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Por Marcos Tenório
Que nós estamos na era da informação imagino que todos perceberam, mas nós nunca imaginamos que um dia dependeríamos apenas da internet para tudo. É isso que tem acontecido durante esses tempos de pandemia, atividades como a velha “sair para jantar”, os “encontros entre amigos e familiares” e até os “estudos” tiveram que se readaptar à realidade.
A educação a distância não é novidade no mundo, mas cabe aqui diferenciá-la do ensino remoto. Enquanto a primeira tem metodologia própria, pensada na realização de atividades e de construção do conhecimento, a segunda é uma adaptação da sala de aula, que mudou de um lugar concreto para o virtual, sem uma metodologia diferente.
As escolas e universidades não imaginavam que passaríamos por um período de confinamento tão grande e tiveram que se adaptar com as possibilidades que tinham em mãos. Algumas, que já ofertam educação a distância conseguiram ferramentas mais apropriadas, mas outras delas usaram até lives no Instagram e no Youtube para isso.
O ensino remoto simplesmente aconteceu, ninguém estava preparado, nem os professores, que precisaram se adaptar às formas diferentes de ensinar e criar novas atividades e viram suas casas serem invadidas com uma nova rotina de horários e de cuidados com espaços.
A carga de trabalho em home office para professores e coordenadores também foi uma reclamação constante. A falta de um simbólico fim de expediente, por vezes deixava os professores sobrecarregados de demandas e reuniões, além das aulas que já eram bem desgastantes.
Há vários casos de professores que foram atrapalhados por filhos e animais domésticos durante as aulas, afinal a rotina do trabalho invadiu as casas e não o contrário, e as crianças não entendem bem como funciona isso, muito menos os pets.
Os estudantes também tiveram suas vidas completamente mudadas com essa nova dinâmica. Ao invés de irem às escolas e faculdades, tiveram suas casas invadidas por aulas que tentavam suprir uma necessidade emergencial, além da falta da convivência em grupo e com os amigos.
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Em uma geração que nasceu conectada, imaginamos que não haveria dificuldade em adaptação da nova realidade virtual. Estávamos enganados! Os estudantes, antes conectados o tempo inteiro, agora têm dificuldade em concentrar-se e em motivar-se para assistir às aulas e desenvolver os trabalhos solicitados.
Pais também tiveram dificuldades e se sentiram sobrecarregados com a quantidade de atividades que teriam que orientar em casa e, muitas vezes, os filhos mais jovens sequer prestavam atenção às aulas com tantos estímulos externos.
Mas por que isso aconteceu? Alguns especialistas dizem que os estudantes sentem falta das relações construídas nas escolas e universidades e que isso era o motor motivacional deles. Além disso, durante a aula, eles estavam imersos em um ambiente controlado e focado. O contrário de suas próprias casas, repletas de interrupções.
Em alguns casos, o artefato utilizado para assistir às aulas era o único disponível na casa e, quando havia mais de um estudante ou essa ferramenta era utilizada por outra pessoa da residência para trabalho, as coisas ficavam ainda mais complicadas.
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Além disso, a educação remota exige maturidade e foco, além de automotivação. Isso é bem raro em crianças e adolescentes, principalmente em um processo que não houve adaptação. O artefato que simbolizava a diversão, tornou-se ferramenta de estudo e essa ressignificação não é tão simples de acontecer.
Não bastasse isso, a internet começou a passar por problemas de estabilidade constantes, mundialmente, ao ponto que provedores de streaming, como a Netflix, decidiram diminuir a qualidade dos vídeos para não piorar a situação. Com mais gente conectada em casa, mais internet era usada e isso virou um gargalo na nossa, já lenta, internet.
Segundo a Anatel, o consumo de dados aumentou em cerca de 50% durante esse período, é como se tivéssemos uma estrada simples de asfalto e o tráfego crescesse 50% de uma hora pra outra. Ou seja: tudo engarrafado. Com isso, o número de reclamações em serviços de proteção ao consumidor dispararam e o número de pessoas que trocaram de provedor aumentou bastante também.
Ainda não enxergamos uma luz nesse túnel, pois, mesmo com medidas de reabertura, as aulas presenciais ainda não são pensadas como possíveis de liberação, em salas que muitas vezes comportam mais de cem alunos. Isso seria um enorme vetor de contaminação, que faria explodir ainda mais o número de infectados no país.
Não sei se ainda teremos um semestre completo sem aulas presenciais, mas pelo menos até setembro, poucas instituições irão se arriscar a mudar a atual situação, para não serem responsabilizadas. Sem falar que, com o retorno, sem uma vacina ou remédio realmente eficaz, vai ser necessário pensar uma nova distribuição de salas de aula e a criação de uma rotina de um novo normal, que passa longe da normalidade.
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Por outro lado, esse período remoto serviu de experiência para descobrir novas possibilidades para as escolas e universidades no País, que sempre foram resistentes à digitalização. Em um período onde quem não se conectou, sumiu, muito aprendizado aconteceu de todos os lados e muita atualização profissional também.
Marcos Tenório é designer, sócio da Kalulu Design&Comunicação, mestre em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco e Professor na Unifig.