Nesta sexta-feira (15.05), o Instituto Bardi / Casa de Vidro comemora 30 anos . Na data oficial do registro da instituição, tem início um programa de conversas online com profissionais que fazem parte de sua história. Ainda como parte das comemorações da data, um novo website, a ser lançado em breve, deve ampliar os conteúdos e interfaces do atual, de modo intuitivo e rápido.
Para enfrentar o desafio imposto pelo isolamento social, desde abril, o Instituto Bardi marca presença nas redes sociais com novo formato e conteúdos mais abrangentes e abordagens inéditas, apresentando aspectos da trajetória do casal Bardi pouco conhecidos do público.
Ao completar 30 de existência, o Instituto Bardi / Casa de Vidro comemora um intenso trabalho no sentido de manter vivo e relevante o legado de Lina Bo Bardi e Pietro Maria Bardi para a cultura brasileira.
A nova gestão de Giuseppe d’Anna na presidência do Conselho de Administração do Instituto, eleito em setembro de 2019, busca aprimorar o planejamento e administração, visando o futuro da instituição.
A proposta é estruturar um comitê estratégico com profissionais e especialistas, associados ou não ao instituto, capazes de contribuir de forma efetiva para implantar novos usos e visões do acervo, no sentido de valorizar a realização de sua missão original.
Lina Bo e Pietro Maria Bardi desembarcando em Congonhas em 26 de fevereiro de 1947 – Foto: Autor desconhecido/Divulgação
Os primeiros anos
Fundado pelo casal Bardi como Instituto Quadrante em maio de 1990, a instituição tem como objetivos primordiais o incentivo da cultura e das artes, sendo abrigada na antiga residência do casal, a Casa de Vidro.
Diretor do Museu de Arte de São Paulo desde sua criação, Pietro Bardi já manifesta essa intenção em 1986, quando solicita o tombamento da Casa de Vidro ao Condephaat. Na ocasião, pensava em uma fundação que custodiasse a coleção de obras de arte, algumas delas ambientadas no seu “jardim-florestal”, registrando “um trecho da história da renovação da museografia nacional”.
Em 1992, Lina morre e, no ano seguinte, a instituição passa a se chamar Instituto Lina Bo e P. M. Bardi. Tem início a primeira sistematização do acervo da arquiteta e sua apresentação ao público com livro, exposição e vídeo apresentados no Brasil e no exterior, atingindo mais de vinte 20 países.
Nesses primeiros anos, com a atuação dos colaboradores de Lina, os arquitetos Marcelo Ferraz, André Vainer e Marcelo Suzuki, o instituto exerce um papel importante na divulgação da história da arte e arquitetura brasileira. São publicados volumes fartamente ilustrados sobre os arquitetos Afonso Eduardo Reidy, Vilanova Artigas e João Filgueiras Lima (Lelé), estabelecendo um novo padrão editorial na área.
Pietro Maria Bardi morre em outubro de 1999, pouco antes de seu centenário que é festejado em 2000 com a publicação de sua biografia, exposições e um filme/documentário, trabalho coordenado por Marcelo Ferraz.
Desafios e conquistas
As dificuldades de manutenção da Casa de Vidro levam à suspensão de visitas em 2007. Além disso, a redução de recursos do endowment, viabilizado por Bardi quando da fundação para assegurar a missão do instituto, tem impacto direto nas ações e projetos da instituição.
Após a morte da irmã de Lina, Graziella Bo Valentinetti, vice-presidente (1993 a 1999) e presidente (1999 a 2008) do instituto, Giuseppe D’Anna assume a presidência. A casa recebe manutenção adequada, projetos de apoio à cultura (Petrobras e CEF) são bem sucedidos e o acervo tem sua importância para a pesquisa reconhecida por apoio também da Fapesp.
O reconhecimento internacional de Lina cresce e em 2010 ela recebe uma homenagem especial na Bienal de Arquitetura de Veneza. Pouco depois, a Casa de Vidro apresenta a primeira exposição em seu espaço, curada por Hans Ulrich Obrist em 2013, com 10 mil visitantes.
Neste mesmo ano, o instituto comercializa o copyright de uma edição limitada da cadeira Bardi’s Bowl para a empresa italiana Arper. Assim inicia uma série de reedições de mobiliário da arquiteta.
