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Dupla Débora Falabella e Gustavo Vaz finaliza websérie e já pensa em novos projetos

Foto: Divulgação

Eles são uma dupla, mas também um casal. Prestes a completarem uma ano juntos, Débora Falabella e Gustavo Vaz são do tipo que não se entregam apenas ao ócio, mas se aproveitam dele para aguçar a criatividade. Juntos, na mesma casa, eles finalizam os dois últimos episódios da websérie “Se Eu Estivesse Aí” (@seeuestivesseai), que vão ao ar nas redes sociais nesta segunda-feira (06.07). Durante a pandemia do coronavírus, se entregaram a um projeto pessoal que deu muito certo, e que, ao final desta primeira temporada, há a possibilidade de vir uma segunda parte.

Em entrevista ao site RG eles contaram como estão passando a quarentena unidos, sobre como fizeram a websérie e falaram sobre planos futuros, além das tão merecidas férias que pretendem tirar agora. Leia a seguir o papo que RG teve com o casal via Zoom.

Foto: Divulgação

Como vocês têm passado a quarentena? Ao menos estão juntos na mesma casa…

Débora – Sim, estamos juntos e trabalhando bastante. E acho que é importante para passarmos por isso. Estamos nos ocupando criativamente e nos expressando artisticamente.

Vaz – Acho que o trabalho nos ajuda a nos relacionarmos com tudo isso de uma outra forma, e transformar em algo. De alguma forma o trabalho tem nos mantido com os pés no chão.

Débora – Muita gente pergunta como tem sido pelo fato de estarmos trabalhando. Como estamos nos ocupando desse trabalho [da websérie], realmente modifica até o ambiente que a gente está, porque estamos dentro de casa. Eu acho que isso para a gente foi muito bom, porque seria muito difícil passar por isso sem termos esse lugar em comum e esse sonho compartilhado.

Foto: Divulgação

Como surgiu a ideia desse projeto de vocês, da websérie?

Vaz – Primeiramente, acho que nos vimos preocupados com tudo isso o que está acontecendo, sem perspectivas de dia seguinte, de semanas seguintes. Eu tenho uma companhia de pesquisa artística chamada ExCompanhia de Teatro, que existe há oito anos, e temos uma trabalho sobre imersão como obra artística e sobre mistura de linguagens. Eu já trabalhava com áudio 3D, e estávamos eu e Débora aqui. Pensei que seria difícil fazer um trabalho a distância com muita gente, e seria legal ter um trabalho só de nós dois. Já havia uma vontade de fazermos algo ligado a vídeo, a audiovisual, e eu sabia do áudio 3D como ferramenta de encontro. Então como estamos falando neste momento de dificuldade de encontro, as coisas foram acontecendo naturalmente. Fizemos um piloto para testar essa perspectiva de primeira pessoa que também ajuda nesse movimento de imersão, e acho que o legal é que traz essa sensação de deslocamento, de entrar na casa das pessoas. Tem até um quê de obra teatral, embora seja audiovisual. Tem muito a ver com o trabalho da companhia, que é às vezes pisar no teatro, no cinema, internet, instalação.

Foto: Divulgação

Como vocês têm sentido a receptividade das pessoas?

Débora – Eu acho que quando fazemos um trabalho que a gente buscou e recebe esse retorno, para nós é muito importante, que eles falam dessa sensação de encontro, de não estar sozinho, de ser um trabalho acolhedor, porque é como se a gente estivesse dentro da casa das pessoas, e ao mesmo tempo essa pessoa também viaja e vai para o corpo do personagem. Fazer um trabalho que toque nessa parte sensorial, em um momento em que estamos tão distantes, é superimportante.

Vaz – Talvez a coisa que mais chame a atenção no projeto seja o formato, a história mesmo que está sendo vivida pelos personagens. Então, um retorno que tem vindo muito das pessoas são palavras como “estou encantado”, “como é bonito”. Porque há um encontro poético com a obra, de beleza, de aconchego que eu acho que está acontecendo muito.

Foto: Divulgação

Mas de realidade também, não? 

Débora – Sim. Porque fica essa sensação de ser íntimo, e acaba sendo íntimo porque a gente está fazendo dentro de casa. Acho que a própria relação com o trabalho muda e isso é sentido também.

