Foto: Divulgação
No dia 25 de outubro de 2020, será inaugurada no Jardim do Torel, em Lisboa, uma instalação de grande porte, criada pelo artista brasileiro Tulio Dek. É a primeira vez que um artista realiza um projeto dentro de um parque urbano público em Portugal.
Com uma imensa área verde, instalado em três patamares no alto de uma das sete colinas de Lisboa, o Jardim do Torel é um mirante, e permite uma vista privilegiada da cidade. Ao lado do elevador mais antigo da cidade, um de seus lagos foi transformado em “praia” no verão.
Rui Afonso Santos, curador do Museu Nacional de Arte Contemporânea, em Lisboa, afirma que “é muito importante a intervenção de Dek no Jardim do Torel, única no seu gênero, e, pela sua qualidade, é extremamente rara no panorama artístico português”. Ele salienta que “com preocupações ecologistas e humanistas deste cariz, nunca foram feitas em Portugal, intervenções nesta escala, e com esta natureza”.
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Dek fez uma intervenção nos três planos do parque, utilizando o percurso iniciado pelo alto. Ao longo da primeira área verde, o artista instalou 500 tocos de árvores decepadas, com altura entre 50 cm e 85 cm, e diâmetros variáveis de 20 cm a 50 cm. Os troncos, oriundos de bosques queimados, foram cedidos pelo governo de Portugal.
“Vejo os jovens mergulhados em mídias sociais, alienados, e quis levar para a dimensão do real um alerta para a importância da preservação do planeta”, conta o artista.
Nascido em Goiânia, Dek passou a infância em contato com as matas. “Os protestos são em sua maioria feitos pela internet, e acabam por ter um alcance efêmero. Ao caminhar por entre os troncos calcinados no Parque do Torel, as pessoas vão sentir, vão imaginar, o que é uma floresta devastada. Vão lidar com uma destruição real na sua frente”, diz. “Se não protegermos a natureza, vamos proteger quem? O que está acontecendo no mundo?”, indaga.
Continuando o percurso, que leva a um patamar abaixo na encosta, o público chegará a uma fonte, que irá jorrar uma água tingida de preto, em alusão a vazamentos de petróleo. Atrás da fonte, um grande luminoso azul anunciará a frase “I can’t stop these tears from falling” (“Não consigo impedir essas lágrimas de caírem”).
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Ali perto será instalada uma cabana de madeira, grafitada pelo artista, como um abrigo, um local de acolhimento, onde estarão sacos com sementes de nove árvores nativas de Portugal. O público poderá levar punhados dessas sementes para plantarem em outros locais. “É como uma volta, em que se pode devolver árvores ao país”, observa Dek.
Santos, curador do Museu Nacional de Arte Contemporânea, de Lisboa, escreve no texto que acompanha a exposição-intervenção que Dek, “artista contemporâneo multidisciplinar, pintor, escultor, performer e ativista, é autor de uma obra artística única e singular, diluindo os parâmetros entre alta e baixa cultura. A sua pintura, em contínua transformação, é fortemente gráfica e interventiva, e nela slogans eficazes e fundamentais de cariz sempre humanista coexistem com pictogramas simplificados, num mix distinto, de grande qualidade visual”.
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O curador observa ainda que “este contraste entre o natural e o edénico que o próprio jardim-miradouro do Torel recria e o artificial da atual e selvática cultura do consumo e do desperdício consciencializará os visitantes para a necessidade de adotar condutas responsáveis”.