Foto: Dêssa Pires
Ele tem cara e cabelo de anjinho, até já teve um personagem com esse apelido, quando fez par com Félix, representado por Mateus Solano, na novela “Amor à Vida”, da Rede Globo. Tem jeito de gente boa, bom caráter, acaba de ter o segundo filho [Martin] e encara suas profissões, de ator e músico, com afinco e dedicação. Esse é Thiago Fragoso, o loiro de cabelos cacheados e olhos claros que dá voz a tantos personagens na TV, no cinema e no teatro.
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Fragoso é do tipo de cara que é uma delícia ter um papo. Gosta de falar e de escrever. Tanto que, assim que possível, ele lança dois EPs com músicas inéditas, quase todas dele. Pai dedicado, ele tem ajudado sua mulher, Mariana Vaz, com os cuidados do recém-nascido. “Tem sido intenso, estamos falando de uma maternidade/paternidade da vida real, com dores de pós-parto, a Mari dessa vez sentiu mais dores da cesárea e no começo mal conseguia pegar o Martin no colo, então eu ficava mais nessa função de pegar ele, trocar todas as fraldas, botar para dormir, botar o peito, trocar de peito, dar banho, trocar de roupinha, botar para arrotar… rsrs.”
Ele também tem um pensamento muito definido a respeito de como a arte e a cultura vêm passando seus dias. Ator nato e amante da vida artística, ele lamenta como o setor tem sido tratado. “Acho triste porque tem uma tentativa de colocar a gente contra um segmento da sociedade, e não faz o menor sentido porque o nosso trabalho é totalmente voltado para o público, o artista antes de tudo ama o público, a gente vive para falar para todo mundo, nosso ofício é esse.”
Mesmo com tantos afazeres, filhos [ele também é pai de Benjamin], suas composições, trabalho em andamento na TV e no cinema, e uma pandemia atingindo o mundo, Fragoso disponibilizou um tempo para uma longa entrevista com o Site RG, feita por email. Leia a seguir a íntegra desse papo.
Foto: Dêssa Pires
Faça um resumo de como começou sua carreira de ator, foi ainda quando criança, certo?
Comecei ainda criança. Na verdade, já tinha mostrado interesse em fazer todas as atividades de encenação na escola e as professoras sugeriram para os meus pais que me colocassem num cursinho de teatro. Acabei entrando no coral antes do teatro. Minha primeira vez no palco foi aos oito anos, era um especial para o Dia do Folclore, e depois disso eu nunca mais parei, fui emendando uma coisa na outra de forma muito natural.
Como você tem passado a quarentena e com recém-nascido?
Nossa, ter um filho em meio à pandemia é punk. Vem com medo, ansiedade. Foram dias de muito receio no começo, e não desejo isso pra ninguém. Não podíamos ter nenhuma visita no hospital, então tivemos que deixar o Ben [Benjamin, outro filho do casal] na casa do meu empresário e amigo, e ele acabou ficando mais tempo do que o previsto porque a filha desse meu amigo estava com suspeita de Covid-19, então ele não podia voltar para casa. Tivemos que administrar essa situação sem assustar o Benjamin ainda na primeira semana do Martin. Os pais ficam sobrecarregados naturalmente, é muito comum contar com as avós, tias, babá nessa início e não tivemos nada disso. O lado positivo foi que vivemos intensamente a chegada do Martin, estávamos 100% focados nele, sem distrações ou compromissos.
Como tem sido o dia a dia com Martin e Benjamin em casa, o que vocês fazem juntos?
