Dos 9 títulos indicados à categoria de melhor filme do ano no Oscar, apenas três não têm mulheres, negros ou LGBTs à frente da história. Entre os favoritos estão Corra, Três Anúncios Para Um Crime e Me Chame Pelo Seu Nome, filmes que têm o racismo, a violência de gênero e a homossexualidade como temas-chave, respectivamente.
Há quem acredite que as indicações deste ano e do ano passado – que consagrou Moonlight, filme sobre as diferentes fases da vida de um jovem negro homossexual – são uma resposta da Academia às duras críticas recebidas em 2016 por ter indicado apenas profissionais brancos às principais categorias.
Naquela época, atores negros como Will Smith e Spike Lee não compareceram à cerimônia em protesto contra a hegemonia branca do evento e a campanha #OscarSoWhite ganhou as redes sociais.
“Mas não podemos usar esse argumento para tirar o mérito dos filmes premiados, eles são verdadeiras obras-primas”, alerta a cineasta Lívia Perez, diretora de filmes como Quem Matou Eloá e Lampião da Esquina.
Ela acrescenta que essas indicações mais representativas são resultado da integração de mais mulheres e negros à Academia, além da uma resposta à pressão de profissionais e do público.
Vale lembrar que este ano é a primeira vez que uma mulher concorre ao Oscar na categoria melhor direção de fotografia. A responsável pela quebra do padrão é a cineasta norte-americana Rachel Morrison, pelo filme MudBound – Lágrimas Sobre O Mississipi.
“Há quatro ou cinco anos, nem público nem profissionais reagiam à falta de diversidade na premiação, mas agora chegamos num ponto em que o Oscar não pode ignorar o avanço dessas discussões”, diz Lívia.
Impactos
“É um avanço muito grande, o Oscar é a nata do cinema e tem muita visibilidade. Os filmes que ficam em evidência sobem ao palco junto com suas temáticas”, acredita Caetano Grippo, diretor de fotografia da SP Cultura.
Por outro lado, ele teme que filmes com discurso de representatividade sejam “rejeitados” pelo público mais conservador. “Títulos como Me Chame Pelo Seu Nome podem cair na armadilha de pregar para convertidos, ou seja, atingir apenas o público que já entende esse discurso”, explica.
O diretor reforça que a mudança é importante e deve continuar avançando, mas questiona os reais impactos da representatividade do Oscar na vida real.
“O cinema é uma grande ferramenta de transformação e não está sendo usada da forma mais inteligente. O que precisamos pensar é como usar os filmes para fazer discursos sobre raça, gênero e sexualidade atingirem quem ainda não foi atingido”, finaliza Grippo.