Por André Aloi
Hot Chip foi um dos destaques do Popload Festival, na última sexta (15.11), feriado de Proclamação da República, em São Paulo. O vocalista Alexis Taylor fez um culto à Dance Music, no palco do Memorial da América Latina, com seus sintetizadores e tecladinho.
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Em conversa com RG, ele falou sobre contrastes na música, fez uma análise sobre a evolução do pop: se melhorou ou piorou? E relembra as passagens do grupo pelo Brasil. Veja a íntegra:
Como se manter atualizado e relevante na cena musical, sendo que a juventude está ouvindo músicas de pouco mais de dois minutos?
Não sei, sinceramente, talvez nós não sejamos relevantes. Acho que não tem muito a ver com músicas de 2 ou 15 minutos. As pessoas só ouvem o que recebem, você não precisa mudar o que está fazendo para “servir” em algum lugar. Sempre existiu músicas curtas e músicas longas, boa música pop, assim como a ruim, que não me interessa muito. Tem muita coisa que não escuto. Todo mundo pode ouvir o que quiser ouvir, as vezes é bom ter esses contrastes na música, que acompanham os contrastes e contextos que vivemos na história.
Você acredita que o Pop melhorou ou piorou nos últimos anos?
Piorou. Não tenho muito interesse em dizer para as pessoas que existe “música ruim”, não gostaria de fazer essas declarações, acho que existe bom pop por aí, mas não ando ouvindo muito pop ultimamente. É muito fácil soar como alguém velho ao dizer “era melhor no passado”, mas sinto que a pop music nos anos 80, 90, poderia ser muito mainstream e ainda assim ser inventiva. Acho que o que houve é que o R&B e Hip Hop se tornaram os grandes gêneros do momento, indo para um lado mais pop, algumas coisas dessas coisas são ótimas e outras nem tanto.
Você conhece algum artista brasileiro? Teria como falar um pouco da cena ou daquilo que conhece? Há alguém daqui que gostaria de colaborar?
Gosto de Milton Nascimento, Tom Zé, Tim Maia, são minhas referências do Brasil. Não sinto que estou muito inteirado sobre música brasileira contemporânea, então, talvez Milton Nascimento.
Vocês tratam de temas sociais no último lançamento, “Bath Full of Ecstasy”, desse ano. São questões pontuais ou que querem levar essas preocupações para os próximos trabalhos?
Eu não decido temas antes de compor, só me atento ao que estou sentindo e aí começo o processo de composição. O mundo está passando por diversas tensões climáticas e ecológicas, no sentido da destruição da terra, e isso é o que está na cabeça das pessoas no momento. Provavelmente algumas dessas pautas estarão nos próximos trabalhamos, mas é impossível dizer neste momento.
Pra vocês, importa mais “vender discos” (nos dias atuais, ter mais plays nos serviços de streaming), ser aclamado pela crítica ou chegar à cena mainstream (aqui no Brasil, reflexo disso é a música ser trilha de uma novela e tocar nas rádios).
Essas três opções não são motivações para mim. Quero fazer músicas que ofereçam certa satisfação emocional para as pessoas. É nisso que me foco, muito mais do que todas essas outras coisas. Essas coisas ajudam porque criam um canal para que as pessoas ouçam a música, e também ajudam a financiar um próximo projeto, então não é como se não importasse. Não ter execuções nos streamings e uma série de reviews negativas pode fazer com que o processo tenha que ser interrompido em algum ponto, mas essa não é nossa motivação para continuar fazendo música. Sou motivo pelo que pode acontecer quando se compõe uma música, como você se sente sobre o mundo, as pessoas, e sobre ideias de melodias, ritmos, e sons.
Como é a relação de vocês com o público brasileiro? Qual a melhor memória que têm do Brasil?
Sempre tivemos públicos incríveis no Brasil, muito animados e dançantes. Tenho muitas memórias, como da comida local, arquitetura, e dos outros shows que fizemos aqui. Especialmente o do TIM Festival, em 2005.
Você se lembra quando foi o momento que sentiu que a fama havia chegado?
É uma pergunta estranha, porque não somos muito famosos. Acho que se sou reconhecido em algum lugar, sinto que sou famoso, mas não acontece muito. Mas não teve um “momento de virada” em que não conseguia andar na rua ou pegar metrô.