo para dar esse passo vão desde o pop tropical de Pedrina – hoje, artista solo, mas conhecida por integrar a consagrada dupla colombiana Pedrina y Rio – até o metal consciente do grupo High Extinction Rate, banda pautada por questões ambientais desde a escolha do nome (Alta Taxa de Extinção, em uma tradução livre).

A relação de artistas com o meio ambiente, inclusive, é um dos critérios para a seleção de nomes para compor o projeto. Seja chamando atenção para causas por posicionamentos pessoais ou criativamente, por meio dos versos colocados no mundo na produção musical dos grupos, a conscientização sobre a natureza é fundamental para a organização. Além deste critério, um dos pilares da coletânea é a junção de nomes mais frescos das cenas musicais da capital colombiana com figuras já consolidadas na cultura da cidade e do país.

“A cena alternativa bogotana tem muitíssimas cores e o compilado do Bogotá Suena é importante porque percorre pelo trabalho de diferentes artistas de gêneros bem variados. Do rock, ao punk, ao pop, ao folk. Sinto que representa não só Bogotá, mas o que é a Colômbia cultural e musicalmente, toda nossa mescla de sonoridades”, diz Pedrina sobre a relevância da coletânea.

Além dos estilos musicais já destacados, a curadoria do “Bogotá Suena” ainda aposta na autenticidade do jazz contemporâneo do conjunto Suricato; no hip hop de Spektra de La Rima – um dos nomes mais tradicionais na cena do rap bogotano -; na World Music da banda Folkloreta, conhecida por conduzir um verdadeiro tour sonoro pela diversidade colombiana; entre outros nomes. “Trazer essa pluralidade pra cá é essencial. E, quem sabe, a gente não aproxima ainda mais essas relações com outros projetos no futuro?”, conclui Hernan.

Ouça Bogotá Suena Vol. 4

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