Por João Victor Marques e Ligia Kas
A atriz Carolina Ferraz não é do tipo que espera as coisas acontecerem, ela vai atrás. Busca oportunidades e se reinventa para conquistar o que deseja. Famosa também pelo meme “Eu sou ryca!“, frase dita por sua personagens na novela “Beleza Pura”, de 2008, Carolina se diverte com a vida e quer muito mais. Prestes a completar 52 anos (no próximo dia 25 de janeiro) e mãe de duas filhas, ela contou ao RG, em uma entrevista exclusiva, muito sobre seus projetos, seu programa no YouTube, sobre rede sociais, maternidade, carreira e planos. Divertida e super bem-humorada, a atriz recebeu RG no estúdio de Bob Wolfenson, onde fez um ensaio fotográfico para comemorar seus 52 anos.
Queria que você falasse um pouco do seu começo. Como nasce Carolina Ferraz?
Eu não lembro mais. Estou velha. Faz tempo, né? Eu comecei na Manchete. Quando eu cheguei aqui em São Paulo e comecei a modelar, eu fui um fracasso como modelo. Eu nunca fiz uma capa, uma foto, um editorial bacana e as minhas contemporâneas – a Pierra, Cláudia Lis, essas meninas – estouraram e eu acho que tem um certo dom, uma certa habilidade de se fazer fotogênico, que algumas pessoas têm. Não que eu não tenha, mas elas têm muito mais. Eu não era tão bonita. Precisei, de fato, envelhecer para ganhar uma angulação diferente. Ter mais experiência de vida para ficar com uma cara mais interessante. Eu comecei mesmo a fazer matérias e fotos bacanas depois dos 25 anos. Depois que a Valentina nasceu, eu comecei a pegar campanhas e coisas bacanas. Mas quando eu era modelo, eu não tive tanto sucesso. Engraçado, né?
E a TV te chamou e te levou para cima, né?
Foi um encontro feliz. Muito feliz. O meu [encontro] com a câmera. Eu acho que eu sempre levei jeito. Quando eu modelava, eu fazia muita publicidade. Eu tinha habilidade para falar, para memorizar os textos e tinha uma fotogenia mais agradável para o 3D da câmera do que para fotos. Eu acabava até ganhando mais dinheiro que as minhas amigas que faziam só foto, não pagavam muito bem. Mas eram tão mais bonitas e prestigiadas… (risadas)
Quando você veio para São Paulo, estava com a sua mãe. Como é sua relação com ela hoje em dia?
Minha relação com a minha mãe é ótima. Meu pai morreu quando eu tinha 14 anos, lá em Goiânia, e meu irmão já morava fora, minha irmã fora. Os dois moravam aqui em São Paulo. A ordem natural das coisas foi todos nos unirmos, nos juntarmos. Eu cheguei aqui com 15 para 16 anos. Passei quase a minha vida inteira fora de Goiânia.
Você ainda tem laço com Goiânia?
Tenho sim. Não tenho família lá, só aqui em São Paulo e em Belo Horizonte. Tenho umas amigas de colégio, você acredita? Fazemos alguns encontros até hoje. Às vezes eu vou visitar, às vezes elas vêm. Eu amo pamonha então elas me mandam. Tenho uma relação ótima, adoro Goiânia. As pessoas botam no Wikipedia que eu nasci em Morrinhos. Nada contra, de modo algum. É uma cidade querida, mas não é verdade. Eu nasci em Goiânia.
Falando de maternidade, você tem duas filhas, né? Uma pequena e uma de 24. Como você enxerga o papel de mãe na sua vida? Você sempre se imaginou?
