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Nostalgia nossa de cada dia

Por Marcos Tenório

A tecnologia evolui rapidamente e, muitas vezes, não temos nem tempo de nos acostumarmos com as novidades e elas já viram obsoletas. Na informática, a chamada lei de Moore, criada pela Intel, diz que todos os chips se tornam defasados a cada 18 meses.

Isso faz com que a indústria da tecnologia esteja em constante busca por criar novas soluções para evitar que essa lei seja quebrada. Surgem sempre novos smartphones, computadores, tablets, smartwatches e outros gadgets que preenchem nossos desejos.

Ainda assim, estamos sempre voltando nossos olhares para o passado, lembrando sempre como era melhor isso ou aquilo. Como as coisas não quebravam tão facilmente ou até mesmo do chiado das nossas músicas nada digitais que tocavam em vinis e cassetes.

Criado em 1979, pela Sony, o walkman foi o queridinho de uma geração que, pela primeira vez poderia levar a música para onde quisesse. Esse aparelhinho de 40 anos era capaz de tocar fitas cassete e poderia ser preso no seu cinto para maior comodidade e mobilidade.

Volta e meia o mercado é sacudido por movimentos de retorno ao passado, um sentimento de nostalgia delicioso que toma conta de nós, consumidores, por conta de séries, filmes e tendências da moda que estão sempre indo e vindo.

Atualmente em sua terceira temporada, “Stranger Things, série da Netflix, está mexendo com a memória de pessoas, como eu, que cresceram nos anos 1980 com suas referências e a turminha corajosa que enfrenta monstros do mundo invertido, que sempre atacam a estranhamente famosa e sofrida cidade de Hawkins.

Nessa temporada, que estreou no último dia 4 de julho, eles descobrem que Demogorgon mandou um representante (medonho, diga-se de passagem) para encontrar nossa querida Onze (ou Eleven na versão original) que, ao som de Material Girl e muito spray de cabelo (com permanente), descobre as delícias do shopping center recém inaugurado na cidade.

Ainda brinca com temas recorrentes da época da guerra fria como a espionagem russa e a explosão dos shopping centers nos Estados Unidos que esvaziou os centros das cidades quando tornaram-se o principais pontos de encontro dos jovens americanos.

Outra tecnologia do passado que a série explora é o rádio amador, que existia em muitos lugares do globo e era usado para comunicação ou curiosidade. Nesse caso Dustin usa pra falar com a sua misteriosa namorada Suzie, que ninguém acredita que exista. mas eles acabam ouvindo outras coisas durante as tentativas do garoto em falar com ela.

Com o tom de sessão da tarde assustadora, no melhor estilo das produções das décadas de 1980 e 90, a temporada mantém o mesmo nível de qualidade e mexe com as nossas memórias (me perdoe quem não tem mais de 30, mas a TV era bem mais divertida na minha infância).

Esse movimento vintage/retrô na música já vem acontecendo há algum tempo com o retorno do disco em vinil, declarado morto em meados de 1990. É cada vez mais comum encontrar lançamentos que acontecem paralelamente nos serviços digitais, em CDs e nos LPs. Recentemente Madonna lançou o novo álbum “Madame X” em streaming, CD, LP e Cassete.

Não é falta de CDs ou streamings com o mesmo conteúdo dos clássicos bolachões, mas quem os busca, de forma até fetichista, quer encontrar o som rústico, com chiados característicos do encontro da agulha com os riscos impressos na no disco de vinil.

Será mesmo que antigamente as coisas eram melhores? Ou estamos em busca de um passado romantizado que criamos em nossas cabeças?

Sempre que surge uma nova tecnologia, chega também uma ameaça às tecnologias vigentes. O cassete substituiu o vinil e foi substituído pelo CD, que está com os dias contados desde o surgimento do streaming e suas imensas possibilidades.

A qualidade dos streamings é idêntica ou até superior à dos CDs e DVDs, que estão em ameaça de ter o mesmo destino de cassetes e vinis no passado (para talvez voltarem em uns 10 anos, da mesma forma que os seus companheiros mais velhos). Mas estamos sempre em busca dessa memória afetiva com a música do passado.

Marcos Tenório é Designer, Sócio da Kalulu Design&Comunicação, Mestrando em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco e professor de Materiais e Tendências e Design Universal em Design de Interiores na Uninassau.

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