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Vitor Rocha: “Eu vivi o sonho que todo ator tem de chegar ao cinema”

Vitor Rocha – Foto: Divulgação

Vitor Rocha é um ator, diretor e roteirista com muitas intenções de fazer arte em diferentes plataformas. Passando a quarentena em Minas Gerais, ele aproveita o tempo livre para estudar, como se estivesse literalmente na escola. Responsável principal pelo sucesso da peça “O Mágico di Ó”, Rocha trabalha outras frentes para transformar a bem-sucedida peça em filme, ao lado do diretor, roteirista e produtor Pedro Vasconcelos.

“O Mágico di Ó” é uma fábula sobre a cultura nordestina, onde retirantes do sertão partem a caminho de São Paulo, em busca de uma vida melhor, ao final da peça o diretor e o dramaturgo se encontram para falar sobre o novo projeto. ‘’Ele disse que via muito potencial na obra e perguntou o que eu achava sobre transformá-la em filme’’, diz Rocha. Pouco antes da quarentena, as gravações já tinham finalizado e Rocha afirma que todo o roteiro original foi mantido, na medida do possível e que está muito feliz com a homenagem.

“A coisa mais importante que o teatro me ensinou, foi que a história é nossa pedra mais preciosa e que não importa o que aconteça, precisamos protegê-la. Não só pelo caminho que a obra fez até chegar ao cinema, mas por todas as questões que o teatro brasileiro enfrenta, acho que a homenagem é mais do que justa, é importante’’, conta.

Esse projeto encorajou Rocha a explorar o audiovisual, ele se inspirou na quarentena para começar seu próprio filme: “Sobre Todas as Coisas”, uma obra colaborativa e feita 100% em casa. O longa tem o propósito de, quando tudo se normalizar, deixar registrado o olhar de diversas pessoas ao redor do mundo sobre tudo o que viram, sentiram e viveram durante a pandemia.

“‘Sobre Todas as Coisas’ é o retrato de um pouco do que foi e está sendo a quarentena. É um filme que estou dirigindo e roteirizando há um tempo, mas que resolvi unir às condições atuais numa ideia experimental de ir coletando registros feitos por vários artistas e compondo uma mesma história. É um processo bem vivo pensando que estou construindo o filme ao mesmo tempo em que estamos vivendo e sobrevivendo a tudo isso. Ainda é cedo para dizer como será veiculado, mas considero o streaming uma opção incrível”, diz o diretor.

Lei íntegra da entrevista a seguir:

1- Como você tem passado a quarentena, está sozinho?

A quarentena para mim tem sido um momento de muito trabalho e principalmente de muito estudo. Assim que tudo começou eu acabei retornando para Minas Gerais na casa dos meus pais e sigo aqui desde então (o que faz parecer ainda mais que a vida de estudante voltou, rs).

2- Como surgiu a ideia do musical “O Mágico Di Ó”? Foi um grande sucesso, você esperava isso?

A história de o “Mágico” é bem longa, mas para tentar resumir: ela começa em 2014 aqui em Minas num projeto extracurricular que eu fazia na minha escola desde os 14 anos. Anos depois, já morando em São Paulo, eu comentei da vontade que tinha de revisitar esse sonho e a Luiza Porto, minha parceira de trabalho – e intérprete da Doroteia – aceitou a empreitada. Nenhum de nós imaginou a proporção que o projeto tomaria, para ser sincero. Acho que essa despretensão acabou tornando tudo muito mais especial no fim.

3- Como acontece a transição da peça para o filme?

Foi a partir convite do diretor e produtor Pedro Vasconcelos. Apesar de revolucionária para o projeto, essa transição se deu ao mesmo tempo de uma forma muito sutil. O filme conta com o mesmo elenco, boa parte da equipe original, com os mesmos figurinos e concepção, ou seja, mudanças chegam só para somar. Foi um desejo do Pedro que tentássemos manter o máximo do espetáculo no filme, nas palavras dele essa transposição é também uma homenagem ao teatro brasileiro.

4- Em que momento entra o Pedro Vasconcelos na sua vida?

