Por Marcos Tenório
Já parou pra pensar a quantidade de pessoas com alguma intolerância ou sensibilidade a certos tipos de alimento que estamos conhecendo atualmente? E por que os movimentos vegetarianos e veganos que têm crescido exponencialmente pelo mundo? O mercado está ouvindo essas pessoas e isso está mudando o que você come, para melhor.
Há algum tempo, por posicionamento ideológico, muita gente tem se tornado vegetariana ou vegana. A restrição de alimentos de origem animal vem se tornando cada vez mais comum por motivos que vão desde a empatia com sofrimento animal e também pela preservação de recursos naturais como água.
Mas o que a água tem a ver com isso? Nosso agronegócio é o maior consumidor de água do País e, para produzir um quilo de carne bovina, o consumo chega a 15 mil litros de água, um recurso que anda cada vez mais escasso e preocupante em um mundo com a população crescente.
Pensando nisso, surgem as FoodTechs, empresas com estilo de startups que pensam a tecnologia em favor da produção de alimentos. Essas empresas buscam otimizar os processos produtivos pensando nos gargalos que nós já conhecemos e também utilizar novas fontes de matérias-primas mais abundantes de sustentáveis.
Assim como as FinTechs, que utilizaram a base tecnológica das startups e recriaram os bancos, as FoodTechs se propõem a recriar o que nós comemos. A partir de pesquisas científicas e experimentos com a substituição de ingredientes, aumentando assim os nutrientes ou reduzindo os riscos de reação a algum componente da fórmula como lactose, glúten, ovos, entre outras tantas restrições.
A NotCo é uma empresa Chilena que está ganhando os holofotes mundiais, criada por um trio de amigos – Pablo Zamora, Matías Muchníck e Karim Pichara – com apenas US$ 250 mil, ela recebeu um grande aporte recentemente do homem mais rico do mundo. Jeff Bezos, o dono da Amazon fez o seu primeiro investimento na América Latina justamente em uma empresa FoodTech.
O primeiro produto da NotCo já foi lançado no Chile e chegou a uma grande rede de supermercados no Brasil, a NotMayo é uma não maionese, chamada assim por não conter ovos em sua composição, no lugar deles, é usado o grão de bico, óleo de canola, semente de mostarda e vinagre de uva.
A empresa promete o mesmo sabor da maionese super calórica que conhecemos, para isso, eles usam inteligência artificial – chamada de Chef Giuseppe – para fazer combinações entre ingredientes para chegar o mais próximo possível do sabor original. Os próximos lançamentos previstos são o NotMilk, sem leite de vaca nem soja e o NotIceCream.
A Nuggs é outro exemplo disso, criada por Ben Pasternak, um jovem australiano de apenas 19 anos que se preocupou em explorar grandes problemas e formas de resolvê-los. Ele percebeu que a produção de proteína animal era um grande problema e focou nos conhecidos – e condenados por muitos – nuggets que fazem sucesso no mundo todo.
Com o slogan: “Te mata mais devagar”, ele lançou um produto que tem 22g de proteína e 180 calorias (ou seja: cerca de duas vezes mais proteína e 20% menos calorias do que o empanado de frango que conhecemos), além de zero colesterol. O segredo dele? Ervilha. Além disso, sua forma de comercialização é centralizada em seu website, para garantir a qualidade do produto.
Dessa forma, o produto atende, além das pessoas que têm algum tipo de restrição, as que decidiram ter uma dieta menos calórica e com mais proteínas. Um movimento mundial que vem crescendo a cada dia de maiores cuidados com a alimentação.
Grandes redes de fast-food estão de olho nesse mercado, a rede americana Burger King está testando o Impossible Whopper, uma versão vegana do seu famoso sanduíche, utilizando a matéria prima da Impossible Foods, uma das maiores fabricantes de Carne plant-based do mundo, que concorre com a Beyond Meat, ambas têm sua própria versão do sangue da carne feito a partir de uma molécula chamada heme ou de beterraba.
O Brasil, maior produtor de alimentos do mundo, também possui FoodTechs. A maioria presta serviços de gestão de empresas alimentícias em pontos de venda ou de gerenciamento do estoque.
Outras se propõem a criar soluções personalizadas de alimentação para quem não tem tempo ou não sabe cozinhar. Um estudo da LIGA Insights mapeou essas empresas no país inteiro e conseguiu identificar 332 startups que trabalham a cadeia de alimentação, dividindo-as em 16 categorias.
A Liga dividiu as FoodTechs em: Alimentação em casa e no trabalho, Farm-to-table, Gestão do varejo, Informação e Orientação, Logística e Entrega, marketplace de alimentos e delivery, marketplace B2B, marketplace para a produção, Novos Alimentos e Bebidas, Novos Canais de Vendas, Promoção do Varejo, Qualidade e Monitoramento, Reaproveitamento de Resíduos e Descartes, Serviços em Bebidas, Shoppers e Tecnologias para Produção.
A mais famosa delas é o iFood, considerada um unicórnio, nome que se dá a startups que alcançam o valor de US$ 1 bilhão no mercado. O aplicativo recebe cerca de 500 mil pedidos por dia e foca suas atividades no delivery. Figura nas categorias de delivery, marketplace e logística.
O estudo lista várias empresas que trabalham todas as etapas do processo produtivo de alimentação, a maioria delas focadas na venda e distribuição dos produtos. As categorias de desenvolvimento listam 43 empresas que propõem a criação de novos alimentos e 54 de tecnologias para produção.
Recentemente, a Behind the Foods, fundada por Leandro Mendes e Maria Luiza Mendes, lançou o seu Hambúrguer Plant Based, feito completamente a partir de origem vegetal, sem proteína animal.
A “carne” da Behind The Foods é criada com um blend de batatas, jaca, goma xantana e proteína isolada de soja. A parte líquida, que imita o sangue, é composta por extratos naturais de beterraba e urucum. Já a gordura é de óleo de coco e de palma.
A empresa avalia que uma porção de 100 g do hambúrguer vegano tenha 87 calorias, 4,8 gramas de carboidratos, 12 gramas de proteínas e 5,8 gramas de gorduras totais, 1,4 gramas de fibras alimentares e 218 miligramas de sódio. O alimento também possui 1,8g de gordura saturada e não possui gordura trans.
O lançamento do produto aconteceu no dia 11 de junho em uma hamburgueria de São Paulo e a distribuição está sendo feita para 10 hamburguerias em São Paulo e Rio de Janeiro inicialmente. A ideia é vender porções de 1kg que possam ser moldadas para criar Hambúrgueres, Kafta, Almôndega ou outros produtos derivados.
O futuro da nossa alimentação passa pela reinvenção de nossos processos e melhoria dos produtos sustentáveis. Não é porque é saudável que não pode ser gostoso e as FoodTechs estão aí para resolver essa lacuna, criando novos sabores, novos produtos e novas texturas que se aproximam do original. Sua comida está precisando de uma atualização!
Uma coisa é certa, o quadro nutricional é um grande ponto positivo desses novos alimentos, muitas vezes com dados bem mais positivos que os alimentos que eles se propõem a substituir. Mas ainda é necessário criar novas soluções com preços mais próximos dos originais pois, essa realidade ainda está muito distante da maioria das pessoas.
Quer fazer sugestões de temas para a coluna? Escreva para contato@marcostenorio.com
Marcos Tenório é designer, sócio da Kalulu Design&Comunicação, mestrando em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco, mentor de Design no Armazém da Criatividade e professor em Design de Interiores na Uninassau. Criador do Podcast MaybeCast, nas principais plataformas.