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Mostra de Flávio de Carvalho ganha trecho do Oficina

A obra multidisciplinar de Flávio de Carvalho (1899-1973), expoente do modernismo brasileiro, é homenageada em exposição na Galeria Almeida e Dale. Com curadoria de Kiki Mazzucchelli, a mostra “Flávio de Carvalho: o antropófago ideal”, em cartaz até 19 de outubro, reúne registros das polêmicas performances do artista, além de pinturas e desenhos produzidos entre 1930 e 1970.

Para marcar o período expositivo, o Teatro Oficina faz uma segunda apresentação de trecho da peça “O Bailado do Deus Morto”. Escrita pelo artista em 1933, a obra discorre sobre a tragédia da morte de deus e apresenta a vida criativa do homem livre de mitos.

Com direção de Marcelo Drummond, os 12 atores da companhia encenam com a musicalidade característica do Oficina e vestem as réplicas das máscaras criadas por Carvalho. A primeira encenação foi realizada no dia da abertura da exposição e a segunda será no dia 7 de setembro, às 13h. Para assistir, é preciso se inscrever pelo telefone da galeria: (11) 3882-7120.

O antropófago ideal

A seleção de obras da exposição oferece um panorama esclarecedor da trajetória multidisciplinar de Carvalho, cobrindo cinco décadas de sua produção. “Ele é uma das figuras mais interessantes da vanguarda brasileira do século 20. Seus projetos de cunho conceitual atestam seu extraordinário feito de expandir o campo da arte para além de territórios e formas conhecidos, ampliando assim a própria definição daquilo que pode ser considerado arte”, afirma Kiki.

Carvalho realizou cinco performances, intervenções no espaço público, aos quais intitulava como experiências. A mais conhecida é a “Experiência n.2”, na qual caminhou, usando saia, contra o fluxo de uma procissão de Corpus Christi nas ruas do centro de São Paulo, o que, talvez, seja o primeiro registro de uma performance no Brasil.

Em 1956, quase aos 60 anos de idade, o artista desfilou pelas ruas de São Paulo vestindo um blusão bufante, uma saia plissada e sandálias, um traje projetado, segundo ele, para servir como alternativa ao padrão do terno e gravata e libertar o homem tropical do desconforto causado por estilos de moda importados da Europa. Acompanhado por uma extensa cobertura de imprensa organizada por ele próprio e que pode ser observada em algumas das fotografias presentes nesta exposição, Carvalho batizou a obra de New Look (“Experiência n.3”). As vantagens funcionais da vestimenta foram impressas em um anúncio criado pelo artista, trazendo afirmações mais razoáveis como sua capacidade de minimizar a transpiração excessiva até alegações mais inverossímeis, como sua virtude de evitar guerras devido ao uso de “cores vivas (que) substituem desejos de agressão”.

Galeria Almeida e Dale – Rua Caconde, 152, Jardim Paulista, São Paulo.

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