Eu acho que não. Eu sempre quis ter filhos, mas nunca fiquei imaginando. Por exemplo, a Isabel tem quatro anos e ela fala com a maior frequência que ela quer ter 10 filhos. Já tem na fantasia dela a coisa da maternidade. Eu não me lembro de ter isso, minha mãe pode dizer o contrário. Eu não sou dessas pessoas que acham que uma mulher só se completa quando ela experimenta a maternidade. Eu não acredito nisso. Tenho várias amigas que preferiram por escolha própria não ter filhos, porque preferem trabalhar, fazer outras coisas. Cada um deve viver a vida da maneira que convém. Mas, para mim, foi a melhor coisa que fiz. Entre todas as coisas que eu faço bem, e eu faço algumas, a de ser mãe eu estou na frente. Eu curto ser mãe. Me fez muito bem. Tenho muito prazer. Tenho orgulho das minhas filhas, da relação que a gente estabeleceu. Eu acho que a maternidade foi uma experiência que melhorou a mim. Desde a gestação, você perde o controle sobre você, sobre o seu corpo. É uma coisa toma conta de você e deixa uma sementinha que cresce, germina e vira uma pessoa que tem vontade. É muito legal, uma maravilha.
E você sentiu alguma diferença com essa lacuna de 20 anos entre uma e outra?
As diferenças que eu senti foram muito físicas. Eu engravidei da Valentina quando eu tinha 25 anos e dei à luz com quase 26 e eu engordei 15, 16 quilos, mas saí da maternidade com minha calça jeans, eu emagreci super rápido. Passei muito bem na gestação toda. Com a Isabel, eu engravidei aos 47 anos e fazendo tratamento, foi um perrengue. É muito hormônio que você toma quando você está fazendo tratamento. Minha vida mudou. Eu engordei 20 quilos. Verão, Rio de Janeiro, 20 quilos a mais. E os hormônios deixam você um pouco lesado. Depois que engravida, é mais um monte [de hormônios] nos primeiros três meses para fazer a fixação da gestação. Eu levei quatro anos para perder esses 20 quilos. Ainda estou perdendo! (risadas)
A vida, ao contrário com o que todo mundo fala, foi feita para as mulheres parirem cedo. Fisiologicamente, fomos feitas para darmos à luz mais jovens. Eu sei que hoje em dia a gente vive mais e vive melhor. De qualquer forma, conseguimos ter uma qualidade de vida melhor, mas fomos feitos para vir [à vida] mais cedo. Eu retomei meu corpo muito mais rápido, eu fiquei muito menos cansada na primeira gestação, por uma somatória de fatores. Na segunda gravidez, eu fui para o hospital na hora marcada e acabou sendo cesariana. Quem na vida prefere fazer cesariana é porque nunca experimentou o parto normal. O parto normal é tudo de bom. A Valentina foi de parto normal. Cesariana é muito ruim, não é natural. Você não consegue enviar os estímulos corretos para o seu cérebro entender que aquela criança já não está mais ali. Eu saí da sala de parto grávida ainda. Não tive dores, não tive nada, mas sinto que, com a cesariana, o processo de recuperação foi muito mais lento, e foi tão legal com a Valentina. Eu tentei até o último minuto com a Isabel, mas não consegui. Ela encaixou meio tortinha.
Vamos falar um pouco de carreira agora. Você tem se aventurado no YouTube. Como você pensa o futuro de todo o conteúdo que tem sido produzido?
Eu acho que nunca vai deixar de existir canal aberto. Talvez nunca mais vá ter a audiência que já teve um dia. Cada vez mais, as coisas são feitas para você ver na tela do seu celular. Isso faz toda a diferença. Eu acho que o streaming é o futuro. O próprio YouTube lançou seu canal de streaming e vai arrebentar porque eles não brincam em serviço. São afiados, são espertos. É muito interessante observar como as realidades mudaram. Eu tenho várias reuniões lá [referindo-se ao YouTube] com o administrador do meu canal, que é muito novo: vai completar três meses agora em janeiro.
É bem novinho, então?
Sim, super. Está indo bem, eles estão muito felizes. E vem muito mais coisas por aí. Eu já tenho o espelho do canal até novembro deste ano. Eu sei o que vai acontecer. São sempre dois vídeos por semana: toda segunda tem um vídeo de culinária e às sextas são livres. Cada sexta rola um assunto, um vídeo. Eu me interesso por várias coisas.
Você vai entrevistar pessoas?