Vaz – E essa estrutura de dramaturgia da série de passar 95% do tempo dentro do personagem, e no final você tem um movimento de ver de fora. Acho que tem uma coisa voyeur, de estar quase que no mesmo cômodo da pessoa, como se estivesse olhando para ela pelo buraco da fechadura.

Débora – Agora a gente já acabou de gravar, mas fomos experimentando, fizemos um piloto e fomos tendo intimidade com o formato. É claro que a gente adoraria ter uma equipe inteira trabalhando junto, porque nós temos o maior trabalho do mundo, mas é muito interessante percorrer todos esses lugares que envolvem uma produção.

Foto: Divulgação

Vocês fizeram tudo juntos, mas houve uma divisão de tarefas?

Débora – Tem uma divisão que é muito clara porque eu não edito, só o Gustavo edita. Eu participo da edição como uma criadora, porque eu opino. E os textos também partem dele

Vaz – Tem muita coisa que parte de mim, mas sem a Débora seria impossível fazer esse trabalho. E tem muita coisa fundamental, de soluções mesmo de texto, ou de formato de cena que vieram dela. Agora nós estamos terminando de fazer o áudio dos últimos episódios, que foram muito criados em conjunto. Muita coisa que eu não conseguia resolver a Débora trazia, e vice-versa. Mas tem uma coisa que eu preciso sempre salientar que é a participação do Gabriel Espinosa, que é um músico que está comigo na companhia há muitos anos e fez a trilha sonora, que eu acho belíssima. Ele faz uma supervisão a distância do trabalho.

E como surgiu a ideia de colocar o público no lugar do outro?

Vaz – Isso vem muito do trabalho que nós fazemos na companhia. Sempre me interessou muito colocar o público como ativo, não só como quem recebe informação, mas como público que vivencia a experiência. Eu posso te falar de como é viajar para uma cidade, mas é diferente você ir para essa cidade, a sua experiência sobre aquilo é profundamente diferente.

Débora – Como o áudio 3D já é algo imersivo, a gente também foi descobrindo como fazer. No piloto a gente colocava um celular na cabeça, preso a um boné, depois a gente foi se aperfeiçoando um pouquinho mais. E há uma simplicidade nesse sentido no trabalho, porque nós não somos fotógrafos, às vezes a gente não entendia muito do lugar, da luz, fomos batendo cabeça para que no final tivesse um resultado bonito.

Foto: Divulgação

E vocês chegam a sentir a presença do outro?

Débora – Então, tem tantas maneiras de gravar, que cada episódio a gente fez meio que de um jeito. Tem hora que a gente tem que gravar separado, tem hora que a gente precisa estar junto, aí tem que casar o áudio com o vídeo.

Vaz – Normalmente a gente está junto. Mesmo que não valham as duas coisas ao mesmo tempo, imagem e som.

Débora – Mas essa coisa do áudio é engraçada. Fazendo o trabalho, às vezes eu vou escutar um take e ouço o barulho de uma porta batendo no episódio e penso: quem chegou? Então por mais que a gente esteja dentro do trabalho, às vezes nos espanta.

Por que dez episódios e cinco temas (solidão, raiva, saudade, medo e esperança, solidão, raiva, saudade, medo e esperança)? E vocês pretendem dar continuidade à obra? 

Débora – Primeiro que são episódios sempre em dupla, o ideal é que as pessoas assistam o um e o dois, o três e o quatro, e assim por diante, porque fala de cada personagem com uma pergunta e uma resposta. E os temas surgiram assim um pouco para guiar a gente.

Vaz – Quando eu comecei a escrever, eu olhei para um movimento que eu não acho que é negativo, que é o processo de luto coletivo, do que era para o que vai ser. E o luto, normalmente, tem cinco estágios, da raiva, da que a pessoa não aceita, não se conforma e tal, e aí essa ideia do cinco ficou um pouco na minha cabeça. E como os episódios se conversavam, acabaram ficando dez. E sobre futuro da série, a dramaturgia tem uma construção que quando a gente chegar no final, se olharmos para trás, tem muita coisa que foi sendo jogada desde o primeiro episódio para construir o final, que fica meio em aberto. Mesmo porque a gente gosta dessa ideia de não responder a tudo, que o público tire suas próprias conclusões, mas também deixar aberta a possibilidade dessa história continuar, porque não necessariamente ela está conectada com pandemia e isolamento, ela fala de amor, da importância do outro, de encontro, fala sobre a vida, e desse olhar do que vai ser a própria vida a partir de agora.

