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“Quem está fazendo isso aí, vai se queimar”, diz integrante do Chemical Surf sobre festas na quarentena

Foto: Divulgação

“Quem está fazendo isso aí, vai se queimar, com certeza”. É assim que Hugo Sanches, do duo de eletrônico Chemical Surf, finaliza sua fala sobre festas clandestinas durante a pandemia do coronavírus, que derrubou todo o calendário (oficial) de festas e festivais por todo o Brasil.

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Faturando por volta de R$ 100 mil por show – ao menos os que estavam planejados para os meses de quarentena, os irmãos Hugo e Lucas Sanches conquistam cada vez mais espaço e sucesso com o Chemical Surf no cenário musical eletrônico do Brasil e do mundo.

Na última sexta-feira (19.06), a dupla que nasceu no interior do Paraná, na cidade de Maringá, e tem mais de 17 anos de carreira (sendo 10 deles no “anonimato” do interior do País) lançou a nova “Pow Pow Pow” ao lado do DJ Kaskade.

Em entrevista ao RG, Hugo Sanches – o mais novo dos irmãos – conta que a ‘track’ foi feita pela primeira vez em 2017, mas que, agora na quarentena, eles trabalharam em cima de uma parte instrumental nova e convidaram o norte-americano. “Mandamos para ele e, de cara, ele curtiu. Deu alguns palpites ali e o resultado ficou bem interessante”, completa.

Se você acha que eles vão parar por aí, saiba que você está muito enganado. Além desta faixa, Chemical Surf tem mais duas colaborações com artistas internacionais para serem lançadas em breve: uma com Steve Aoki e outra com Afrojack. “São músicas de pista, então, não vemos porquê lançar agora”, explica o integrante, contando que chegarão ao público mais pra frente.

Veja o papo na íntegra com Hugo Sanches do duo brasileiro de música eletrônica Chemical Surf.

RG – Como vocês estão neste período todo de quarentena?

Chemical Surf – Estamos todos bem aqui em casa. Aproveitando para curtir a minha filha, que tem apenas 2 aninhos de idade. Por esse lado, foi bom ficar distante dos shows, mas a saudade está grande, da rotina e da proximidade das pessoas. Como temos tido bastante tempo livre no estúdio, temos feito muita coisa nova que vem por aí.

RG – Vocês estão morando onde agora?

CS – Eu e Lucas moramos em Balneário Camburiú, mas a gente está revezando a quarentena na nossa casa de praia na Praia do Rosa. Agora, nesta semana, ele está lá e eu voltei pra Balneário. Ele que está ficando mais lá. O nosso estúdio é aqui em Camburiú, mas a gente leva alguns equipamentos para a casa de praia e improvisamos um estúdio lá também para produzirmos.

RG – Todos da família de vocês estão bem? Alguém acabou “coronando” ou algo do tipo?

CS – Não, não. Graças a Deus, não. Tivemos um tio que teve algumas suspeitas, ficou bem mal. Chegou a ter falta de ar, mas nem chegou a comprovar se era ou não Covid, mas ficou bem.

RG – E vocês estavam em um ritmo de shows bastante acelerado antes de começar a quarentena?

CS – Estávamos bem frenéticos, tava bastante corrido sim. Pelo menos, uns 12 shows por mês pra mais e estavam rolando vários shows na gringa, pelo menos 1 por semana. Fomos para o México, Colômbia, para a França. Nos últimos meses, estavam bem corridos em questão de viagem.

RG – Agora vamos falar de música propriamente dito. Como é que é o seu processo criativo pessoal e como é com o Lucas?

CS – Antes da situação de quarentena, a gente ficava no estúdio, por baixo, umas oito horas por dia fazendo som, produzindo. As ideias saem bastante ali, naqueles momentos juntos. Mas eu não abro mão de levar meu computador para casa comigo e fazer coisas em casa, principalmente de madrugada que não tem mensagens chegando, não tem nada. Eu amo produzir e ter ideias este horário. Mas, no fundo, cada música flui de um jeito, tem sua história.

RG – Você sempre trabalhou com música eletrônica ou chegou a se aventurar em outro estilo musical?

CS – Quando eu era criança, me lembro que fiz aulas de violão por bastante tempo, mas não caminhou para frente porque, desde muito novo, a gente já se interessou por música eletrônica. Comecei a tocar muito novo, eu tinha 14 para 15 anos. Começamos na música eletrônica e estou até hoje.

Foto: Divulgação

RG – Legal! E vocês chegou a continuar os estudos, fez faculdade?

CS – Como eu estava no colégio, eu nem pensei. Terminei os estudos e fui direto pra carreira. Não fiz faculdade, nem nada. Resolvi arriscar. Quando a gente estava começando a carreira, o Lucas estava cursando odontologia. Ele parou no terceiro semestre.

RG – E você lembra como você se sentiu quando você viu que a dupla estava dando certo, que você conseguiria viver disso? Como ficou sua cabeça?

CS – Começamos em 2003 a tocar juntos. Faz 17 anos já. Então, os 10 primeiros anos foram bem complicados. A gente tocava mais na nossa região mesmo: Paraná, interior de São Paulo, Porto Alegre. Era uma carreira bem estável. No fim de 2009, a gente parou um pouco com o projeto Chemical. Entre 2009 e 2012, fizemos um outro projeto musical que acabou não dando certo e, em 2013, voltamos com o Chemical e foi daí para frente que tudo começou a dar bem certo. Foi a partir daí que começamos a viver de música.

RG – E eu tava vendo algumas matérias sobre vocês e uma do ano passado menciona que você cobram até 100 mil reais em um único show. É verdade isso? O cachê de vocês já está neste patamar?

