Rafael Vettori é advogado formado pela PUC-SP e tem passagem por alguns dos maiores escritórios de advocacia do Brasil. Trocou o direito empresarial pela comunicação e, nessa virada, cursou artes dramáticas na Escola Superior de Artes Célia Helena, direção de cinema na New York Film Academy e planejamento de comunicação na Miami Ad School. Com as novas ferramentas, tornou-se produtor executivo de TV e cinema na Prodigo Films. Em seguida, integrou o time da Box 1824, empresa de pesquisa que antecipa tendências em consumo, comportamento e inovação. Atualmente, por meio do Panda Criativo, organiza projetos culturais relevantes sendo o principal o Festival Path – maior e mais diverso evento de inovação e criatividade do País, que acontece nos dias 1º e 2 de junho, na Avenida Paulista.
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Leia a seguir íntegra da entrevista com Vettori.
1) Como surgiu a ideia de criar o Festival Path e por quê?
Rafael Vettori: O Path nasceu a partir de uma vivência no SXSW. Fui parar no festival americano em 2013 por um acaso, depois de tomar conhecimento sobre ele durante uma sessão de mentoria. A mentora, Barbara Soalheiro, comentou en passant que iria palestrar num evento que mesclava tecnologia, arte e empreendedorismo, e aquilo ficou na minha cabeça. Eu estava super desencontrado profissionalmente, já havia tentado um monte de coisas sem sucesso. Mas ao mesmo tempo estava inquieto, querendo fazer algo novo sem saber o quê. Lá vi muita coisa legal, aprendi e fui apresentado a outras realidades muito ricas. Então a ficha caiu pra mim: a gente pode fazer o que quiser com garra, sorte, criatividade e informação. Em resumo, o Path surgiu para fazer com que essa ficha caísse para mais pessoas.
2) Como é feita a escolha dos convidados, palestrantes atrações musicais etc.?
Vettori: A curadoria é a parte mais delicada do evento, e demoramos um ano inteiro no processo. Para as palestras, recrutamos um time de curadores experts nos mais diversos assuntos, ao mesmo tempo em que temos um time interno na empresa que pesquisa e prospecta novos palestrantes. Já o line-up de shows é criado para apresentar, de forma coesa, novos artistas ao público. A coesão é muito importante nessa área, porque um festival de música tem que ter uma proposta clara. Então são feitos vários exercícios de grade, vamos chamar assim, até se chegar no line-up final. A parte de filmes, para mim a mais desafiadora em termos de curadoria, em 2019 foi feita em conjunto com o Festival de Finos Filmes, o que foi uma experiência bem legal.
3) O que muda ano a ano nas apresentações e na percepção do público?
Vettori: A gente tenta melhorar de ano para ano, claro, e, nesse processo contínuo, decidimos por não repetir atrações de um ano para o outro. Essa regrinha de ouro faz com que a gente cumpra nossa missão de ser um festival de inovação e criatividade, cujo conteúdo não se repete. Passado o evento, voltamos para a prancheta e largamos do zero mais uma vez, para meu deleite. Essa é a beleza do negócio e tenho certeza que o público percebe o cuidado que temos.
4) Cite três momentos marcantes da história do festival.
Vettori: O que mais me marcou até hoje foi a mudança do Path da Rua Augusta (onde nascemos) para o bairro de Pinheiros. Nesse momento, em 2015, vi que estávamos jogando para valer. Outro foi a palestra do Prem Baba em 2017. Muita gente comprou ingresso só para vê-lo, ele estava no auge, e as filas para sua palestra se estenderam por todos os andares do Tomie Ohtake. Era o caos! Para completar, assim que ele pisou no palco, houve uma queda de energia e, quando ele convidou os presentes para uma meditação, a luz voltou. De arrepiar. Em 2018 foi a vez do Rubel, um cantor para mim desconhecido mas com um séquito gigante de adoradores, deixar a produção de cabelo em pé. Os fãs dele começaram a nos ligar meses antes do Path, querendo saber detalhes da apresentação (no Path os shows são gratuitos, de livre acesso). Fiquei alarmado e pedi pra que ele se apresentasse no palco maior, na praça, em vez de no menor, que era numa varanda pequena dentro do Tomie. Ouvi um sonoro “não” e tivemos que fazer uma operação de guerra para que o show transcorresse sem problemas.
5) Fale um pouco sobre o tema deste ano, diversidade, e o porquê da escolha.
Vettori: Diversidade é algo super sério para nós, e não só um tema. Tentamos incorporá-la na nossa curadoria, comunicação, equipe, times de produção e, principalmente, no público. A gente acredita que inovação de verdade só acontece com diversidade. Por isso ela é o grande “guarda-chuva” do evento, não só neste ano, mas em todos.
6) Qual a expectativa com a feira gastronômica, evento aberto que vai reunir uma variedade interessantes de cozinhas?
Vettori: Nós sempre convidamos foodtrucks e, em 2019, quisemos fazer algo diferente, para marcar essa ida para a Paulista. Por isso convidamos bares e restaurantes premiados para se instalarem no evento. A expectativa é que eles matem a fome da galera com pratos rápidos, simples e gostosos. Comida de rua em sua melhor forma!
7) A previsão é de que cerca de 20 mil pessoas participem das 200 palestras e workshops que permeiam o festival, como é esse retorno para a coordenação do evento, pois a participação é enorme?
Vettori: A produção do evento é sempre feita com muito rigor, ainda mais neste ano em que estamos de mudança. Tentamos antecipar e remediar toda situação que possa ocasionar aborrecimentos, para nós ou para o público. Não é tarefa simples, dada a magnitude que o Path ganhou. Mas o time está afiado!
8) Como você avalia o crescimento do festival nesses sete anos de exibição?
Vettori: Nascemos pequenos, sonhando alto mas com uma produção quase artesanal. A primeira edição teve cartazes impressos em casa e amigos palestrando. Ninguém entendeu direito a nossa proposta no começo (risos) mas a moda pegou e como. Hoje há muitos “Paths” espalhados pelo País, o que me enche de orgulho. Entre 2015 e 2018 tivemos um período de crescimento controlado, dados os limites estruturais do bairro de Pinheiros. Agora, na Paulista, o céu é o limite. Temos muito público para conquistar, muita gente que ainda não conhece o nosso trabalho e pode se beneficiar dele.
9) Quais são expectativas e planos para 2020?
Vettori: Ocupar a Paulista toda, atrair mais pessoas de fora de São Paulo, gerar mais negócios e oportunidades, ter mais palestrantes estrangeiros. Tudo é possível, mas damos um passo de cada vez.