Débora – Seria lindo sair de casa e fazer esse projeto na rua, na cidade, ouvindo o barulho da natureza, vendo outras pessoas, seria muito legal.

Foto: Divulgação

Qual episódio foi o mais difícil de gravar? 

Vaz – Todos, eu acho, porque cada um tinha uma dificuldade específica.

Débora – É porque tem episódios com dificuldade de serem gravados, e os que têm dificuldade de ser editado. E a gente foi ficando melhor, a gente ensaiava mais, fomos arrumando o esquema de trabalho. Talvez o segundo que a gente gravou tenha dado um pouco mais de trabalho, porque nós gravamos o áudio separado da imagem, então tinha que casar a imagem com o som já gravado. E acho que o da briga, não é que ele foi difícil, mas foi uma aventura, porque o Gustavo tinha que cair no chão com aquela câmera, cheio de equipamento, com uma mochila nas costas. E os últimos, porque eles são diferentes dos anteriores.

Vaz – Tinha uma coisa de a gente se desafiar, tipo “o que a gente não consegue fazer?”. Nos capítulos sete e oito, a Débora deu a ideia da banheira, e surgiu a ideia de no final ela mergulhar, afundar na água, mas como a gente ia fazer com o áudio? Não podia molhar o equipamento. Tivemos que achar saídas criativas para resolver a questão.  Os dois últimos têm uma sincronicidade muito grande entre eles, então a dificuldade acho que foi essa, porque são planos sequência, há todo um malabarismo para ficar tudo no mesmo plano de luz, de som, de ambiência.

Débora – Fora o fato de você estar gravando em um ambiente que você não em controle. Tem [o barulho do] carro entrando na garagem, criança no prédio do lado gritando, alguém martelando uma parede. Como é muito ligado a áudio e o áudio é muito sensível, a gente foi assumindo. Tem uma bebê aqui do prédio do lado que eu acho que ela está em quase todos os episódios (risos).

Vaz – As nossas obras sempre invadem a realidade, e a realidade sempre invade o nosso trabalho. A cidade participa um pouco da dramaturgia sonora.

E como foi a montagem, vocês têm todo o equipamento em casa? 

Vaz – Sim. Eu já tinha o equipamento da companhia, e nós compramos uma coisa ou outra para poder fazer.

Débora – E é assim, não é que seja um equipamento simples, mas ele é compacto. Você imagina que a gente tem que realizar o trabalho do ator e ainda filmar e gravar o áudio ao mesmo tempo. E esse equipamento ele está na gente o tempo todo.Vaz – Também usamos celular. Mas tem uma coisa que é assim, existe uma liberdade criativa de poder experimentar, de testar um celular, uma câmera, sem o compromisso do acerto, que acaba saindo coisas muito legais, no final das contas.

E depois desse trabalho, virá uma nova websérie?

Débora – A gente tem vontade. É isso que o Gustavo falou, que o final desta abre possibilidades para uma segunda temporada. Mas a gente tem projetos de outras coisas juntos. Não sabemos exatamente quando voltaremos a trabalhar como antigamente. Então a gente vai pensando nessas soluções criativas, que é muito interessante porque também nos desafia. Nunca pensei que fosse trabalhar tanto durante [a pandemia]. Tem um outro projeto que é o “Cara Palavra”, que faço com outras três atrizes [Andreia Horta, Bianca Comparato e Mariana Ximenes], que é um projeto de textos que a gente lê e edita. E fiz uma apresentação de teatro no Sesc, que até o Gustavo participou e foi muito uma experiência muito louca, porque o palco vira a sua casa. E a gente tem essa vantagem de trabalhar junto, então vamos continuar desenvolvendo. Mas agora vamos tirar umas feriazinhas, para dar uma respirada.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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