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Fotógrafo lança livro digital com imagens de Salvador durante isolamento

Foto: João Régis/Arquivo pessoal

Em meio ao isolamento social, decretado para conter a disseminação do novo coronavírus, ainda há espaço para criações culturais adaptadas ao contexto atual. É nesse cenário que o fotógrafo João Régis, de 23 anos, lançou seu primeiro livro digital apenas com imagens de Salvador, na Bahia, durante a quarentena.

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O fotolivro, intitulado “Contenções”, retrata a ausência de movimento em avenidas, praças e praias da capital baiana, antes cheias de moradores e turistas.

De acordo com o artista, o projeto foi elaborado em poucos dias; as fotos foram tiradas em março e é independente e colaborativo, com outras pessoas responsáveis pelos textos que aparecem ao longo do livro.

“Eu sempre gostei de fotografar ruas. Comecei a fotografar urbano em viagens, mas me sentia inseguro para fotografar em Salvador. Quando me vi em quarentena, pensei que a rua tinha muito o que falar. Sem pessoas, o que as placas diriam? Quem são os novos personagens das ruas, sem as pessoas que andam nelas normalmente? Fiquei interessado, curioso. Continuei com a insegurança de precisar quebrar a quarentena para registrar esse momento. Tomei coragem e fui”, conta João em entrevista ao G1.

Nas fotografias, é possível encontrar vários pontos turísticos de Salvador capturados, assim como as vias que dão acesso à Universidade Federal da Bahia (UFBA) e as ruas, que, apenas duas semanas antes, recebiam o Carnaval. Todas vazias.

Mesmo assim, esses pontos não foram tão impactantes para João Régis como encontrar a Avenida Sete de Setembro sem o movimento constante que sempre ocorreu. Para ele, o local estava irreconhecível sem a trilha sonora dos carros ao fundo, que já era parte do local.

“Me impactou muito a Avenida Sete. Todo mundo, até o texto de Amanda Quaresma no fotolivro – autora de um dos textos da obra –, comenta sobre o som da Avenida Sete. As pessoas, o barulho, todo mundo gritando. Você não tem mais esse som. É incrível. Dá para ouvir os pássaros, coisa rara de acontecer. Fiquei bem impactado de ver a via sem carros. Estava tranquilo para andar por ali. Tem fotos que nem entraram, mas são pessoas sozinhas andando na Avenida Sete”, afirma.

Para se proteger e diminuir as chances de contágio, o artista conta que preferiu ir sozinho de carro fazer as fotos. “Eu fiquei menos preocupado por conseguir sair de carro. Antes de sair, eu adotei algumas precauções: não podia sair andando, a cidade está muito vazia e perigosa em alguns lugares. Não tinha como sair andando pela cidade. Saí sozinho, não estava com ninguém. Usei álcool em gel, não mantive contato com ninguém”, explicou.

Ainda há o desejo de continuar com o projeto com outros recortes do isolamento social e com outras situações provocadas pelo período, para que, no futuro, seja possível juntar todas as versões e lançar o fotolivro de forma impressa.

“Minha ideia é continuar a fazer esse projeto. Como percebi que era o aniversário de Salvador, lancei o fotolivro e recebi o incentivo de continuar. Fiz a primeira versão. A ideia é manter em constância, continuar fazendo o projeto. Talvez, na próxima semana, seja um projeto mais direcionado a outro aspecto do isolamento. Talvez as pessoas mais em casa. Outras situações. A ideia é registrar esse momento inédito”, concluiu.

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