Vou, vou sim. Eu já faço isso. Tem um quadro que se chama “Cozinha do Possível“, que acaba sendo um programa de entrevista. Eu juntei um projeto que eu tinha há muitos anos e que já tentei emplacar no GNT, mas nunca consegui por problemas de produção, e eu entendo. Eles sempre falavam para eu imaginar se a gente chegasse na casa de alguém e não tivesse nada. Como agora não tem produção, estamos dando cara a tapa. Esse quadro é o seguinte: a gente chega na casa da pessoa e minha missão é cozinhar com o que eu vir por lá, o que eu encontrar. Eu tenho que fazer uma refeição com o que tiver ali. Está sendo maravilhoso, é um dos quadros mais comentados do canal. Tem o “Carona da Cantoria“, que é uma homenagem ao James Cornem. A gente faz um playback pesado. Já fizemos com a Preta Gil, Leticia Letrux, fiz com a Cleo Pires, que vai ao ar em janeiro.
Como surgiu a ideia de ter um canal no YouTube?
Eu fui convidada pelo YouTube. Eles fizeram uma pesquisa no Brasil e chegaram a 200 nomes de todos os segmentos, entre todas as áreas. E aí eles me chamaram para fazer um canal. Na hora, eu pensei: “O que eu vou falar para o público do YouTube?”. Eu não sou uma grande consumidora de YouTube. Eu passei a ser e ser mais antenada depois do convite. Obviamente, eu consumo muito mais agora, 6, 7 meses depois do convite. Eles falaram que era justamente chamar pessoas que não produziam conteúdo no YouTube e que passariam a fazer. Eu pensei por um tempo e desenhei todo o projeto e mostrei para eles. Amaram, acharam diferente de tudo que eles têm feito. E para mim é muito legal porque eu acho que mostra a Carolina de uma forma mais 360, onde, de fato, eu posso fazer outras coisas, exercitar outras musculaturas, mostrar mais de mim. Coloca a Carolina mais apresentadora, mais criadora, diretora. Tudo sou eu quem faz, da minha maneira. Sob a minha batuta. Dá um puta de um trabalhão, mas eu estou adorando. Estou bem feliz!
E a internet já te conhecia, né? Por conta do meme do “Eu Sou Ryca”.
Que meme sensacional, né? Aumenta o preço do tomate: “Eu Sou Ryca”. Eu acho genial. Eu me divirto. Eu sou fã do meme! (risadas) Podia ser um mantra. Todo mundo propagar e mentalizar isso!
Como é sua relação com os seus fãs diante de coisas, como esse meme e as redes sociais?
Mudou muito, né? Quando você passa a ter tudo na primeira pessoa. Eu acho que o programa de culinária no GNT foi a primeira grande mudança com meus fãs. Eu passei a ter mais contato com o público porque o programa de culinária passou a mostrar a Carolina em primeira pessoa, sem o subterfúgio do personagem. Eu tenho uma imagem muito elegante, sofisticada e eu gosto disso. Não é nenhum mérito, é algo que veio, mas isso me afastava das pessoas. Quando as pessoas me viram por três anos cozinhando, mexendo em uma colher de pau, tomando vinho, dando risada, eles se sentiram mais perto de mim. Minha última novela na Globo foi a de maior audiência naquele ano, e eu saía na rua e as pessoas falavam comigo por conta do programa de culinária, e não por conta da novela. Eu percebi que isso era um sinal, notei isso. Eu acho que esse “break-true” da fama fez muito bem. As plataformas digitais horizontalizaram essas relações: a distância entre pessoas comuns e famosos é uma única mensagem. As pessoas podem me ver, eu posso ver as pessoas. No mundo inteiro isso.
E como está esse momento da sua carreira com o canal no YouTube e a reprise de “Avenida Brasil”, uma das maiores audiências da televisão brasileira, em que você interpreta Alexia, uma personagem superdivertida?
Eu gosto muito de fazer comédia. Minha matriz humorística é no humor, embora eu também goste muito de fazer drama. Eu me divirto muito, é um prazer fazer as pessoas rirem, tanto que, quando eu fiquei mais de nove meses em cartaz em São Paulo, foi muito legal. Era uma catarse. Cada dia eu entrava no teatro de um jeito e saía de outro. Parece um elevador, me jogava muito para cima. Muito legal.