Tem sido intenso, estamos falando de uma maternidade/paternidade da vida real, com dores de pós-parto, a Mari dessa vez sentiu mais dores da cesárea e no começo mal conseguia pegar o Martin no colo, então eu ficava mais nessa função de pegar ele, trocar todas as fraldas, botar para dormir, botar o peito, trocar de peito, dar banho, trocar de roupinha, botar para arrotar… rsrs
A sorte é que eu amo um neném. Me assumo como pai vocacionado, mesmo, mas tem uma hora que a gente fica maluco porque fica o tempo repetindo as mesmas ações, não sai de casa, não vê ninguém diferente, tem uma hora que dá uma panicada…. rsrs. Isso tudo numa convivência muito intensa… Mas acho que se o relacionamento é saudável fica tudo mais leve, a gente ri muito, lida com as coisas com humor, fazemos uma série de coisas para aliviar essa pressão… Para o Ben é difícil porque esse tempo tem sido mais dedicado ao Martin, claro que idealmente a gente divide o tempo com o recém-nascido mais com a mãe por conta da amamentação, o bebe mama o tempo todo no comecinho, e o filho mais velho ficaria mais com o pai, mas como a Mari teve muita dor, acabamos não conseguindo dividir… Mas o Benjamin tem dado um show de maturidade, tá sendo muito bonzinho e entende que neste momento temos que nos dedicar mais ao Martin. A gente tenta ajudar nas aulas online o que tem sido algo novo pra ele e ele não curte. Ficamos a tarde toda com um ouvido na aula online e o outro nos outros afazeres. Esse momento tem sido difícil para as crianças. Ficar em casa sem ver os amigos, estudar online… É raro encontrar uma criança que tenha essa responsabilidade e autonomia. Fora isso sempre fazemos atividades em família, assistimos documentários sobre ciências, sobre a Terra, ele curte assistir Tik Tok comigo, jogar joguinhos de tabuleiro… Assim, vamos tentando aliviar o estresse desse momento mesmo enclausurados.
Como você tem cuidado do corpo nesses tempos de pandemia?
Tenho feito uma dieta equilibrada, mas isso recentemente. Eu estava num pique de malhar, treinar, correr, fazer treino funcional, musculação, até a pandemia começar. No início, até conseguia fazer alguns treinos a distância, mas com a chegada do Martin ficou mais difícil. Fiquei umas duas semanas sem nem pensar em me exercitar, até porque as primeiras semanas você não dorme nada. Eu ganho peso com facilidade e como logo mais volto a gravar, entrei numa dieta bem focada. Espero que semana que vem consiga voltar a treinar um pouco.
Como tem feito suas compras, você sai ou compra tudo online?
Tudo online, a Mariana acaba ficando mais à frente disso porque ela entende tudo de compras online. A parte ruim é que é mais caro, seria mais em conta ir ao supermercado, mas com o Martin e o Ben procuramos evitar saídas.
Conte como fez a preparação de seu personagem Alan, de “Salve-se Quem Puder”, da Rede Globo
Eu sempre falo que eu não tenho um método específico de preparação, não utilizo uma abordagem fechada, eu gosto muito de usar minha intuição e adaptar o meu método à equipe com quem vou trabalhar. Nessa novela das 7, por exemplo, fui juntando todas as referências, desde o gênero comédia, características do personagem, profissão, entender como posso contribuir com o personagem a partir das minhas vivências… Ouço o diretor que vai dirigir a novela, que desta vez é o Fred Mayrink, com quem eu já trabalhei bastante, desde Malhação, a gente funciona super bem juntos. Também me conecto com a atriz com quem vou contracenar, procuro entender como ela funciona, seu temperamento, tempo de comédia… Por último, ainda participo das atividades que são propostas pela produção da novela como dinâmicas com as crianças que fazem meus filhos etc.… e juntando tudo isso surgiu o Alan.
Você, quase sempre faz mocinhos nas novelas, gostaria de fazer um terrível vilão?
Gostaria de fazer um vilão, sim. O vilão te dá muita liberdade. Acho um grande desafio fazer mocinho porque você precisa cortar um triplicado ali para ele não ficar flat e parecido com outros mocinhos, já que os mocinhos geralmente estão associados ao trilho da novela, que é a história principal… Você tem que manter aquele conflito até o final da história e, por isso, é comum as pessoas acharem que a história dos mocinhos fica repetitiva. Os outros personagens não têm esse compromisso com o trilho da novela, então, como você faz para que o personagem fique interessante a novela inteira e ainda mantenha a essência da trama do começo ao fim? Eu adoro fazer isso, curto muito esse desafio, mas gostaria de fazer outro vilão. Fiz um em “Malhação – Pro Dia Nascer Feliz” e outro em “Agora é que são elas”, que era um sujeito mau para caramba, mas já tem um tempo. Eu me divirto muito fazendo vilão! Tenho vontade, tenho muitas referências e ideias de como seria esse vilão, então acho que em algum momento ele vai rolar.
