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A saga da Inteligência artificial nas telas 

Por Marcos Tenório  
A Inteligência Artificial [AI] é um tema recorrente em filmes e séries. Discutida desde a década de 1960 por Stanley Kubrick em “2001: Uma Odisseia no Espaço“, ultimamente houve uma retomada dessa temática que vem sendo debatida de diversas formas, positivas e negativas, nos produtos audiovisuais. 

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Já no ano de 2001, Stanley Kubrick trouxe ao mundo a fábula de um menino-robô que buscava ser amado. Projetado para substituir os filhos em uma sociedade pós-aquecimento global e com sérias restrições alimentares causadas pela mudança climática, a sociedade tem regras severas de controle de natalidade. 

Nele, David é um robô criado em forma de testes e entregue a uma família que aguardava a cura para a doença de seu filho, conservado em criogenia. O filme “Inteligência Artificial” foi concluído por Steven Spielberg após a morte de Kubrick, e trata justamente da busca do herói pela aceitação dos humanos e pelo amor de sua “mãe”. 

Em 2015, sob a direção de Alex Garland,Ex Machina” traz a história de um programador selecionado em sua empresa para participar de testes de uma robô chamada Eve, e identificar se sua inteligência artificial é suficientemente evoluída. 

Aplicando o teste de Turing, chamado de “Jogo da Imitação” (vale a pena ver o filme homônimo também, que conta a história da criação da informática pelo cientista Alan Turing). Nesse jogo, o cientista propõe que o computador consiga imitar a linguagem e o pensamento humano. E é justamente sobre isso que o filme trata: testada à exaustão, Eve conseguirá se comportar como uma humana? 

Esse limite entre o que é máquina e o que é humano é colocado à prova exaustivamente em “Westworld, série de ficção da HBO, com estreia da terceira temporada prevista para 2020. Baseada no filme de mesmo de 1973 escrito e dirigido por Michael Crichton, a série trata de um parque de diversões povoado por robôs onde os humanos participam da rotina criada por Robert Ford, interpretado sempre majestosamente por Anthony Hopkins. 

As rotinas começam a mudar quando os robôs percebem que suas existências estão presas em um roteiro, e começam a questionar sua realidade e o seu papel no mundo.  

É muito interessante acompanhar a evolução das grandes personagens Dolores Albernathy (Evan Rachel Wood) e da maravilhosa Maeve Millay (Thandie Newton), na busca de respostas para suas indagações, muitas vezes filosóficas. 

Por outro lado, o longa-metragem “Ela” [2013], de Spike Jonze, exibe um futuro aparentemente próximo, no qual uma inteligência artificial intangível chamada Samantha (com voz aconchegante de Scarlett Johansson), instalada em diversos devices de Theodore (interpretado muito bem por Joaquin Phoenix). A atuação de Scarlett Johansson neste filme deu a ela o prêmio de melhor atriz no Rome Film Festival, gerando debate sobre a premiação ser concedida a uma atriz que teve “apenas” a sua voz em cena. 

No filme, Theodore – que claramente tem problemas em se relacionar com pessoas reais – se apaixona por Samantha e desenvolve uma relação íntima e delicada com a voz tão presente em seu dia a dia. Mais uma vez trazendo o teste de Turing para a discussão, nessa história o computador tem grande sucesso e se comporta perfeitamente como humano, mesmo existindo num plano subjetivo. 

Dá até pra traçar paralelos como nossa vida, regrada por redes sociais e intermediadas por interfaces computadorizadas. Mas tudo isso não é ficção somente: hoje interagimos diariamente com inteligências artificiais bem estabelecidas. 

Investimentos pesados em AI do Facebook já fazem parte do nosso dia a dia. O Google também tem algoritmos muito bem evoluídos. Em ambos, nós conseguimos identificar rostos de pessoas que nem são nossas amigas nas redes, o próprio sistema reconhece os traços e sugere a marcação na rede ou no Google Fotos. 

Os sistemas operacionais também estão aprendendo como acontece o nosso uso: o machine learning permite que os teclados aprendam as palavras que nós usamos, independentemente de elas serem publicadas em algum dicionário, assim, os neologismos agora podem ser reconhecidos e com a digitação facilitada. 

Não sei se chegaremos à realidade exposta por “Wall-e”: em que a Terra padece e a humanidade foge daqui, na qual viraremos pessoas presas em uma rotina sedentária fora do planeta, servidos por robôs que fazem todas as atividades que poderíamos fazer. Mas estamos vendo, a cada dia, a chegada de novidades com a inteligência artificial inserindo-se em tudo que faz parte do nosso cotidiano. 

As dores e delícias dessa imersão ainda não são muito claras, mas as facilidades trazidas por elas têm sido bem recebidas. Resta a nós refletir sobre o nosso futuro e as possibilidades trazidas pelos avanços da tecnologia, na maioria das vezes com bastante benefícios. A discussão vale a pena, mas não se preocupem em questionar a natureza da sua humanidade, como é feita diversas vezes nos filmes e série que falei, essa realidade ainda está um pouco distante. 

Marcos Tenório é Designer, Sócio da Kalulu Design&Comunicação, Mestrando em Design de Artefatos Digitais pela Universidade Federal de Pernambuco e professor de Materiais e Tendências em Design de Interiores na Uninassau. 

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