Nesta quarta-feira (16), o tapete vermelho da pré-estreia do filme “Dogman” foi marcado por um protesto da equipe do filme brasileiro “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”.
Os produtores Thiago Macedo Correia, Ricardo Alves Jr, Isabella Nader, os diretores Renee Nader Messora e João Salaviza e os protagonistas Ihjac Kraho e Koto Krah levaram placas reivindicando a demarcação de terras indígenas no Brasil durante o evento de gala do Festival de Cinema de Cannes.
“Pare o genocídio indígena”, “Marco temporal não” e “Demarcação já” eram algum dos dizeres dos cartazes, que foram escritos em português, inglês e francês.
Apesar do trabalho da FUNAI para promover a demarcação de terras indígenas no Brasil, o processo ainda é árduo e passa pela aprovação do Ministério da Justiça. O choque de interessasse entre ruralistas e povos indígenas é um dos fatores que dificulta a entrega da posse da área para as aldeias que ali vivem.
A questão foi identificada pela ONU em maio 2017, que indicou em seu relatório: “É motivo de preocupação o fracasso do estado em proteger as terras indígenas de atividades ilegais, especialmente em mineração e madeireiros”.
De acordo com dados do Instituto Socioambiental, Temer é o presidente que menos homologou terras indígenas no Brasil desde a redemocratização. No período à frente do Executivo, o político sancionou apenas uma reserva destinada aos indígenas. Três outros processos ainda aguardam um parecer de Brasília.
O chamado “marco temporal” para a demarcação de terras indígenas foi assinado pelo presidente Michel Temer em julho do último ano. O texto estipula que os índios só têm direito sobre as terras caso tenham se estabelecido nelas antes da Constituição de 1988 ter entrado em vigor.
Filme
“Chuva é cantoria na aldeia dos mortos” está em exibição na sessão Un Certain Regard do festival e é baseado na experiência da equipe que passou nove meses morando na aldeia Pedra Branca, no Tocantins.
O filme, que é a junção de documentário com ficção, conta a história de um jovem índio que foge para a cidade, tentando escapar de um feitiço feito por um pajé. “Mais do que um filme brasileiro, este é um filme indígena – porque é um outro Brasil, uma língua que o Brasil sequer reconhece”, explicou a co-diretora Renee Nader Messora, em entrevista para o site Mulher no Cinema.
“Acho que o Festival de Cannes se interessar por um Brasil que o próprio Brasil nega é incrível”, diz.