Chadwick partiu e deixou um legado, até então, sem precedentes na história do cinema e principalmente para todos os negros do mundo! O nosso Pantera Negra foi o primeiro super-herói negro da história da Marvel. Seu país fictício tão sonhado se encontra na terra mãe, na África! É tecnológico, vibrante, apaixonante e cheio de personagens incríveis, todos negros.
SIGA O RG NO INSTAGRAM
Hoje, na minha coluna, falo sobre o poder e legado de Chadwick, a força do black money, o talento inquestionável de jovens negros no cinema, que chegam para somar e transformar este cenário, que aos poucos vem se abrindo.
A primeira vez que assisti ao filme Pantera Negra, senti um grande impacto e emoção, tamanha a força e o encantamento! Confesso que chorei! Eu, uma mulher adulta, esperei a vida toda por algo grandioso como Black Panther, e um novo herói surgiu levando “o respeito e as boas atitudes” além das telas.
Chadwick compreendeu de forma ampla e profunda o significado das suas ações! Crianças, que são o futuro do mundo, passaram a ter um super-herói para admirar em uma história que vai além dos estereótipos impostos. É algo sem precedentes e sim, é histórico!
Tudo o que se quer (mesmo com todas as imensas dificuldades e obstáculos), se pode alcançar, porque mesmo sendo Wakanda um país fictício, nosso grande herói é e será real para sempre. Esse pensamento também faz parte de seu discurso sensacional para os formandos da Howard, a universidade pela qual se formou. Nele, Chadwick fala sobre o poder do propósito, que quando se tem, nada nem ninguém pode mudar o melhor rumo das coisas.
Chadwick, marcante e singular protagonista, em outro discurso pós o maior sucesso da Marvel, fez uma referência a música de Nina Simone “To be Young, Gifted and Black”. Ele falou sobre como todos que estavam ali no palco com ele sabiam o que era ser jovem, talentoso e negro e ouvir de produtores e afins que não há papéis para pessoas “como eles”. Como muitos de nós.
Ele diz também que quando esse espaço se abre, as representações são dignas, a história e os papéis são bons, eles chegam longe e tem sucesso. Já sabiam que tinham algo extremamente bom nas mãos e deram seu melhor.
Chadwick tinha o seu propósito, escolheu seu caminho e escolheu a dedo os seus papéis, não aceitando aqueles já conhecidos por todo o público: o marginal, o traficante, o cara criado nas ruas sem os pais, o gueto, a violência.
Antes dele, Sidney Poitier, um ator também de grande nobreza e talento, na década de 60, em plena luta pelos direitos civis, também escolhia os seus papéis de forma que fossem o menos óbvios e estereotipados. Por sua destreza, recebeu o Oscar de melhor ator, por “Uma Voz nas Sombras” (1963), prêmio até então inédito para um artista negro.
Poitier ainda estrelou o filme policial “No Calor da Noite” (1967), que trata de forma explícita tensões raciais, e foi o primeiro protagonizado por um negro a levar o Oscar de Melhor Filme. Sidney Poitier também foi o protagonista de “Adivinha Quem Vem Para o Jantar” e “Ao Mestre com Carinho”, dois dos meus filmes preferidos. Sobre esse último, lembro que ainda pequena, aos 9 anos, mais ou menos, senti um prazer, uma alegria e um orgulho imensos ao ver aquele professor íntegro, elegante e especial que mudou o futuro dos seus alunos.
Mais de duas décadas antes de Poitier, a atriz Hattie McDaniel, foi a primeira pessoa de pele negra a levar a estatueta do Oscar, por “E o Vento Levou” (1939), filme que hoje é acusado de racismo, por tratar do período da guerra das Confederações. Na época, ela se sentou ao fundo, longe dos companheiros de trabalho, pois apenas brancos podiam entrar na cerimônia do Oscar.
Preciso falar aqui sobre dois diretores negros atuais que compõem um seleto lugar de destaque: Jordan Peele por “Corra“, e Ava DuVernay por “Moonlight“! Ava fechou um contrato de 100 milhões de dólares com a Warner Bros TV. Foi ela quem colocou um elenco totalmente negro pela primeira vez no palco do Oscar em 2017… já havia dirigido “Selma”, também indicado ao Oscar! É também a diretora do premiado documentário A “13ª Emenda” e da minissérie “Olhos que Condenam”.
Viola Davis, uma das atrizes mais respeitadas da atualidade, a primeira atriz negra a ganhar o Emmy pela sua atuação na série” How to Get Away With Murder”, fez o seguinte discurso na oportunidade: “A única coisa que separa as mulheres negras de qualquer outra pessoa é a oportunidade. Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem”.
Boseman teve a fama de ser difícil por anos, tornou-se professor de teatro porque tinha como finalidade ser roteirista e produtor. Para isso, foi viver perto de atores e também se tornou um para entender todos os lados da história.
Outra história interessante em como somar na vida de alguém investindo em seu talento é sobre o ícone que também amamos, Denzel Washington. O ator custeou o curso de Boseman em Oxford. A professora do futuro astro, pediu a um amigo que fizesse um financiamento anônimo. Os dois só se conheceram pessoalmente na estreia de Pantera Negra, em 2018.
Chadwick protagonizou e se destacou também em Marshall: “Igualdade e Justiça”, a história do primeiro juiz negro da Suprema Corte americana. “O filme 42 – A História de uma Lenda”, conta sobre Jackie Robinson, o primeiro negro a disputar a liga principal do esporte. “Destacamento Blood”, dirigido por Spike Lee, conta a história de quatro veteranos de guerra que voltam ao Vietnã em busca dos restos mortais do seu comandante, além de um tesouro escondido. Também esteve em “Get On Up – A História de James Brown”, o rei do funk, o padrinho do Soul!
“Black is King”, álbum visual já histórico da diva Beyoncé, também tem algo em comum com o grandioso Pantera Negra, dirigido por Ryan Coogler: a referência aos povos africanos em suas culturas, dança e movimento, tecnologias, roupas e cores, atraindo um novo olhar sobre o continente de forma positiva. A África na sua forma mais plena e bela!
Whoopi Goldberg pediu que a Disney construa o reino de Wakanda em um de seus parques temáticos em homenagem a Chadwick Boseman. Já imaginaram?! Chadwick fez com que crianças, adolescentes e adultos negros se sentissem orgulhosos por terem um super-herói tão poderoso, um rei, o rei de Wakanda!
E, por fim, além dos bons filmes, Chadwick lutou contra o racismo de forma explícita e deixou uma grande lição de força e luta extraordinárias contra a doença que o levou, o câncer de cólon. Lutou silenciosamente e no privado, participando de grandes produções durante esse período, superando de forma inimaginável (para nós) a si mesmo, nos deixando absolutamente perplexos sobre tudo e sobre a sua dolorosa partida, deixando assim, a sua marca como astro e sendo também na vida real, um super-herói!
O futuro é agora, o que já é, já está! Sigamos!
Wakanda forever! Chadwick forever!