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Vik Muniz explora limites entre fotografia e pintura

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Sem realizar exposição individual em São Paulo há três anos, Vik Muniz inaugura no dia 24 de outubro, na Galeria Nara Roesler, a mostra “Superfícies”, na qual amplia a sua permanente investigação sobre a imagem. No conjunto de 22 trabalhos, todos inéditos, ele explora os limites entre fotografia e pintura, abstração e ilusionismo, realidade e construção formal.

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A exposição apresentada agora na capital paulista dialoga com outra que o artista inaugurou este mês na galeria que o representa em Nova York, a Sikkema Jenkins Co, onde uma seleção de obras de mesma série fica em cartaz até o dia 16 de novembro.

O novo trabalho apresenta um recorte importante da investigação que o artista vem realizando há quase três anos, tendo como ponto de partida um conjunto amplo e variado de pinturas abstratas, de diferentes autores e procedências. São imagens muitas vezes díspares, selecionadas a partir de critérios subjetivos, afetivos. “Quase todas as obras com que trabalhei me estimularam um pensamento, me fizeram seguir refletindo sobre elas”, explica. Questões como a memória, o gesto, a representação, a planaridade, se fazem presentes em um processo que se inicia com escolha e cópia, muitas vezes imperfeita (porque de memória), da imagem de partida, e só termina com a observação direta do espectador. Como o conceito de camada é vital, tanto no sentido físico, material, como no temporal, a obra só se realiza plenamente no contato direto com o público, recuperando de certa forma a importância ritualística da experiência visual.

Fascinado em relação a essa relação tensa e conflitiva entre pintura e fotografia, ele a traz para dentro de sua construção plástica. “Uma coisa que eu aprendi foi que estou sempre procurando criar uma ambiguidade na superfície da coisa representada”, constata, reconhecendo que nesta produção mais recente essa ambivalência ganhou ainda mais peso. Se o caráter abstrato das pinturas de origem já contribuem com isso, outros fatores formais ajudam a ampliar esse limbo em que Muniz atua. Em primeiro lugar, ele rompeu com uma lógica inerente a seus trabalhos: a de concluir o processo na imagem fotográfica. Pintura, escultura, colagem sempre fizeram parte de sua criação, mas quando fotografava, a obra terminava.

Agora, a experimentação foi amplificada, com a facilidade e a rapidez decorrente da possibilidade de ter grandes impressoras dentro do ateliê. Assim, os vários sedimentos se acumulam, estão fundidos dentro da imagem, criando camadas físicas. São construções abstratas, jogos de formas e cores sedutores, que instigam e intrigam o olhar. O resultado é ainda fotográfico mas, como costuma acontecer no trabalho de Muniz, funciona como uma espécie de enigma, um jogo no qual o espectador se vê diante de uma incógnita, de uma somatória de coisas apenas aparentemente contraditórias como o fazer manual e a técnica fotográfica, a planaridade da representação e uma construção formal que parece querer conquistar o espaço. “Não sou pintor, sou um artista conceitual”, pontua.

 É interessante notar que, diante das fotografias reunidas em “Superfícies”, o espectador têm uma certa sensação de familiaridade, é capaz de reconhecer o estilo, a maneira de o pintor do quadro de origem trabalhar. “Procuro sempre trabalhar com a bagagem intelectual do espectador”, diz Muniz. Outra característica de sua seleção de base é o interesse por telas que se situam entre figuração e abstração, que estão no meio de alguma coisa, entre a coisa física e mental. Como trabalha com uma gama ampla de autores, que vão de Sonia Delaunay a Cícero Dias, Agnes Martin a Giacomo Balla, o resultado muitas vezes é dissonante, se atentamos para a aparência formal das obras. “É quase como uma exposição coletiva”, ironiza o artista, reafirmando contudo que a unidade se encontra não na cor ou na textura, mas nas propriedades físicas, o tratamento da superfície, as camadas de representação que têm em comum”.

Galeria Nara Roesler – Av. Europa 655 , Jardim Europa, São Paulo.

Foto: Divulgação

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