Ao ver uma obra do pintor paulistano Luiz Escañuela, você é capaz de jurar que está diante de uma fotografia. Sua amizade com os lápis e pincéis é antiga – começou na infância – mas há pelo menos dois anos anos ele trabalha retratando mãos e rostos com a perfeição das lentes de uma câmera.
“Acho que tudo começou quando assisti a Titanic pela primeira vez e vi o Jack desenhando a Rose, naquela cena clássica. Achei o máximo como os rabiscos podiam ficar parecidos com o que ele via em sua frente”, diz o artista em entrevista a RG.
Até chegar à técnica atual – por motivos óbvios, chamada de hiper-realismo – ele passou por diferentes tentativas de imitar a vida real: na infância, pausava filmes no vídeo cassete, colocava uma folha na tela da televisão e copiava o desenho passando o lápis por cima.
“Foi aí que começou minha relação com mímese da realidade”, lembra, aos 24 anos.
Sua última obra, “Vias”, será exposta com destaque na SPArte deste ano, em abril, pela Galeria Luis Maluf, sua atual representante. Em novembro, mas ainda sem data certa definida, Luiz fará a primeira mostra individual de sua carreira.
Flashback
Até o fim do curso técnico em Comunicação Visual no Centro Paula Souza, Luiz imaginava que arte teria espaço de hobby em sua vida – ou no máximo um trabalho paralelo, quem sabe. Ele começou a estudar Design Gráfico e a trabalhar na área, até que uma bolsa de estudos mudou tudo.
“Aos 20 anos, enfrentei uma depressão complicada e consegui sair, aos poucos, criando uma série de desenhos que batizei de Símio. Foi minha primeira série autoral e, mais tarde, a porta de entrada para a Faculdade Belas Artes, que me ofereceu uma bolsa no curso de artes”, lembra.
Na faculdade, Luiz conheceu o trabalho de uma série de artistas brasileiros com quem não tinha contato até então. “Isso mudou minha percepção de arte”, diz.
Nomes como Adriana Varejão, Hélio Oiticica e Marcos Beccari estão presentes em sua formação, embora usem técnicas e conceitos totalmente diferentes do que se vê nas telas de Escañuela.
Mímese
“A pintura hiper-realista não é muito querida entre classes mais intelectuais de pintores. Muitos acreditam que é uma técnica esgotada e que não representa nada, apenas imita a realidade. Isso é uma grande bobagem, acho que ainda há muito a ser descoberto nessa área”, defende.
Prova disso é que, além dele, há outros artistas hiper-realistas muito bem-sucedidos mundo afora – é o caso do italiano Marco Grassi, uma das maiores inspirações de Luiz.
Para desenvolver suas telas, o pintor precisa ter um profundo conhecimento de anatomia humana – pelo menos sobre pele, fluxo sanguíneo, crescimento de pelos e marcas de expressão, percepções que fazem toda a diferença em seu trabalho.
“Apesar de todos esses detalhes, o maior desafio é sempre transmitir uma mensagem coerente, que dialogue com tempo em que vivemos. Principalmente no Brasil, onde vivemos tempos tão hostis”, lamenta.
Pela primeira vez, sua mensagem cruzou o continente e chegou aos Estados Unidos. Seu último retrato, o mais difícil que já pintou, está em exposição na Flórida e levou quase seis meses para ficar pronto.
“Foi a primeira vez que pintei uma pessoa com barba e isso exige desenhar pelo por pelo, sempre atento à noções de luz e sombra em cada um dos fios”, explica.
“Perfeição”
Quando divulga as obras em sua conta profissional no Instagram, Luiz recebe dezenas de comentários – inclusive gringos – elogiando seu trabalho.
Não é raro ver a palavra “perfeição” entre eles, mas o pintor faz questão de afirmar que seu trabalho ainda está longe de ser perfeito: “Há muito a ser aprimorado, ainda preciso desenhar muitas mãos e muitos rostos para realmente fazer jus a esse adjetivo”, conclui.