“A Boa Esposa”- Foto: Divulgação
Como proprietária de uma escola que ensina mulheres a serem boas esposas e donas de casa em “La Bonne Épouse” (“A Boa Esposa”), Juliette Binoche levou mais de 600 mil espectadores aos cinemas na França após a reabertura das salas de cinema em junho. A comédia, do diretor Martin Provost (César de melhor filme e roteiro original por “Séraphine”, “Le Ventre de Juliette”), chega ao Brasil como uma das atrações do Festival Varilux de Cinema Francês a partir do dia 19 de novembro nos cinemas de todo o País.
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No longa-metragem, Paulette Van Der Beck (Juliette) dirige com o marido a Escola Doméstica Van Der Beck, um local para jovens mulheres no qual irão aprender a serem boas esposas, a cumprir seus deveres matrimoniais e cuidarem do dia a dia como perfeitas donas de casa. Mas tudo muda de repente quando ela se vê viúva e falida. Ao mesmo tempo em que terá que assumir a escola sozinha, seu primeiro amor ressurge e ares de liberdade feminina começam a ser sentidos em maio de 1968. Paulette se vê em meio a uma grande questão: e se a boa esposa se tornasse uma mulher livre? No elenco, além de Juliette, estão também os atores Noémie Lvovski, Yolande Moreau, François Berléand e Edouard Baer. A distribuição é da California Filmes.
A emancipação feminina é um tema recorrente nas produções de Provost, que acredita que isso se deva à necessidade de se opor à imagem paterna para quem a dominação masculina era algo legítimo. Muitas de suas personagens femininas têm necessidade de liberdade e de emancipação. E ambientar a comédia nos anos de 1967/1968 foi uma forma de mostrar que o movimento de Maio de 68 acelerou o empoderamento das mulheres. O diretor conta que depois de 1970-1971 as escolas domésticas, comuns na França até esse período, desapareceram.
Como em grande parte do mundo, as mulheres francesas demoraram a conquistar direitos e independência. Em 1873 foi criada a primeira escola para donas de casa em Reims e a educação doméstica para meninas incluída em programa da escola primária em 1822. Na França, somente em 1944 elas conquistaram o direito ao voto. E só em 1965 puderam praticar uma profissão e abrir uma conta bancária sem a permissão do marido, que até então era considerado o chefe da família. Em 1970, acontece a primeira reunião do MLF (Movimento de Liberdade Feminina) na Universidade de Vincennes. Dois anos depois, em 1972, no julgamento de Bobigny, com enorme impacto, a advogada ativista Gisèle Halimi obtém a liberação de uma menor julgada por ter abortado após ser estuprada. A liberação do aborto aconteceu, em 1975, mesmo ano do estabelecimento de divórcio por consentimento mútuo. A mãe passou a ter direito de adicionar seu nome no sobrenome do filho apenas em 1984.
Em 1990 foi reconhecido que poderia haver estupro entre cônjuges e, dez anos depois, em 2000, a pílula do dia seguinte passou a estar disponível gratuitamente para menores nas farmácias. Em 2006 a idade legal para casamento de mulheres foi aumentada de 15 para 18. E, em 2017, o movimento #Metoo ecoou na França, após o caso Weinstein, quando as mulheres denunciaram serem vítimas de agressão ou de assédio sexual.
O Festival Varilux de Cinema Francês 2020
Um clássico e 18 longas-metragens inéditos e recentes (2019/2020) da cinematografia francesa integram a seleção do Festival Varilux 2020. Entre eles, um documentário e 18 longas de ficção com gêneros como comédia, drama e animação. Ainda não há um número definido de cidades e de cinemas participantes. Devido à pandemia do novo coronavírus, alguns cinemas terão a opção de programar o festival em datas diferentes – até o final de fevereiro de 2021. O importante, de acordo com a Bonfilm, produtora do evento, é que os filmes cheguem ao público em todo Brasil e contribuam para a retomada dos cinemas do País.