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Privacidade na era da selfie

Por Marcos Tenório

Em um grande big brother, que acontece diariamente em nossas vidas, pensamos quais os limites de tanta exposição e até que ponto ela faz bem pra nossa individualidade, privacidade e segurança. Há até quem vá mais além: nossa saúde mental é afetada por tudo isso?

Nós curtimos a encenação de uma vida perfeita e cheia de cores e filtros, os brasileiros principalmente. Somos conhecidos como as pessoas que mais utilizam as redes sociais no mundo e isso só mostra o quanto queremos mostrar as nossas vidas para todos.

Confiamos bastante nos nossos gadgets conectados e os aplicativos  de mensagens e redes sociais prometem segurança dos dados e privacidade aprimorada mas, cada vez mais, vemos notícias de pessoas com informações roubadas, mensagens vazadas e fotos comprometedoras divulgadas.

Sejam mensagens sigilosas e muito sérias como as envolvendo candidatos a presidência dos Estados Unidos ou até as conversas atribuídas aos juízes brasileiros da operação Lava Jato. Nós percebemos que não estamos mais seguros, independentemente de clicar em algo suspeito.

Precisamos lembrar que temos empresas que intermediam nossas mensagens e elas são responsáveis pela segurança desses dados e, nem sempre, elas conseguem dar conta de tal volume de informações e acessos.

Voltando à exposição, nós, brazucas, amamos uma exposição e passamos bastante tempo fazendo isso, somos o terceiro maior público em uso da internet diária, passamos 9 horas e 14 minutos conectados, em média, perdemos apenas para os Tailandeses e Filipinos.

Boa parte desse tráfego está na troca de mensagens pelo Whatsapp, uso do Facebook e postagem de fotos no Instagram. Três serviços oferecidos por uma mesma empresa, o Facebook Inc. Isso significa que boa parte da nossa vida é confiada a apenas uma marca.

Com o crescimento da visibilidade das redes, uma nova modalidade de competição foi criada pelas pessoas: a quantidade de likes que suas fotos recebem. E a espera por esses likes começou a tornar-se algo preocupante para a saúde das pessoas.

Recentemente o Instagram escondeu o número de Likes das postagens para que apenas quem as fez possa ter acesso aos números. Isso aconteceu por conta do enorme mercado de venda de curtidas e seguidores que existe na plataforma e também pelos questionamentos à saúde mental dos usuários da rede.

Porque buscamos tanta aceitação para o que publicamos? Criamos uma realidade de um universo paralelo em que somos sempre felizes, bem sucedidos e com a pele perfeita e isso tem afetado as nossas cabeças de forma absurda.

O vício pelas vida conectada está se tornando um problema de saúde mundial. Chamado de nomofobia, o vício em smartphones já acendeu o alerta para os pais em todo o mundo e, ao invés de promover a conexão entre pessoas, vem causando solidão, isolamento e depressão.

Em 2017, a própria OMS já alertava para o aumento de casos de depressão no mundo. Em 10 anos, o número de depressivos no mundo aumentou em torno de 20%. Isso é tão sério que, no Reino unido, foi criada a Secretaria da Solidão, com foco em buscar soluções para casos de isolamento e solidão que se espalharam pelo país.

Um dos casos que ilustram esse isolamento tão absurdo é o de uma senhora de 70 anos que morreu em seu apartamento e apenas 6 anos depois, quando um oficial de justiça contratado pela imobiliária arrombou o apartamento e a descobriu. Seus vizinhos não perceberam que ela nunca mais havia saído do apartamento no qual morava, nem seus familiares a procuraram esse tempo todo.

Algumas pessoas vêm trilhando um caminho oposto ao da maioria, um maior distanciamento das redes sociais. Mesmo já tendo uma fama bem estabelecida nelas, o jornalista Igor Zahir considera o exagero de exposição e a qualidade do material postado por muita gente é baixa e eles perde uma boa oportunidade de escrever e compartilhar algo interessante em troca de apenas likes e mais fama. Para ele, tudo ficou chato e desinteressante e ele tem evitado postar fotos ou textos.

As redes sociais foram criadas como um novo elo entre as pessoas mas, aparentemente as pessoas substituíram o contato pessoal por um like ou um compartilhamento apenas. Que tal marcar um café ou um almoço com alguns de seus amigos do Facebook ou do Instagram? Você vai perceber que sentia falta disso.

Precisamos parar para fazer um Detox virtual.

Marcos Tenório é Designer, Sócio da Kalulu Design&Comunicação, Mestrando em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco, Mentor do Armazém da Criatividade, Professor de Design de Interiores na Uninassau e de Design Gráfico na UNIFG. Criador do Podcast MaybeCast, nas principais plataformas.

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