Desde que eu saí na Globo, esse é o quarto trabalho [de novela] consecutivo que passa. [na TV]. Eu estive no ar o tempo todo. Eu acho que é um elogio a mim. Sou uma boa pessoa, uma boa profissional, que fiz bons trabalhos e está tudo certo. É bem bacana.
E cinema?
Cinema no Brasil é uma coisa muito fechada. Eu acho que é mais fácil eu produzir um projeto. As pessoas são muito fechadas naquele ciclo. Eu amaria fazer mais cinema. Para você ver, eu consegui produzir um filme, no qual eu atuo, eu faço uma travesti, demorei nove anos para tirar do papel, depois da ajuda do gênio Flávio Gambelini. Graças ao Flávio, a gente conseguiu fechar e ganhamos prêmio no mundo inteiro. Concorri a prêmio de melhor atriz pela Academia Brasileira de Cinema. Nessa hora eu pensei: “Ótimo, que bom! Se faltava algo para eu me aproximar, eu consegui”. Pensei que pintaria mais coisas, mas nada mais rolou. Também, temos que dizer que a situação do cinema brasileiro anda meio crítica. Ninguém está produzindo muita coisa. Mas ó: estou disponível, a fim, buscando. Eu também estou buscando fazer coisas minhas, produzir coisas que eu queira. Eu acho que o que mudou também foi isso. Não tem que esperar. É botar a mão na massa, produzir, fazer, atuar, deixar as coisas acontecerem nessa dinâmica.
Na verdade, eu não estou comemorando meu aniversário de 52 anos só para que as pessoas saibam que eu estou com essa idade. Eu nunca escondi isso. Eu quero que as pessoas saibam que é possível se reinventar, é possível ter essa idade e ser supernovo de cabeça, de energia, de atitude, de compromisso. Estou muito mais comprometida hoje em dia com quem eu não conheço, com o que eu preciso aprender. Eu tenho um milhão de projetos que eu quero fazer. Tem muita coisa para acontecer este ano. Estou muito feliz. É muito mais um exercício para que outras mulheres também vejam e se sintam capazes de fazer tudo, cruzar essa ponte. Com muita fé, com amor próprio, está tudo bem. Eu tenho uma filha que fez 25 anos, tenho outra de 4 anos, que vai fazer 5. E tem tanta coisa que eu quero fazer ainda, tanto projeto.
E você pode adiantar algum projeto seu?
Além do mundo das artes, eu estou com alguns projetos empresarias rolando. Eu estou com vontade de voltar a estudar. Penso em fazer uma faculdade de gastronomia. Mas fazer direito dessa vez. Eu já fiz vários cursos, já viajei, fiz muita coisa. Eu sinto que, o que eu entendo com intuição, eu quero saber na técnica. Que alguém me ensine e eu quero estar à altura do que vem por aí.
Estou, também, desenvolvendo uma linha para 2021, eu estou desenvolvendo uma linha de higiene pessoal que será lançada fora do Brasil. Não vai ser lançada aqui porque é uma linha feita à base de CBD (canabidiol). Os produtos terão um mix de CBD e óleo de abacate com várias coisas. Não são cosméticos, é de higiene mesmo: sabonete, desodorante, hidratante. Já temos um nome e vai ter o C de Carolina, mas não tem o meu nome direto. Estamos fazendo para o mercado internacional, com foco no Canadá e na Coreia. Estamos achando que vai ficar um sucesso. Na verdade, eu quero vender algo que eu use todo dia, que eu faça com a minha pele. Vamos começar com uma linha pequena. Vamos ver no que vai dar.
Fotos – Bob Wolfenson | @bobwolfenson
Beleza – Debora Bitencourt e Ananda Resende | @deb_court e @ananda.resende
Styling – Rodrigo Polack | @rodrigopolack (responsável pelo shooting colorido) e Mari Gama (responsável pelo shooting P&B)
Produção: Daniela Alvares | @danielaalvares
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