Você vai estrear um pastor no cinema, conte sobre isso, fale sobre seu papel e sobre o filme. Para quando deve ser a estreia?
Ainda não tenho muita coisa para falar do filme porque a pandemia deixou tudo em modo espera, a intenção é que o filme estivesse rodando vários festivais pelo mundo. É um longa da Anita da Silveira, então está sendo muito esperado, mas não temos data ainda. Adorei fazer o filme, eu faço um pastor de uma igreja moderna, eu nem sabia que existia esse segmento e que era tão grande assim, fiquei impressionado com a criatividade, conhecia mais o protestantismo convencional e até fui a muitas igrejas evangélicas quando morei no Alabama, lá eles são bem fervorosos e acabei conhecendo os costumes, as pregações… Tudo muito diferente do que é retratado no filme. O roteiro tem uma onda meio “Virgens Suicidas”, da Sofia Coppola, estou bem ansioso para ver o resultado.
Foto: Dêssa Pires
E música. Sabemos de seus talentos musicais, embora tenham vindo à tona para o grande público no programa “PopStar”. Como começa o Thiago músico?
De vez em quando surgem essas oportunidades de mostrar meu lado musical para o grande público, lembro que a primeira vez foi no “O Clone” (Rede Globo), a Gloria Perez foi muito generosa de colocar a minha banda da época na novela. O “Popstar” foi o grande responsável por reacender essa chama de amor pela música, que não estava apagada, mas não estava trabalhando ativamente, e depois do programa resolvi me dedicar mais música e trabalhar no meu disco. Lancei o single “Recomeço”, no final de 2019, que está disponível em todas as plataformas digitais, e já tenho mais de 10 músicas prontas para lançar, com composições minhas, mas devido à pandemia ficou tudo parado. Meu contato com a música veio antes do meu contato com o teatro. Antes de fazer teatro eu já cantava num coral e fazia aulas de musicalização desde uns 6 anos. O legal é que eu nunca perdi o contato com a música. Já gravei canções pra trilhas de filmes e séries (“High School Musical 2”, “Dalva” e Herivelto”, “Um Show de Verão”, “Xuxa e os Duendes 2”), já fiz alguns musicais, nos EUA onde fiz intercâmbio eu participei de uma espécie de Glee Club onde a gente se apresentava a capela, cantei até o hino nacional americano antes de jogo de futebol americano. Enquanto não lanço as próximas canções, eu aproveito as redes sociais, tenho soltado aos poucos as músicas que cantei no Rock in Rio e também algumas músicas que tenho feito à capela com a banda Voice In e com outras bandas também. Sou bem eclético, curto cantar, estou muito feliz de poder trabalhar mais com a música e quero viajar e fazer shows, cantar é algo que me dá muito prazer e alegria.
Como foi a experiência de se apresentar no Rock in Rio, e ainda ser convidado a fazer outras apresentações no festival?
Foi uma coisa incrível. Foi uma sinergia total, fui convidado pela Marisa Menezes pra fazer o show no Rock District, no Rock in Rio, no momento em que estava gravando meu disco, então foi meio junto. Uma dessas coisas que o universo conspira a favor. E foi fantástico fazer esse show, estava lotadaço, sempre fui fã do festival e poder estar no palco foi uma energia fantástica, e fiz amizade com outras bandas e com isso fui fazendo outras participações com a Voice In, Rollando Stones, uma galera… Fiquei feliz porque de certa forma é uma aprovação do seu trabalho quando as pessoas te convidam pra cantar junto. Foi só alegria, foi um momento muito especial na minha vida e que pretendo repetir.
Fale de “Recomeço”, sua música de estreia. Li que você a compôs em cinco minutos. De onde vem sua inspiração?
