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Com a palavra: o usuário

Por Marcos Tenório

O design sempre criou diversas soluções para as necessidades do mercado mas poucas vezes preocupou-se em partir das reais necessidades do usuário. O design centrado no usuário é o conceito que, há alguns anos vem permeando os projetos de produtos, ambientes e sistemas informacionais.

Esse conceito considera que tudo o que é produzido deve ser baseado no estudo do cliente, afinal é ele que vai comprar e usar o produto que estamos projetando. É necessário entender que a experiência de cada pessoa conta como guia para projetos.

Uma nova área surgiu no projeto de sistemas interativos como sites e aplicativos: o UX Design, que é responsável por entender essa experiência de uso dos sistemas pelo usuário para que, ao invés de utilizar os conhecimentos técnicos, os designers considerem a jornada do público, que inclui problemas e sucessos na realização de suas tarefas.

A melhoria da performance foi tamanha, ao ponto que outras áreas começaram a se espelhar no design para alterar a forma como elas estudam as relações entre produtos e serviços e o consumidor.

O marketing sempre foi muito atento às mudanças de comportamento do consumidor e sempre estudou os comportamentos do mercado e suas tendências para planejar novas ações, mais efetivas e que tenham resultado mais efetivo no público que está mudando mais rapidamente.

Lojas e serviços têm oferecido novas experiências para seus clientes, envolvendo-o durante a sua visita e tornando, mais do que uma visita de compras, uma imersão interativa do usuário no mundo criado pela marca que utiliza esses conceitos.

Quem saiu na frente foi a Apple que, há um bom tempo derrubou as gôndolas e transformou seus pontos de venda em um espaço convidativo, cheio de eventos e que os produtos estão lá para serem utilizados e conhecidos. O único risco que nós corremos é de nos apaixonarmos por eles e querermos levar.

Além disso, a maçã aposta no atendimento especializado e possui um grupo de consultores prontos para auxiliar os compradores de seus gadgets premium em qualquer dúvida ou configuração, os Genius são funcionários treinados para resolver os problemas de todos os usuários das linhas da empresa.

A Samsung demorou um pouco e criou uma rede de lojas com marca própria que seguem o mesmo conceito e oferecem o uso de seus smartphones de forma livre para cada usuário. A empresa percebeu recentemente que o que a diferenciaria dos milhares de modelos com o sistema operacional Android seria a experiência dos usuários.

Assim, o investimento em produtos com acabamento premium e lojas conceito vem crescendo a cada lançamento. Recentemente a empresa inaugurou uma loja conceito no Shopping Parque da Cidade, em São Paulo, especializada na linha Galaxy de seus produtos e comum ambiente diferenciado e consultores especializados em oferecer informações de uso para os consumidores.

A empresa coreana demorou um pouco para perceber que o design seria o seu diferencial, mas parece ter aprendido a lição e vem investindo pesadamente tanto nos pontos de venda como nos produtos.

A linha Galaxy, carro chefe da marca, que já sofreu preconceito por conta do acabamento e qualidade do hardware dos seus dispositivos vem se posicionando muito bem no lançamento de novos smartphones e, ao invés de copiar a sua rival, como fazia antigamente, está lançando tendências que são seguidas por ela e por outras tantas marcas pelo mundo.

Nessa última semana o seu celular mais premium e de melhor qualidade/processamento chegou à 10a edição, o Galaxy Note 10 foi lançado seguindo os traços da Linha S10 lançada há poucos meses, que incluem a retirada de quase toda a borda da tela do aparelho, para comportar a sua câmera frontal, apenas um pontinho na tela.

Na traseira a sua mais poderosa ferramenta: as três câmeras reconhecidas e elogiadas por profissionais da fotografia, trazem um conjunto competente e eficaz na captura de imagens, mesmo que possuindo um software polêmico que muitas vezes aplica uma maquiagem estranha na pele das pessoas.

Além disso, a sua canetinha, que é um grande diferencial e segue ganhando melhorias como maior duração da bateria e novas funções de uso. Sem falar do novo tamanho de tela, de enormes 6.8 polegadas em uma tela super amoled que sempre surpreende pela qualidade.

Mas a linha Note nem sempre foi um sucesso, um de seus antecessores, o Note7 foi o pivô de uma crise seríssima na empresa quando apresentou em vários lugares, problemas de superaquecimento e explosões, que o levaram a ser proibidos no embarque de aviões até.

Mais recentemente a empresa teve problemas com o seu inovador smartphone dobrável: Galaxy Fold, que precisou ter a distribuição suspensa para resolver problemas com a tela encontrados por famosos que receberam o aparelho antecipadamente para divulgação.

O resultado disso? A Samsung teve um aumento nas vendas de smartphones de 7.1% entre 2018 e 2019. Já a Apple, que não tem conseguido criar novidades significativas o suficiente em seus lançamentos, teve uma queda de 11.9% nas vendas do iPhone no mesmo período. A Huawei, que se tornou uma gigante nos últimos anos, aumentou suas vendas em 4.6% e a Xiaomi, queridinha por aqui pelos preços baixos e alta qualidade, cresceu 0.9%.

Os produtos e serviços estão mudando para atender cada vez mais as necessidades reais dos consumidores. O design pode resolver muitos problemas se for utilizado de forma correta e, além de ouvir o usuário, é importante considerar que ele é importante no processo de criação.

Marcos Tenório é Designer, Sócio da Kalulu Design&Comunicação, Mestrando em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco, Mentor do Armazém da Criatividade, Professor de Design de Interiores na Uninassau e de Design Gráfico na UNIFG. Criador do Podcast MaybeCast, nas principais plataformas.

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