A exposição “Vestindo o Tempo – 70 Anos de Moda Italiana” percorre as rotas que levaram a produção da Itália a ganhar identidade e notoriedade internacional. As 45 peças selecionadas pertencem aos colecionadores Enrico Quinto e Paolo Tinarelli, detentores de um arquivo com 6.000 itens, entre vestimentas e acessórios, atualmente fonte de inspiração para numerosas casas de moda. “Nesse sentido, o arquivo está intimamente integrado a um sistema produtivo no qual o passado é vital”, afirma a dupla.
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Com curadoria do historiador João Braga, a mostra, dividida em três núcleos, aborda estilistas, criações e eventos que colaboraram para a projeção da moda italiana desde os anos 1950 até os dias atuais. Segundo Braga, foi a influência francesa que deu início ao amadurecimento da produção na Itália entre 1950 e 1960. O nascimento oficial da moda contemporânea italiana aconteceu em 1951, quando o marquês Giovanni Battista Giorgini promoveu um desfile em Florença, especialmente para compradores norte-americanos. Nesse momento, como apontam os colecionadores, criou-se um sistema organizativo para divulgar pelo mundo inteiro, à imprensa e aos compradores, o produto Made in Italy.
“No pós-Segunda Guerra Mundial, Christian Dior buscava resgatar a feminilidade perdida nos anos bélicos e assim definiu o chamado de New Look, estética que determinou o gosto da moda do final dos anos 1940 e de quase toda a década seguinte”, diz Braga. É esse período que a primeira parte desta exposição focaliza ao mostrar a produção de Emilio Schuberth, Sorelle Fontana, Roberto Capucci e Emilio Pucci.
Na segunda parte, a mostra abarca as décadas de 1970 e 1980, agregando aos trabalhos desses estilistas outros que atualizaram a moda italiana ao associá-la ao design e à produção industrializada, o prêt-à-porter – pronto para vestir: Valentino, marca Fendi, Giorgio Armani, Gianfranco Ferré, Franco Moschino, Gianni Versace, Mila Schön, Elio Fiorucci, Missoni, entre outros. Para o curador, esses nomes, especialmente os voltados à moda jovem, receberam influências da moda inglesa, um tanto transgressora, jovial e pop nos anos 1960.
A terceira parte da exposição traz obras do final do século 20 até os dias atuais, quando ganham relevância as antigas e tradicionais casas de marroquinaria (comércio de couro) que já existiam antes mesmo de 1951, como Prada (de 1913) e Gucci (de 1921).
Segundo Braga, é também nesse momento que a moda italiana se reconhece naquilo que sempre lhe foi historicamente peculiar, ou seja, nas suas intensidades. “Surge assim um novo gosto associado aos exageros, exotismos, luxos e outras características de exuberância visual nas criações de marcas como Dolce & Gabbana, Versace, Roberto Cavalli e Fausto Puglisi, além das já citadas Prada e Gucci”, conclui.
A exposição, ao percorrer esses últimos 70 anos da moda italiana, evidencia seu caráter genuíno e a fidelidade na formatação da identidade fashion do país. “A moda italiana é potente pela permanência do gosto vinculado ao intenso uso e combinação de cores, à presença ampla da estamparia, à valorização da tradição do artesanato local e à busca por novos materiais e tecnologias têxteis”, completa Braga.
Instituto Tomie Ohtake – Av. Faria Lima 201 – Complexo Aché Cultural (Entrada pela Rua Coropés 88), Pinheiros, SP. De 12 de novembro (abertura, às 20) a 2 de fevereiro.