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Camila Márdila: de ‘Que Horas ela Volta?’ para a TV empoderada

Você provavelmente conhece Camila Márdila por sua atuação no filme “Que Horas Ela Volta?”, no papel de Jéssica, filha de da empregada doméstica Val (Regina Casé). O filme, que lhe rendeu um prêmio no Festival Sundance e foi indicado para representar o Brasil no Oscar, alavancou a carreira da atriz de 30 anos, mas aquele foi um passo de vários que viriam a seguir, marcados principalmente por trabalhos nas minisséries globais “Justiça” e “Treze Dias Longe do Sol”. 

“Quando eu era criança, costumava juntar minhas amigas de escola e dirigi-las, inventar peças. Foi aí que minha mãe perguntou se eu queria estudar isso”, conta a atriz, atualmente no ar em “Onde Nascem os Fortes”, sobre o meio que achou para vencer sua timidez e se expressar com uma facilidade que normalmente não tinha. 

Camila decidiu estudar Comunicação Social e aprender mais sobre os bastidores do que antes era só um hobby. Enquanto trabalhou na área de marketing, a então estudante se deu conta que seu lugar era realmente na atuação. “Apesar de ter feito faculdade de comunicação, ter trabalhado com outras coisas, o teatro sempre esteve ali, em paralelo”, lembrou a atriz.

Ápice

Quando surgiu a possibilidade de fazer um teste para um filme de Anna Muylaert, Camila se animou desde o começo, apenas imaginando a possibilidade de conhecer a diretora e roteirista. “Quando rolou e a gente começou a conversar, tivemos certeza que [“Que Horas Ela Volta?”] era uma história, um filme que ia marcar. Mas só quando ele estreou que tivemos a dimensão da potência dele na relação com o público”, ela diz sobre a obra lançada em 2015.

Para Camila, Jéssica representa o ápice na carreira de atriz que sonhava ter, já que a personagem simboliza a junção de um discurso artístico com um discurso político. “Jéssica foi para o mundo, muito mais do que foi uma personagem minha ou da minha carreira. O mais incrível nesse trabalho, que me formou na minha história como atriz, foi ter a oportunidade de fazer uma personagem tão representativa”, analisa. 

Dos palcos para as telas

Camila iniciou sua carreira no teatro, mas foi na telona que teve seu nome reconhecido. Atualmente, a TV é a plataforma na qual da continuidade ao seu trabalho. “A nossa escola base, primordial é o teatro, esse espaço autoral, íntimo, um trabalho sempre de muita pesquisa e muito estudo. O cinema veio a partir de um reflexo de coisas que já estavam acontecendo pra mim no teatro e, como teve uma grande repercussão, veio esse convite da TV”, conta a atriz.

Para ela, as coisas foram acontecendo de uma maneira natural e, apesar de sentir diferença no funcionamento entre os meios, a adaptação  à rotina da televisão veio sem traumas, principalmente por ter participado de trabalhos com caráter muito cinematográfico. “Tem muito de chegar e observar, no dia a dia, você entende pequenas nuances e vai se adaptando”, explica.

Gravar num cenário como a Paraíba também ajuda. Foi o que aconteceu na série “Onde Nascem os Fortes”, em que Camila dá vida à Aldina, personagem braço-direito de um líder religioso à frente de uma comunidade carente. As paisagens das locações, além de inspiradoras, ajudaram a atriz a se concentrar no personagem, a esquecer a loucura do cotidiano da metrópole e a mergulhar na trama. 

Comunicadora

A faculdade de Comunicação Social, feita na Universidade de Brasília, deu não apenas um diploma a Camila, mas também bagagem para discutir diversos assuntos. Um exemplo disso vem no comentário que faz sobre a bilheteria de “Que Horas Ela Volta?”. As sessões do filme passaram a encher quando a obra foi indicada ao Oscar. Na visão de Camila, isso exemplifica a educação preconceituosa do público em relação ao cinema brasileiro.

“É a nossa cultura, nossa maneira de ver as coisas, tá entranhado na nossa síndrome de achar que o que vem de fora é muito melhor. O resultado é um país que não necessariamente apoia o que produz”, avalia a atriz, que é a favor de medidas para que o cinema nacional seja melhor apresentado. “Muitas vezes ele fica restrito a festivais, lugares alternativos de apresentação, sessões em horários ruins e isso faz com que nossos filmes sejam renegados”, avalia.

Mas Camila já enxerga uma mudança no cenário da televisão brasileira, que se esforça para se adaptar às demandas da juventude, sua nova fonte de audiência.

“Esse público jovem quer se ver representado, não compra qualquer discurso, quer uma informação rebuscada, complexa, não está atrás de facilidade ou um entretenimento qualquer. A TV já está considerando isso, a diversidade, os discursos políticos, o empoderamento, e eu espero que isso passe a acontecer de uma forma que essa geração seja incorporada nas produções. Os conteúdos não podem envelhecer e a televisão tem o trabalho de absorver o que a sociedade demanda”.

A atriz confessa que tem dificuldade em enxergar um futuro a longo prazo, mas que espera cada vez mais poder trabalhar com conteúdos autorais. “Tenho o desejo que as obras se tornem cada vez mais coletivas, porque sempre vejo maior tesão na criação, no encontro com as pessoas, na troca de ideias e na experimentação de linguagem, de relações com o público”, conclui. 

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