CS – Já está sim. Nos vários shows que tivemos que cancelar por conta do coronavírus, nosso cachê já estava chegando neste valor. A gente nem se envolve muito nesta parte. É a nossa agência [Entourage] que cuida desta parte financeira mesmo. Preferimos nos preocupar com música, repertório e eles fazem essa parte.

RG – Vocês não tem um contrato fixo com uma gravadora brasileira ou internacional, né? Vocês – assim como muitos outros nomes da música eletrônica – lançam músicas por diferentes gravadoras ao redor do mundo. Como é isso? É um esquema bom?

CS – Sim, nós achamos bem bom. Não temos um contrato fixo com nenhuma porque isso, às vezes, pode atrapalhar em lançamentos futuros. A Spinnin’ Records, de fora, chegou a nos oferecer um contrato de exclusividade recentemente mas negamos por entender que não era o momento. Lançamos a música sexta-feira com eles, mas lançaremos outras com a gravadora do Martin Garrix, do Steve Aoki. Estamos felizes desta forma desta forma, lançando por vários selos diferentes.

RG – Nesta sexta-feira vocês lançaram “Pow Pow Pow”, com o Kaskade. Como rolou essa parceria? Você lembra?

CS – Essa música os vocais são meus. A primeira versão dela eu gravei em 2017, mas não ficamos convencidos 100% com o instrumental que tínhamos feito para ela na época e acabamos nem lançando a faixa. Agora, na quarentena, com tempo de sobra, pegamos ela de novo, fizemos um drop novo, modernizamos e, como o Kaskade estava tocando umas músicas nossas em uns set lives dele, a gente foi agradecer por isso e ofereceremos a colab. Mandamos para ele e, de cara, ele curtiu. Deu alguns palpites ali e o resultado ficou bem interessante.

RG – E vocês tem novas parcerias musicais vindo por aí? Com quem mais vocês vão lançar músicas?

CS – Temos mais músicas prontas sim. Vamos lançar uma track com o Steve Aoki. Ele está querendo lançar mais perto do período que as festas puderem acontecer de novo. Os vocais são de um cantor africano. Também temos uma colab pronta com o Afrojack e também estamos esperando para lançar mais perto das festas. São músicas de pista, então, não vemos porquê lançar agora.

RG – E me conta uma coisa. Nesta época de pandemia, vários lugares estão sendo denunciados com festas clandestinas, uma galera aglomerada sabendo que não pode. Vocês chegaram a ser convidados para tocar em alguma?

CS – Convidados nós não fomos, mas vi que realmente estão rolando muitas. Temos um grupo com alguns artistas e a gente conversa bastante sobre isso. Todo mundo fala – pelo menos os artistas que trabalham sério – para não se envolver nesse tipo de coisa. É mais a ‘molecada’ que não se preocupa com a carreira. Quem está fazendo isso aí, vai se queimar, com certeza.

RG – Concordo muito. Continuando falando de festas, aqui em São Paulo, existe um movimento musical de funk chamado “funk rave”, que provavelmente você deva conhecer, que mistura música eletrônica e funk em remixes, e estourou muito nos últimos dois anos. Inclusive, tem duas músicas de vocês que ficaram bem famosas por conta deste movimento: a “Hey Hey Hey” e “I Wanna Do”. Como vocês enxergam essas releituras?

CS – É importante demais isso. Achamos muito bom. Tudo é divulgação para o nosso trabalho. Quando mais a música circular, melhor para nós. Isso também mostra que acharam que tinha algo especial na track. A gente só não acha legal quando a pessoa vai e imita um sample nosso. Isso é zero profissional, não curtimos. Mas remixes são incríveis.

Chemical Surf no show no Rock In Rio 2019. (Foto: Divulgação)

RG – E vocês já fizeram tantos shows, né? Você consegue elencar um Top 3 melhores shows da carreira de vocês até aqui?

CS – Sem dúvida nenhum, o show no Lollapalooza 2017 é um deles. Foi muito especial. Todos os três Lolla’s (2015, 2017 e 2019) que tocamos foi muito especial. Sensacionais, mas o de 2017 foi surreal. O show no Rock In Rio 2019 foi inesquecível também, até porque levei minha filha de menos de dois anos na época. Foi a primeira vez que ela viu a gente no palco. Nossa família inteira estava lá. E algo que também foi muito marcante foi nossa primeira turnê na Europa, tocamos em Berlim e Paris. Era um sonho. Foi demais.

RG – E como é trabalhar com seu irmão? Quais são as melhores coisas disso?

CS – Eu acho que ajudou muito nós sermos irmãos para que a parceria esteja sendo tão duradoura. São 17 anos de carreira, sendo 10 deles em um “anonimato”, digamos assim. Podíamos ter desistido e ido cada um para um lado, mas o fato de sermos irmão ajudou bastante. Quando teve um desentendimento, dá 10 minutos e já estamos agitando como se nada tivesse acontecido. É uma sociedade, né? É bem complicado, mas por sermos irmãos isso ajuda muito.

RG – Deixe uma mensagem para os fãs de Chemical Surf neste finalzinho de quarentena.

CS – Eu queria que estamos com muita saudade desta energia que a gente sentia nas festas, nas pistas e podem esperar um Chemical Surf renovado, quando voltarmos, com um repertório novo, um visual novo, mas a mesma energia de sempre. Logo, logo estaremos juntos. Se cuidem.

Ouça “Pow Pow Pow”, a nova música de Chemical Surf com Kaskade, lançada na sexta-feira (19.06)

 

 

 

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