Cultura

Conectividade, orgulho e representatividade

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Foto: Autor desconhecido

Por Marcos Tenório

Em Nova York, em um bar chamado Stonewall Inn, um grupo de gays e lésbicas estavam reunidos para celebrar a vida quando um grupo de policiais  invadiu o local e, de forma agressiva, reprimiu o grupo com o argumento de “Conduta Imoral”. Isso aconteceu em 28 de junho de 1969, mas não difere muito da realidade atual de alguns lugares no Brasil e no mundo.

A partir desse episódio, o grupo que foi atacado e alguns simpatizantes uniram-se para protestar contra a agressividade da polícia e pedir por RESPEITO. Iniciou-se, assim, a tradição de celebrar o mês do orgulho no mundo inteiro em junho com manifestações e paradas LGBTQIA+

Essa sigla que agrega Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgêneros e Transexuais, Queers, Intersexuais, Assexuais e mais, não tem limites e pode crescer sempre, tem a função de buscar agregar mais pessoas, mostrar mais diversidade, o quanto somos únicos e, ao mesmo tempo, diversos como as cores do arco-íris usado na bandeira já tão conhecida por todos.

Foto: Pixabay

Em uma cultura tão paternalista quanto a brasileira, a luta por direitos ganha uma força maior. O país que mais mata homossexuais no mundo tem um histórico triste e opressor que persiste por conta dos grupos conservadores que se julgam no direito de interferir na afetividade e na sexualidade das pessoas.

A internet, desde a década de 2000, começou a ganhar as residências das pessoas e os grupos começaram a se sentir aceitos, deixaram de se esconder em guetos e ganharam as redes sociais, por mais que sejam atacados gratuitamente por pessoas que não as aceitam.

Quando a internet surgiu, pessoas que estavam em locais distantes e isolados conseguiam ver que, sim, havia um mundo a ser explorado e que elas não estavam sozinhas, que há no mundo outras pessoas com sentimentos, gostos e comportamentos parecidos com os delas e isso começou a fazer a dor e o isolamento delas ser um pouco menor.

Foto: Pixabay

A rede mundial tem feito um papel muito importante para a comunidade LGBTQIA+, possibilitando espaço de fala para grupos considerados minorias (nunca concordei com essa palavra, afinal agrupar Pobres, Homossexuais, Negros e Mulheres já caracteriza a maioria da população), além de possibilitar um conhecimento mais amplo das possibilidades, dos direitos e saber de outras pessoas que passam pelos mesmos desafios.

Grupos de representatividade começaram a ganhar o mundo e serem conhecidos por pessoas que não se sentiam parte de um todo, o Grupo Gay da Bahia, existente desde 1980, na capital baiana começou a ganhar protagonismo no Brasil com a criação do seu site e a atuação constante nas redes sociais em busca de reconhecimento de direitos igualitários para homossexuais.

Mais recentemente, vários sites ganharam o mundo e tratam de assuntos relativos ao público LGBTQIA+, sejam aspectos culturais como música, moda e audiovisual, até questões relativas à defesa e conquista de direitos e divulgação de notícias que antes não tinham espaço em uma mídia tradicional que, devemos reconhecer, tem mudado.

As redes sociais assumem papel importante na denúncia de abusos e de problemas sempre recorrentes à comunidade, além de um espaço para discussão compartilhamento e relacionamento. Tudo isso traz a sensação de pertencimento para quem, há algum tempo se sentia estranho e fora do contexto da sociedade e da família.

Essa pressão das redes tem trazido resultados muito positivos, mesmo sendo ignorados por alguns governantes e pelo congresso, que reflete toda a carga preconceituosa de nossa sociedade. A criminalização da homofobia, foi uma conquista recente da comunidade, que sempre sofreu muito com desrespeito e agressões em todos as esferas públicas e privadas, mesmo que saibamos que isso demora um tempo a ser respeitado, é um marco para a militância.

Foi graças ao movimento tão forte nas redes sociais que o direito ao casamento e adoção de filhos fossem permitidos no Brasil, pela via do STF é verdade, mas foi uma conquista. Questões carregadas de discriminação como a proibição de doação de sangue por pessoas declaradamente homossexuais e com vida sexual ativa, também caíram graças às pressões da internet. 

Todos os dias vemos pessoas públicas sendo responsabilizadas por atitudes e declarações preconceituosas e precisando reconhecer seus erros publicamente por terem ferido algum grupo, tudo isso graças à internet.

Este ano, pela primeira vez a Parada SP, a maior do mundo, não saiu às ruas por conta da COVID-19, mas foi representada virtualmente por diversos influenciadores e artistas em um dia inteiro pela internet, transmitida a partir das casas de cada um. Algo impossível de imaginar há duas décadas.

Foto: Pixabay

Em 51 anos muita coisa mudou para a comunidade, ainda há um longo caminho a ser percorrido, muitos direitos ainda a conquistar e muita repressão a combater. Mas uma coisa é certa: a tecnologia trouxe um novo fôlego para a discussão e uma maior abertura para as pessoas buscarem ser elas mesmas. Ao invés de se esconderem em padrões comportamentais exigidos por uma sociedade machista, paternalista e que mata por motivos banais.

Os direitos estão sendo conquistados, graças ao ativismo virtual ou ao ativismo real, mas podemos perceber que o apoio recebido graças à notoriedade trazida pelas redes sociais vem ajudando bastante na conquista dessas pequenas evoluções. O que a comunidade LGBTQIA+ (e outras letras que forem sendo acrescentadas no futuro) quer é: o direito de ser RESPEITADA e de ser IGUAL.

Marcos Tenório é Designer, Sócio da Kalulu Design&Comunicação, mestre em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco e Professor na UNIFG.

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