Foto: Divulgação
Um grupo que marcou a história das artes visuais no Brasil teve como dois de seus protagonistas o húngaro Kazmer Fejer e o austríaco Lothar Charoux. Os europeus, que chegaram ao Brasil no contexto pós-guerra e fizeram do País terreno fértil para suas produções, têm uma exposição dedicada na Galeria Berenice Arvani, a partir de 20 de outubro. “Diálogo Concreto”, com curadoria de João Spinelli, revela o concretismo e o cinetismo como parte do legado dos dois artistas. O diálogo entre Fejer e Charoux acontece no pioneirismo na op-art. Juntos, buscaram a síntese formal da arte e, posteriormente, convergiram esteticamente por intermédios de suas propostas ópticas que aparecem tanto na produção tridimensional, quanto na bidimensional.
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Pautados pelo construtivismo russo e pelas vanguardas históricas da primeira metade do século 20, inspiraram-se também nos princípios da Gestalt e da Escola Bauhaus – que serviram como substrato não apenas para a produção de Fejer e Charoux, mas também para o Brasil, que na época vivia uma fase de transformação. O objetivo estético do grupo de artistas era um só: encontrar uma linguagem capaz de integrar diferentes produções. “Eliminar a subjetividade, subtrair todos os elementos ornamentais, ressaltar não somente os procedimentos técnicos essenciais, reforçar o distanciamento de uma arte intimista e extinguir todos os traços de individualismo”, complementa o curador Spinelli.
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Juntos, foram selecionados para a 1ª Bienal de Arte de São Paulo (1951), em um movimento que rompeu definitivamente com o convencionalismo estético que imperava no Brasil da época. Ao lado de Luiz Sacilotto, Anatol Wladislaw, Waldemar Cordeiro, Leopold Haar e Geraldo de Barros organizaram-se em um grupo conhecido posteriormente como Ruptura – conjunto de artistas criado em 1952 que marcou o início do movimento de arte concreta em São Paulo. A mostra, que reúne ao todo 33 obras raríssimas, sendo sete de Fejer e 26 de Charoux, acontece como uma forma de evidenciar a ampla importância que tiveram na história da arte.
Pintor e escultor, o húngaro Fejer relacionou-se com jovens artistas da vanguarda francesa e, mais tarde, com a cena artística de Montevidéu, no Uruguai. Quando estabeleceu residência fixa no Brasil, passou por uma transformação estética que o encaminhou para uma pintura não figurativa, abstracionista e mais geometrizada. Mais adiante, teve o suporte substituído pela escultura em um novo pensamento sobre arte, desta vez, mais aliado à ciência. Com sete objetos cinéticos, que revelam um olhar muito à frente de seu tempo, Fejer tem seu legado apresentado por meio de sua produção da década de 1970 – quando se apropriou de um material inusitado, plexiglass, que protagoniza suas peças na mostra.
Charoux transferiu-se de Viena para o Brasil aos 16 anos e, mais tarde, iniciou na técnica de pintura pelo Liceu de Artes e Ofícios, tendo como mentor Waldemar da Costa. A princípio, ganhou espaço no expressionismo, até alcançar o abstracionismo para depois iniciar a fase de geometrização, que teve como ápice uma simplificação formal e colorística – característica que prevaleceu até o fim de sua vida e produção artística. Disciplinado e exigente com a técnica, Charoux não abria mão de exercícios e estudos preliminares antes de executar uma obra.
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“Sempre pesquisaram novas possibilidades formais lineares ou tridimensionais, investigações plásticas que tinham como marco a objetividade e a inteligibilidade, para eles só encontrada por meio da matemática e da geometria”, pontua Spinelli. Para o curador, o teor tecnicista, o uso de formas geométricas e a racionalidade em processos mecânicos não foram aceitos de imediato pela crítica, mas foram capazes de revolucionar a arte. “Décadas depois, o movimento Concretista é considerado um marco importante, pois junto da Semana de Arte Moderna de 1922, configura-se como um dos momentos transformadores das artes visuais brasileiras do século 20”, finaliza.
O diálogo concreto de Fejer e Charoux se iniciou durante os debates preparatórios para a formação do Grupo Ruptura. No entanto, esses dois participantes do movimento, com o passar do tempo, desenvolveram não apenas as propostas artísticas específicas do grupo. Foram além, ultrapassaram suas fronteiras. Defenderam outras e novas possibilidades expressivas. Procuraram a síntese formal da arte e, em um dado momento de seus inventivos projetos, suas obras se cruzam e dialogam esteticamente por intermédio de suas proposições ópticas que aparecem e se posicionam virtualmente nos tridimensionais de Fejer paralelamente aos bidimensionais de Charoux: magias estéticas.
“Diálogo Concreto“
Galeria Berenice Arvani
Rua Oscar Freire, 540, L. 5 – Cerqueira César, São Paulo.
Abertura: 20 de outubro, das 15h às 21h.
Período expositivo: 20 de outubro a 27 de novembro.
Segunda a sexta-feira, das 10h às 19h.