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Kanye West aos 43 anos: como o artista reinventou o hip-hop e chegou na era gospel

Show de Kanye West no segundo fim de semana do Coachella, em 2019. (Kent Nishimura / Los Angeles Times via Getty Images)

Por Isabela Santos

Nesta segunda-feira (08.06), o rapper e empreendedor Kanye West completa 43 anos. Ele foi de produtor de rappers desconhecidos a um dos maiores artistas da atual geração e músico mais bem pago de 2020, faturando US$ 170 milhões (aproximadamente, R$ 840 milhões), segundo a Forbes.

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Relembramos aqui os momentos que definiram a carreira do nativo de Chicago (até hoje), que reinventou o hip-hop, criou uma marca que vale milhões e chegou na era gospel (dizendo que nunca mais sairá dela).

 

Ainda bem que eu não sou descolado demais para usar cinto de segurança

Até 2002, Kanye era apenas um produtor na indústria do hip-hop, mas sonhava em ser um rapper. Filho de uma professora universitária, usava camisas polo e não tinha a imagem de ‘gangster’ que era esperada destes artitas na época e, por isso, foi negado por várias gravadoras. Depois de muita insistência, acabou assinando com a Roc-A-Fella Records.

Quando tudo parecia que ia dar certo, Kanye dormiu no volante, sofrendo um grave acidente. Salvo pelo cinto de segurança, ele quebrou as duas pernas e teve a mandíbula fechada por fios de metal. Apenas duas semanas após o acidente, ainda com os fios na boca, gravou uma de suas músicas mais famosas: “Through the Wire” (Através do Fio). A canção está no seu álbum de estreia, “The College Dropout” (2004). Com 10 indicações ao Grammy, a obra mudou o rumo do rap para além de versos sobre dinheiro. Kanye explorou temas como religião e família e mudou a imagem do que deveria ser um rapper.

 

Colocando nossos sonhos para fora (e nossas opiniões também)

No mesmo ano, West seguiu os passos de Jay-Z e fundou sua própria gravadora, a GOOD Music, um acrônimo de Getting Out Our Dreams. No segundo álbum, “Late Registration” (2005), a música “Gold Digger” ficou 10 semanas no topo da Billboard 100 e é o maior sucesso comercial do rapper até hoje. Kanye convidou uma orquestra formada apenas por mulheres para tocar versões sinfônicas de suas canções, e assim nasceu seu primeiro e único álbum ao vivo, “Late Orchestration” (2006).

Foi nessa época que ele começou a ser conhecido como um artista controverso. Em meio à tragédia causada pelo furacão Katrina, durante uma participação na TV a fim de arrecadar recursos para as vítimas, West declarou ao vivo que o então presidente dos EUA, George Bush, não se importava com pessoas negras. Pouco tempo depois, ele posou para a capa de uma revista com uma coroa de espinhos na cabeça.

 

Bem-vindo ao coração partido

Vendo seu estilo ser copiado por outros artistas, Kanye começou a buscar um novo som. Veio o terceiro álbum, “Graduation” (2007), que mais uma vez apresentou um novo modo de fazer hip-hop incorporando elementos de música eletrônica. Vendendo muito mais que o disco de 50 Cent, lançado no mesmo dia, marcou o fim definitivo do domínio do gangsta rap.

Apesar do sucesso profissional, a vida pessoal do rapper mudou completamente com a morte de sua mãe, Donda West, e o fim do seu relacionamento com a então namorada, Alexis. Em busca de expressar sua tristeza, o músico gravou em apenas três semanas o seu quarto álbum, “808s & Heartbreak” (2008).

Quase sem nenhum palavrão e com muito auto-tune, o disco era diferente de tudo que ele já havia feito e de tudo que estava sendo feito no rap em geral. O 808s introduziu a figura do rapper melancólico, influenciando diretamente artistas como Drake. No ano seguinte, ainda abalado profundamente pela morte da mãe, Kanye se envolveu na maior controvérsia de sua carreira, até então, interrompendo o discurso de Taylor Swift no VMA daquele ano.

West interrompeu o discurso de Taylor Swift , depois dela ganhar o prêmio máximo da noite, alegando que a estatueta era de Beyoncé. (Foto: Reprodução)

Eu vivo no futuro então o presente é o meu passado

O incidente do VMA o transformou em sua figura em uma das mais odiadas do mundo da música. Essa imagem perdura até hoje, mas West renasceu com o maior álbum da carreira, “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” (2010). Desta vez, o tema eram os excessos da fama e o ego.