É uma música que pede pela paz, pelo amor, por um lugar que a gente não seja tão dominado por dinheiro, pela violência, pelos privilégios, um lugar onde a gente possa amar e ser amado sem julgamento, sem preconceito… O refrão fala isso, pede por uma unidade das pessoas, da humanidade em si, um momento que as pessoas possam dar as mãos. Não deixa de ser uma letra utópica. Realmente compus muito rápido, a música tem disso, algumas vêm rápido. Tem letra que tenho há dez anos e que não tem melodia, “Recomeço” veio tudo junto. Eu compus essa música num momento onde você está num grupo de amigos e o clima tá péssimo, todo mundo brigando, saca? Aí eu me ausentei por alguns minutos, compus a música, voltei e cantei para galera e a discussão acabou. Rsrs. É uma canção que tem essa mensagem de um futuro mais afetuoso e mais amoroso pra todos.
Foto: Dêssa Pires
Quais são os próximos passos na música? Pretende lançar um EP? Vai compor todas as músicas ou pretende parcerias?
Sim, tem dois EPs prontos para lançar, que agora estamos estudando o melhor momento para fazer em função da pandemia. São 11 músicas no total, oito minhas, uma canção do Caetano e duas do meu irmão Rodrigo.
Pretende fazer shows?
Sim, com certeza. Assim que for possível, a ideia é fazer shows.
Pensou em fazer lives cantando nesses tempos de pandemia? Porque isso seria uma ótima forma de aproveitarmos mais o seu talento como músico. Se não, por quê?
Então, os fãs adoram, mas vou confessar que eu tenho vergonha de fazer live sozinho. Mas isso não inviabiliza, vou fazer, sim, quando der.
Se tivesse que escolher entre a carreira de ator ou de músico, com qual ficaria?
Ainda bem que não tenho que escolher, né, rs. Mas são duas coisas muito diferentes na minha vida, tudo que consegui foi por meio da minha carreira de ator, e a parte de cantor é algo que sempre esteve junto, mas não era minha carreira principal. Agora vou reforçar mais esse lado da música. Mas eu nunca vou deixar de ser ator nem cantor, vou levar sempre as duas coisas.
Foto: Dêssa Pires
Como você vê a atual situação da cultura, quando temos um governo que não apoia a arte?
Eu acho que a gente vive uma política de desumanização. Por exemplo, a gente vive uma cruzada contra o pensamento científico, o que é estranhíssimo, um descrédito da vacina, da ciência, da astronomia, uma coisa assustadora. Hoje em dia muita gente acredita que a Terra é plana, é muito estranho, e não tem nada a ver com atrito com religião porque a religião tem seu lugar e a ciência tem seu lugar, elas podem conviver numa boa, o que está acontecendo é muito esquisito. E junto com tudo isso a gente tem uma desumanização dos artistas, uma simplificação exagerada como se todo artista fosse extremista de esquerda, como se não tivéssemos cérebros pensantes, como se não fizéssemos julgamentos e avaliações cada um a sua maneira. Obviamente, somos um grupo, mas um grupo extremamente heterogêneo. Essa desumanização é horrível, perdermos grandes ícones da cultura nos últimos dois anos como o Domingos de Oliveira, por exemplo, e não tivemos nenhuma menção do governo federal com relação a isso. É de se esperar, quando morre um grande cientista, um grande político, jornalista, enfim, qualquer pessoa que contribua bastante com o País, é feito esse tipo de menção, e grandes artistas têm sido ignorados. Acho triste porque tem uma tentativa de colocar a gente contra um segmento da sociedade, e não faz o menor sentido porque o nosso trabalho é totalmente voltado para o público, o artista antes de tudo ama o público, a gente vive para falar para todo mundo, nosso ofício é esse. Espero que isso possa diminuir porque não faz sentido gerar esse atrito com nossos artistas, acho engraçado e até preconceituoso porque não existe isso com os artistas de Hollywood, é como se eles pudessem ser artistas e nós, no Brasil, não. Acho que é mais uma maneira de desvalorizar nossa própria cultura e País, e acho isso inadmissível.
Créditos
Fotos: Dêssa Pires.
Beleza: Yago Maia.
Styling: Paulo Zelenka.