As comemorações do centenário de Lina ampliam seu reconhecimento, se estendendo por 12 meses, de julho de 2014 a junho de 2015, para permitir exposições, publicações e eventos em museus de prestígio no Brasil e no exterior.
Nova visão
Na presidência de Sonia Guarita do Amaral (2014 a 2019), o instituto obtém apoio da Petrobras e inicia sua transformação em Organização Social do Estado de São Paulo. Com essa nova estrutura, apesar das dificuldades criadas pela interrupção do apoio da Petrobras em 2016, o Instituto alcança êxito na criação de novos modos de sustentabilidade financeira.
Visitas acompanhadas por serviço educativo tornam a Casa de Vidro parte do circuito cultural paulistano. O instituto retoma sua vocação editorial e, em parceria com a Editora Romano Guerra, publica, em 2016 e 2017, as obras dos arquitetos Pedro Paulo de Melo Saraiva e Abraão Sanovicz (apoio CAU SP), o catálogo da exposição Casas de Vidro (Proac SP/ AGC) e a reedição do livro “Lina Bo Bardi” (MinC/Imprensa Oficial do Estado) em 2018, marcando os 25 anos da primeira edição em 1993.
Também em 2016, a Getty Foundation, pelo programa “Keeping It Modern“, patrocina a elaboração de um Plano de Gestão e Conservação da Casa de Vidro, visando o futuro da primeira obra construída de Lina e uma base clara de planejamento estratégico a longo prazo.
Este plano prevê ações físicas: o restauro da Casa de Vidro, estúdio e casa do caseiro, o manejo do jardim, a adequação à acessibilidade universal e criação de outras infraestruturas necessárias para o funcionamento do espaço. No tocante à memória e produção intelectual, o plano destaca o estímulo à pesquisa no acervo, com ênfase também ao legado de Pietro Maria Bardi.
O plano apoiado pela Getty propiciou o intercâmbio de experiências com outras casas similares nos Estados Unidos: a Glass House de Philip Johnson, a Farnsworth House, de Mies Van Der Rohe, e a Eames House, de Charles e Ray Eames. Esta aproximação permitiu entender métodos de gestão para a sustentabilidade financeira baseada em doações privadas, promoção de eventos, cobrança de copyrights e formatos de acesso público às obras.
Nos últimos três anos, o instituto implementa um modo de levantamento de recursos similar. Exposições em parcerias com o Masp e outras instituições ocupam periodicamente a casa, assim como shows e eventos anuais são promovidos em um pavilhão temporário, instalado, entre dezembro e março, na área de acesso à residência dos Bardi.
O Instituto Bardi / Casa de Vidro chega assim aos 30 anos cumprindo sua missão de estímulo à arte e cultura brasileira.
Instituto Bardi/Casa de Vidro
Criado em 1990 como Instituto Quadrante pelo casal Bardi, passou a chamar-se Instituto Lina Bo e P. M. Bardi partir de 1993. Hoje, como Instituto Bardi/ Casa de Vidro mantém o objetivo inicial de promover e estimular o estudo e a pesquisa nas áreas de arquitetura, design, arte e urbanismo no Brasil.
Os Bardi atuaram de forma relevante e incansável para a consolidação da área cultural no país. Historiador, crítico de arte e de arquitetura, Pietro Maria Bardi foi cofundador do Masp, dirigindo o Museu de 1947 a 1996. Lina Bo Bardi assinou o projeto arquitetônico, museográfico e educativo do Masp, atuando de forma arrojada também em design, educação, cinema, teatro e moda.
Com foco em exposições, publicações, workshops e conferências, o Instituto possibilita o acesso a diferentes aspectos do pensamento e da produção artística e cultural do país a partir do legado de Lina Bo e P. M. Bardi, preservado no acervo existente na Casa de Vidro.
Residência dos Bardi desde 1951, a Casa de Vidro, como ficou conhecida a primeira obra construída de Lina Bo Bardi, tornou-se um ícone da arquitetura moderna e representa de forma atemporal o pensamento e o modo de vida simples e engajado do casal.
Tombada pelo Condephaat, como patrimônio histórico em 1987, a Casa de Vidro abriga, hoje, a sede do instituto e o acervo de Lina e Pietro, composto por mais de 40 mil itens.