Aclamada pela crítica, a obra frequenta não só as listas de melhores álbuns de rap ou da década, mas da história da música em geral. Foi seguida por “Yeezus” (2013), álbum experimental e minimalista, no qual West abraça completamente seu ego e se autoproclama um Deus. Yeezus teve uma recepção não tão boa na época, mas hoje é visto como a frente de seu tempo. Mais uma vez, Kanye empurrou o hip-hop para uma nova direção. Deu um breve adeus aos dias de tristeza casando com Kim Kardashian e tendo sua primeira filha, North West.

Kanye West ao lado de sua esposa Kim Kardashian, nas ruas de Nova York. (Foto: Getty Images)

A vida de Pablo (qual delas?)

Perfeccionista, Kanye é conhecido por mudar datas de lançamento e nomes de álbum constantemente. Seu sétimo disco, “The Life of Pablo” (2016), chegou a ser lançado e, poucos dias depois, relançado com uma nova mixagem e masterização, obrigando críticos a refazerem seus textos. A faixa mais controversa, “Famous”, tem um clipe com estátuas de cera de várias celebridades nuas dividindo a mesma cama, entre elas Donald Trump e Taylor Swift, revivendo a rixa de West com a cantora. Taylor ficou possessa com o teor da música e do vídeo, o qual chamou de “revenge porn”. Depois do assalto a mão armada sofrido por sua esposa Kim em Paris, Kanye começou a se comportar novamente de maneira preocupante, cancelou o resto da turnê Saint Pablo e foi internado para tratar seu transtorno bipolar. Depois deste caos em sua vida pessoal, Kanye ficou fora dos holofotes por quase um ano.

 

Ye vs. O mundo

Quando resolveu voltar ao Twitter, em 2018, chocou o mundo ao declarar apoio ao presidente dos EUA, Donald Trump, a quem chamou de irmão e chegou a usar publicamente o famigerado boné vermelho “Make America Great Again”. Achou na música uma maneira de se justificar, soltando a faixa “Ye vs. The People”, na qual discute os motivos pelos quais declarou apoio à Trump com o rapper T.I..

Fora isso, na mesma época, West lançou cinco álbuns quase que de uma única vez. Segue o fio: seu oitavo trabalho solo chamado “Ye” (2018); um álbum colaborativo com o rapper Kid Cudi chamado “Kids See Ghosts”; e mais três outros com artistas diferentes assinando como produtor.

Como sempre faz, anunciou e adiou várias datas de lançamento de seu trabalho seguinte, o “Yandhi”, que deveria ter sido seu nono álbum de estúdio, mas nunca chegou a ver a luz do dia. Toda essa fase musical de Kanye fortaleceu cada vez mais a influência dele no mundo da moda com sua própria marca, Yeezy. 

Kanye West aparece com o boné “Make America Great Again”, símbolo da campanha de Trump, no programa Saturday Night Live. (Foto: Reprodução)

Todo mundo queria o Yandhi, mas Jesus Cristo lavou a roupa suja

Enquanto isso, Kanye passava por uma renovação pessoal. Começou a promover cultos musicais aos domingos com o coral The Samples, o que deu o nome de “Sunday Service”. O projeto virou o álbum de música gospel, “Jesus Is King” (2019). O Sunday Service entrou em turnê nos EUA com shows gratuitos e fez uma performance memorável no Coachella de 2019.

Quanto à política, Kanye usou de sua proximidade com Trump para tirar da cadeia Alice Johnson, uma mulher negra que recebeu uma sentença injusta. Segundo o rapper GLC, West lhe deu todos os bonés ‘trumpistas’ que tinha, dizendo que só os usou para tirar pessoas da cadeia e que nunca mais voltaria a usá-los. 

Kanye West invente muito em moda e tem uma das mais marcas street mais famosas hoje em dia, a Yeezy. (Photo by Timothy Norris/Getty Images for Coachella)

 

Considerado pela revista Forbes o músico mais bem pago de 2020, doou 2 milhões de dólares para famílias negras vítimas da brutalidade policial e compareceu a um protesto do movimento Black Lives Matter, em Chicago, na semana passada.

Aos 43 anos, após deixar uma marca inegável no hip-hop, ele só canta versões cristãs de suas canções antigas e diz que não pretende voltar a fazer música secular nunca mais. Se tratando de Kanye West, talvez ainda mude de ideia.

Kanye West participou de manifestações do movimento Black Lives Matter em Chicago, depois da morte brutal de George Floyd.(Armando L. Sanchez/Chicago Tribune/Tribune News Service via Getty Images)

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