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Paris: mostra faz visitantes imergirem em obras de Van Gogh

A vida de Vincent Van Gogh é o foco de uma experiência imersiva no L’Atelier des Lumières, o primeiro museu de arte digital em uma antiga fundição abandonada no boêmio 11º arrondissement, perto do Cemitério Pére-Lachaise, no Marais, em Paris, na França.

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No local, são exibidas centenas de obras do pintor holandês transformadas com uso de tecnologias artísticas e musicais manuseadas por um sistema de notebooks, projetores e tablados móveis. Por 35 minutos, os visitantes passam por todo o período de produção de Van Gogh, entrando em contato com alguns dos seus grandes trabalhos, como “Os Girassóis” (1888) e “Céu Estrelado“, pintado um ano depois.

Um dos grandes atrativos da mostra é o uso de música contemporânea: canções como “Don’t Let Me Be Misunderstood“, de Nina Simone, ressoam ao redor da fundição enquanto o público aprecia as telas projetadas nas paredes. Todas as músicas têm alguma relação com os quadros: nesta, da cantora estadunidense, a letra – que revela o choro do eu-lírico por não ser compreendido em seu período de obscuridade – se conecta a A Sesta, pintada por ele em 1890 quando vivia em um asilo em Auvers-sur-Oise, na França.

Grandes bolhas de pinturas – roxas, rosas, verdes, amarelas, laranjas – iluminam as paredes, o chão e o teto. Seu pincel se torna parte de todo o processo: pinceladas profundas e decisivas transformam o vazio da fundição em um espaço todo colorido. “Os Girassóis”, sua obra mais famosa, se torna um buquê de flores com pétalas multicoloridas.

Um pequeno guia exibido entre as telas explicam a influência da arte japonesa no trabalho de Van Gogh. Uma peça especialmente apresentada, “Japão Sonhado: Imagens de um Mundo Flutuante“, relata a beleza simples das flores de cerejeira, guerreiros, samurais e espíritos. Crianças encantadas circulam o chão da fundição quando as ondas batem ao redor dela ao som do clássico La Mer, do compositor francês Claude Debussy (1862-1918) e de batidas rápidas de tambores nipônicos.

Van Gogh viveu em diferentes lugares durante sua vida, e todas as mudanças se refletem em sua arte. Nos dias antes de deixar o asilo em Saint-Rémy-de-Provence, ele produziu uma série de telas com flores cortadas, incluindo rosas e anêmonas.

A mostra começou em abril do ano passado, quando cerca de 1,2 milhão de pessoas viram a primeira mostra. Ela é operada pela Culturespace, que se especializou em organizar exposições de arte imersiva. O diretor da exibição, Bruno Monnier, disse ao jornal britânico “The Guardian” que as cores dos quadros de Van Gogh oferecem as cores e os temas perfeitos para uma experiência desse tipo. “As telas transformadas em história da arte e tecnologia digital podem ser uma excelente maneira de entender o mundo”.

Dentro de um tanque de água, uma seleção dos quadros mais famosos de Van Gogh é representada inteiramente, acompanhada por comentários sobre sua vida, a arte e o museu em que as obras estão sendo exibidas. Um aplicativo gratuito para celulares também oferece explicações sobre todos os trabalhos. As pinceladas em espiral e a escuridão atrás das torres da cidade, as paredes vazias e o tanque abaixo transformam, por exemplo, o clássico “Céu Estrelado”. Ele parece em movimento com a água à medida que as estrelas e as luzes da cidade são refletidas sobre os espectadores.

Em outra ala, as paredes do ateliê se escurecem em um azul-escuro: um caminho iluminado leva ao quadro “A Igreja de Auvers” (1890), que representa o templo gótico de Auvers, cidade francesa em que ele viveu a 33 km de Paris. Pintada durante os últimos dias em Saint-Rémy-de-Provence, a tela simples retrata sua nostalgia da casa que deixou para trás na Holanda.

Para finalizar, o som de uma chuva forte preenche o ambiente, tornando-se quase ensurdecedora quando raios e trovões emergem sobre a cabeça. Então, um som de trigo balançando com o vento e os tons dourados de “Campo de Trigo com Corvos” (1890) iluminam o chão. Quando os pássaros levantam voo, fica impossível ver o céu. Nessa mesma sala está um dos autorretratos do pintor.

“É um lugar mágico: uma mistura de luzes, músicas e movimento que torna a experiência magnífica”, comenta Claudine Guillerm, que visitou a mostra em março. A exibição ficará aberta até o último dia deste ano.

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