Uma coleção de situações que acontecem entre as pessoas que estão presentes e que compartilham o mesmo tempo e o mesmo espaço. Este é o mote de “Estamos Aqui“, segundo disco da cantora e compositora paulista Marina Melo. Já disponível nas plataformas de música (ouça aqui), o trabalho produzido por Chico Neves traduz por meio de canções cenas de afeto ou de ódio, de humor ou de estranhamento.
A artista faz, ao longo das 10 faixas, um convite à reflexão sobre si e sobre as atuais configurações sociais. “Comecei a me perguntar como era possível sermos tão semelhantes e, ao mesmo tempo, brutalmente diferentes”, conta a artista. “Tive vontade de fazer músicas que nos ajudassem a nos reconhecer no outro, porque, no fundo, todos queremos a mesma coisa: um tanto de paz, de dança e de risada”, completa fazendo referência a um dos versos de “Gente“, segunda música do disco a chegar às plataformas de streaming e ganhar um clipe.
Nessa proposta que busca por pontos de afinidade, além do primeiro single revelado, “Eita, Baby“, destacam-se faixas como “Pior que eu“, em que Marina mostra que é feita de contradições e busca afastar os ouvintes desse “lugar de nos acharmos as melhores pessoas do mundo versus o resto da humanidade“; e “Nuca“, que revela a ironia de que algumas das nossas características só são conhecidas por outras pessoas, como o gosto do próprio beijo e o cheiro da própria nuca. “Loukkk”, por sua vez, trata da relação/apego exagerado das pessoas com o celular (ela se refere ao aparelho como “benzinho”). A faixa ganha um videoclipe com lançamento simultâneo ao disco.
De modo leve, Marina toca também em assuntos críticos e de grande importância coletiva. “Quem mandou matar”, por exemplo, evoca a necessidade que a cantora vê de que “possamos sair do nosso mundo particular e olhar ao redor, prestando atenção às vidas que têm sido machucadas (e exterminadas) por ódio”. Já “Ninguém aqui nasceu com ódio” busca colocar, gradativamente, o ouvinte no lugar dessas vidas que têm sido perdidas por intolerância.
“Estamos Aqui” foi registrado no Estúdio 304, do produtor mineiro Chico Neves. Localizado em Macacos, na área metropolitana de Belo Horizonte, o espaço também influenciou no resultado final do disco. Isso porque, durante o período de gravação, soou um alerta de rompimento das barragens de mineração da região. “Quando ouvimos a sirene de que as barragens poderiam romper, tudo mudou”, lembra Marina. “Eu passei um mês vivendo intensamente a aquela sensação de que Brasil estava prestes a explodir.”
A tracklist é complementada pelas faixas “Me diz“, ” Tudo que não sei dizer em português” e “Coisa melhor“, que também carregam o tom experimental que transmite a busca da cantora e do produtor por inventividade. A sonoridade de todo o trabalho teve como ponto de partida experimentos que Marina testava com um pedal de loop, violão e voz. Com a tutela de Chico, o disco ficou ainda mais rico em camadas e percussão vocais, sintetizadores e todos os “efeitos incríveis”, como descreve a artista, que ele cria. “O Chico diz que o instrumento dele é o estúdio, então ele tem muitos recursos incríveis que estão ali no disco, desde percussões feitas com caixinha de óculos e som de poltrona até cordas do piano sendo diretamente tocadas, ao invés das teclas”, conta.