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Em entrevista ao RG, Banderas fala como foi interpretar Almodóvar

Por Miriam Spritzer

Dor e Glória” é, sem dúvida, um dos filmes que marcarão para sempre a carreira de Antonio Banderas, o mais recente longa-metragem de Pedro Almodóvar. A dupla se reuniu após anos sem trabalharem juntos para fazer o que os dois consideram um dos mais desafiadores filmes de suas carreiras.

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A obra imita a realidade, o enredo é em torno de Salvador Mallo, interpretado por Banderas, um diretor de cinema cult, que reencontra um de seus atores com quem não trabalhava ou falava havia mais de 20 anos. Este reencontro acaba trazendo à tona dores e glórias da vida do diretor – que muito se parecem com as da de Almodóvar. A semelhança é proposital, o personagem Mallo de fato é inspirado no próprio diretor.

Mallo é diferente de outros personagens que já vimos Banderas interpretar, um pouco menos ágil e mais sóbrio. O ator espanhol comentou durante a coletiva de imprensa no New York Film Festival esta semana, que após um problema cardíaco que teve em 2017, interpretar este tipo de personagem foi algo extremamente interessante, ainda mais com Almodóvar, em quem confia incondicionalmente com o trabalho. “Sou como pessoa como sou como artista”, disse o ator, ao explicar estar escolhendo projetos mais desafiadores nesta altura de sua vida.

Almodóvar contou que ao reencontrar Banderas para o projeto, que havia algo um pouco mais denso sobre o seu olhar, e pediu que mantivesse essa qualidade para trazer Mallo à vida. Hoje, Banderas está melhor do que nunca e sua interpretação recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes este ano.

Na estreia de “Dor e Glória”, durante o New York Film Festival, Banderas nos contou com exclusividade como foi interpretar o personagem baseado em Almodóvar.

A última vez em que nos falamos, foi no lançamento da série de TV “Genius”, da National Geographic, que foi ao ar no mundo todo. Você interpretava Picasso, que é um ícone da cultura espanhola.
Exatamente, e agora estou interpretando outro. É incrível.

Qual é o maior desafio em interpretar um personagem reconhecido mundialmente, e, neste caso, também uma pessoa muito próxima a você?
Para mim o maior desafio é não errar e acertar. Parece meio óbvio, mas é difícil estar em uma situação onde a pessoa que está me dirigindo é a pessoa a qual estou interpretando. Então, eu tive que prestar muita atenção e ouvir, não só com os olhos e ouvidos, mas com o coração e com a alma. Que é isso que deve ser expressado. É isso o que ele queria expressar.

Como foi a criação deste personagem? O que foi indispensável para interpretar Mallo?
Primeiro eu tinha que entender o porquê. Por que ele (Almodóvar) queria que eu o interpretasse? A resposta disso é fundamental, e não é  por isso ou aquilo, não está em coisas pontuais. Está por trás de muitas coisas, e vai ficando clara na medida em que vamos avançando no processo de montar o filme. E este momento de apresentá-lo para o público também faz parte. De certa forma, os desafios deste papel eram os de sempre, de ser o mais verdadeiro com o personagem e não errar ou enganar.

Almodóvar comentou inúmeras vezes que você se conectou com o personagem imediatamente. Por quê?
Acho que tem a ver com os 40 anos que trabalhamos juntos. Fizemos já mais de oito filmes. Essa convivência faz com que a gente conheça muito bem um ao outro. Ele sabia que eu tinha um contato muito direto com esse mundo que desenvolvemos durante tantos anos e que poderia entregar o que ele esperava do personagem.

Você sabe que tem muitos fãs no Brasil?
Eu amo o Brasil, adoro os brasileiros. Quero ir visitar em breve.

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