Por Miriam Spritzer
“The Boys” acaba de estrear e já está causando nas redes sociais e nos eventos de entretenimento pelos Estados Unidos. Em abril, a série teve uma primeira pré-estréia lotada no Tribeca Film Festival. Na semana passada, na San Diego Comic-Con SDCC não foi diferente: os fãs fizeram filas quilométricas para assistir o painel com os atores e produtores, bem como ver de perto o primeiro episódio alguns dias antes da estréia oficial, que foi no dia 26 de Julho.
A série baseada nos quadrinhos de Garth Ennis explora como seria se os super-heróis vivessem no nosso mundo real e atual e agissem como as celebridades e influenciadores.
Um dos motivos de tanto sucesso mesmo antes do lançamento, é o fato da série ser escrita por Eric Kripke. O roterista e produtor também é responsável por “Supernatural”, que encerrará este ano após quinze temporadas. “The Boys” é seu mais novo projeto, junto aos produtores Seth Rogen e Evan Goldberg.
Conversamos com Eric Kripke em Nova Iorque para falar sobre a nova série! Veja a seguir:
Como esse projeto surgiu para você?
Eu sou muito fã do Garth Ennis, e havia outra série de um dos meus quadrinhos favoritos que se chama “Preacher”, que é a minha favorita. O estúdio passou a produção para Seth Rogen e Evan Golberg produzir e eu fiquei indignado que não haviam me dado a série. Marquei uma reunião para reclamar. “Como vocês podem ter feito isso?”, pensei. Aí me falaram que havia a séria “The Boys” que eles também estavam produzindo, mas precisavam de um roteirista e diretor geral. E foi assim que fui selecionado.
O que você levou em consideração para montar essa história? Como foi abordar estes personagens?
A idéia era meio que perfurar o mito do super-herói. Está tudo tão grande hoje em dia, as pessoas só vão ao cinema assistir Marvel e outros filmes do estilo – e eu adoro todos, não perco um. Mas tinha curiosidade de ver o que aconteceria se os heróis fossem colocados no muito real, da forma mais realista possível. Eles seriam super-celebridades, teriam todo o ego e a corrupção que os grandes ricos e famosos muitas vezes tem. Empresas gigantescas, como uma Marvel, teriam que existir para gerir todo um mercado de produtos e serviços na volta deles. E aí entra a pergunta, o que uma pessoa normal sem grandes poderes ou recursos, como o personagem Hughie, pode fazer para se defender deles quando algum faz algo errado. Isso tudo foi o que me interessou nessa história.
Você conseguiu abordar na série diversos assuntos sérios que estão em voga nas discussões políticas e sociais. Como você trouxe isso para a história?
O que é legal sobre este gênero de série é que elas acabam sendo como uma metáfora. E isso permite que você possa falar do que quiser sobre o mundo real. E para mim foi uma oportunidade de falar sobre o mundo das celebridades, consumismo, politica e como tudo isso se junta para manipular a pessoa média. Mas muitas destas histórias já estavam no material original que Garth escreveu em 2005. Por exemplo, no primeiro episódio há um momento pesado do movimento “Me Too” (Eu Também), que foi escrito no comic boo muito antes do assunto ter a repercussão que está tendo hoje. Parece que ele já estava prevendo isso e o mundo infelizmente seguiu a previsão. Mas a gente sempre fala na sala dos roteiristas: Ruim para o mundo, ótimo para a série.
Os personagens de “The Boys” são muito interessantes. Geralmente no gênero de super-heróis, eles são pessoas com bons valores e honra, mas este não é o caso aqui. Não parece ter um personagem que é totalmente bom. Como foi isso?
É verdade, temos muita gente terrível nesta série. São apenas dois personagens que são do bem a série toda. E isso foi feito de propósito, porque precisávamos de alguém que o público pudesse torcer a favor. Temos uma super-heroína que é boa, a Starlight ou Andy, interpretada pro Erin Moriarty. E o Hughie, interpretado por Jack Quaid, que é uma pessoa comum. Os dois são jogados no meio da confusão toda. E conforme a série vai desenvolvendo eles criam um relacionamento, então há alguns pingos de esperança e bondade para contrastar com toda a perversidade dos outros personagens.
No caso destes personagens perversos, eles não são os típicos vilões. Eles são interessantes e carismáticos. Você acha que há alguma forma de o público se identificar ou torcer para eles também?
Eu não gosto de escrever vilões que são puramente ruins, sabe? Não é o meu estilo. Eu não acho que alguém se olha no espelho e diz “sou do mal” ou “vou fazer maldades hoje”, por pior pessoa que seja. Eles todos tem motivações e emoções conturbadas que fazem com que suas ações sejam assim. Eu gosto de tentar entender qual é o fundamento do problema deles. Por exemplo, temos o Deep, que é um personagem parecido com o Aquaman. Ele tem complexo de inferioridade porque ele fala com peixes grande parte do tempo e só é chamado para resolver crimes que tenham água. Então ele faz coisas terríveis porque é inseguro. Homelander, que é o tipo Superhomem, é um sociopata, ao mesmo tempo que é distante da humanidade ele quer ser humano. Eles são pessoas, por isso acho que há momentos que o público vai se identificar com eles.
Esperamos que seja só a parte boa!
Sim, podem se identificar, mas eu recomendo que não sigam eles como exemplo. Eles não são os super-heróis bonzinhos. Há personagens humanos na série que são legais, se quiserem podem seguir eles como exemplo. É mais seguro!