Vários trabalhos do Pedro como diretor marcaram a minha vida, destaque para “Hoje É Dia de Maria”, um oásis na minha infância que inclusive foi pauta da conversa quando nos conhecemos de verdade, pessoalmente, na porta do teatro João Caetano em São Paulo após uma sessão de “O Mágico Di Ó”. Nos conhecemos na mesma conversa em que ele propôs outro oásis, agora na vida adulta, levar um texto meu para o cinema.

5- Você diz que a transposição do roteiro teatral para a tela foi, sem trocadilhos, mágica!” Por quê?

Porque foi uma jornada repleta de generosidade, respeito e admiração por todas as partes. Eu vivi o sonho que todo ator tem de chegar ao cinema sem passar por qualquer uma daquelas coisas ruins pelas quais esse meio também é conhecido. O Pedro e toda a equipe da Boa Ideia Entretenimento tornaram o ambiente dessa estreia, para nós do elenco, de fato mágica. Quase inacreditável.

6- “O Mágico di Ó” é uma fábula sobre a cultura nordestina, onde retirantes do sertão partem a caminho de São Paulo, em busca de uma vida melhor. Como foi transformar isso em filme?

Eu acredito que a grande diferença do espetáculo para o filme é o cenário. Na peça a gente fazia o possível para levar aos espectadores como é aquele lugar, no filme o sertão simplesmente está lá, o que nos permite mostrar outras camadas da história com mais tranquilidade. Para mim a mensagem da história só ganhou força com a transposição para o cinema.

7- Onde foi filmado? Quantas pessoas participaram da produção?

As filmagens aconteceram em Cabaceiras, na Paraíba, a cidade conhecida como a “Róliude Nordestina”, por já ter servido de cenário a inúmeros filmes e séries – entre eles inclusive “O Auto da Compadecida”. Para um filme podemos dizer que a equipe era bem reduzida e contava com profissionais essenciais apenas, uma vez que o projeto é uma produção independente da Boa Ideia, mas para nós do teatro aquele era um número bem grande de pessoas envolvidas, rs.

8- Qual seu papel nessa nova versão cinematográfica do trabalho?

Eu assino o roteiro do filme – o texto e as letras – e assim como na peça também interpreto o personagem Osvaldo.

9- “O longa tem o propósito de, quando tudo se normalizar, deixar registrado o olhar de diversas pessoas ao redor do mundo sobre tudo o que viram, sentiram e viveram durante a pandemia.” Como você vê essa transição dos palcos para o audiovisual?

É algo que eu sempre almejei, mas sempre pensei – ao mesmo tempo – que tardaria a acontecer. Estou muito feliz em estar começando projetos nessa área, tudo ainda é muito novo e muito fresco pra mim. Desafiador e empolgante.

10- Que outros projetos você está tocando?

Além do “Sobre Todas as Coisas” e de uma pequena participação na pós-produção de “O Magico Di Ó”, eu tenho dividido meu tempo entre algumas outras dramaturgias.

11- Em que pé está “Se Essa Lua Fosse Minha”, apenas esperando a pandemia passar?

Ainda é difícil dizer em que pé está tudo. Ainda não sabemos se será o caso de simplesmente voltar em cartaz assim que isso tudo passar, mas sigo com um grande desejo de que assim seja.

12- Você tem algum plano de fazer apresentações no esquema drive-in? Como vê essa plataforma de apresentação como possibilidade?

Por enquanto, embora tenham surgidos algumas especulações, ainda não está nos meus planos levar um dos meus espetáculos para esse esquema, mas por questões de logística interna apenas. Acho lindo ver os artistas inventando maneiras de continuar sua missão. O drive-in me parece uma saída segura (se tomadas todas as medidas sanitárias) e me inspira ver as pessoas marcando presença.

13- E o filme “Sobre Todas as Coisas”, fale sobre ele. Você é o diretor, certo? Do que se trata? Você pretende veiculá-lo via streaming?

“Sobre Todas as Coisas” é o retrato de um pouco do que foi e está sendo a quarentena. É um filme que estou dirigindo e roteirizando há um tempo, mas que resolvi unir às condições atuais numa ideia experimental de ir coletando registros feitos por vários artistas e compondo uma mesma história. É um processo bem vivo pensando que estou construindo o filme ao mesmo tempo em que estamos vivendo e sobrevivendo a tudo isso. Ainda é cedo para dizer como será veiculado, mas considero o streaming uma opção incrível.

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