Top

RG já viu: “O Bebê de Bridget Jones” traz a essência das comédias românticas dos Anos 2000

Por André Aloi*

Ficar sentada no sofá se lamentando já não cabe mais a Bridget Jones, que volta revigorada, aos 40 e poucos anos. A última década fez bem a ela: dedicou-se à vida profissional e aos amigos, cuidou do corpo e da mente e tentou (ou melhor, segue tentando) largar velhos vícios. Em contrapartida não se casou nem teve filhos. Mas tudo bem. Com o empoderamento feminino tão em voga, ela encararia até ser mãe solteira. E tudo bem, outra vez.

Em “O Bebê de Bridget Jones” (Sony Pictures), a anti-heroína interpretada por Renée Zellweger retorna em sua melhor forma e, como o nome já deixa claro, grávida. Mas como tudo na vida de Bridget tende a um belo drama (metido a comédia do tipo vergonha alheia), ela simplesmente não sabe quem é o pai da criança e se atrapalha ao tentar esconder a verdade dos dois principais suspeitos: o antigo amor, Mark Darcy (Collin Firth), e a nova paixão, Jack Qwanty (Patrick Dempsey).

Para situar o espectador, Bridget explica as idas e vindas do amor e os motivos pelos quais escolheu a carreira de produtora executiva de um noticiário em vez de uma vida plena em família, com direito a marido e filhos. Momentos de reflexão estão nas ideias conflitantes de Bridget com sua nova chefe – bem mais jovem – e a relação com sua mãe, defensora da família tradicional e que não aceita o fato de ela ser “mãe solteira”.

Não custa lembrar que se trata da personagem responsável por mostrar para mulheres do mundo todo que é OK passar um fim de semana inteiro em casa sozinha, assistindo à TV ao lado de um pote de sorvete ou garrafa de vodca, enquanto o telefone não toca. Escrito pelo Hellen Fielding e Richar Curtis, O Diário de Bridget Jones refletiu as inseguranças de muita gente em relação ao tipo físico, relacionamento, trabalho, solidão e a vida.

Agora, a diretora do primeiro ciclo, Sharon Maguire, volta para transformar essa obra de ficção em um conto de fadas moderno. O terceiro da trilogia pode encerrar a saga (se quiser, pois há gancho para sequência), cuja essência tem a inocência das comédias românticas dos idos anos 2000, e nos põe a pensar: quanto tempo dá pra esperar por um amor? Ou quanto tempo um amor dura à distância? O filme dá sua mensagem, falando que uma paixão não pode dar match apenas por algoritmos, como uma simples métrica. Algumas combinações vão além dos números e da química. O amor pode ser aquele com o qual você só precisa se sentir em casa – seja um novo alguém ou um antigo conhecido.

Ainda traz uma pontinha de protesto, inspirando-se, claramente, na tenção do grupo Pussy Riot, de Moscou (Rússia), acusado de “vandalismo motivado por intolerância religiosa”, ao dar voz aos direitos e empoderamento feminino. Assunto que, mesmo que inconsciente, pode ter sido a maior contribuição de Bridget. Ah, e para evitar possíveis vazamentos, a produção gravou três finais diferentes. O verdadeiro já está em cartaz nos cinemas brasileiros.


*Texto publicado originalmente na revista I de número 65 (setembro/outubro de 2016), da rede de shopping Iguatemi, editada pela Carta Editorial.

Mais de Cultura