Olhar para o Mundo: trajetória de Dorina Nowill vira documentário
Por Carol De Barba |
“Sou uma mola. Quanto mais me empurram para baixo, mais eu vou para cima”. A atriz Martha Nowill passava por um momento difícil na vida profissional e amorosa quando ouviu essa frase da avó, Dorina. “Se ela não se deprimiu, porque vou me abater?”, foi só o que conseguiu pensar. Afinal de contas, as palavras vieram de uma mulher que perdeu a visão aos 17 anos, mas se tornou a grande pioneira na luta pela educação e inclusão das pessoas com deficiência visual, no Brasil e no mundo. Essa admirável trajetória pessoal, social e política vira, agora, documentário, idealizado pela neta: “Dorina – Olhar para o Mundo” (HBO, produzido pela Girafa Filmes, Dezenove Som e Imagem e Mil Folhas).
A produção é a primeira nacional exclusiva para o canal MAX, e será exibida no dia 21 de junho, às 23h, com audiodescrição. Um dia antes, ganha pré-estreia e coquetel para convidados no MIS (RG estará lá!). O conteúdo também será disponibilizado na plataforma HBO GO, após a estreia na televisão.
Martha conta que levou aproximadamente seis anos para levar a história às telas. A vontade veio quase como um insight. “Passei a vida vendo minha avó falar na ONU, dar entrevistar importantes, mas nunca tinha parado para pensar o quanto isso era incrível. Quando ela fez 90 anos, vi que estava chegando no fim da vida… Peguei o jornal e ela estava lá, na capa”, descreve. “Percebi que nem a minha geração nem aquela abaixo sabiam quem ela era e o que tinha feito”, completa.
Primeiro, pensou em fazer uma ficção, na qual interpretaria o papel de Dorina. A ideia do doc veio logo em seguida, e se consolidou quando a diretora Lina Chamie confirmou o interesse da HBO em filmes de cunho social. Imediatamente, Martha entrou em contato com o canal para começar o trabalho de preservar as memórias de Dorina. “Quando comecei a estudar a vida dela, percebi que me influenciou muito mais do que eu imaginava. A força dela me marcou muito… A coisa do olhar para o outro, ser menos egoístas, um exercício que deveríamos fazer diariamente. É uma lição para mim toda vez que me pego em uma atitude mais individualista”, revela.
Tanto que, aos 35 anos, engajou-se muito mais com o trabalho da fundação. “As pessoas pensam no que o mundo pode dar para elas, quando deveria ser ‘o que eu posso dar para o mundo’. Esse é o grande pulo do gato”, diz.
A mensagem é um pouco do que, imagina, os espectadores levarão da obra. “Ela se faz tão presente que é impossível não ser absolutamente contagiado pelo positivismo e pelo altruísmo. Minha avó trabalhou até os 90 anos com alegria pela causa que era o sonho dela, nunca se contentou com pouco. É uma figura apaixonante”, afirma.
Na galeria ao lado, além de stills do documentário, você confere uma seleção de fotos mais do que especial feita pela própria Martha – um álbum de família com seus momentos favoritos ao lado de Dorina.
SOBRE DORINA
Dorina perdeu a visão aos 17 anos. Porém, o desejo dela em realizar ações em prol dos deficientes visuais superaram qualquer adversidade e a incentivaram a buscar os direitos e melhoria de vida deles.
Em 1946, criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil e foi a responsável por trazer a primeira imprensa braile do país. Neste mesmo ano, conseguiu uma bolsa de estudos nos Estados Unidos para se especializar em educação de cegos. De volta ao Brasil, Dorina viajou o país pela Campanha Nacional de Educação e Reabilitação dos Deficientes Visuais. Junto ao Ministério da Educação conseguiu que fossem criados serviços de educação para cegos em todo o Brasil e lutou para a aprovação de resoluções para abrir as portas do mercado de trabalho para os deficientes visuais, além de várias iniciativas na área de prevenção e saúde.
Dorina Nowill conquistou importantes avanços nos âmbitos da educação, saúde e trabalho para os deficientes visuais, como também foi presidente do Conselho Mundial dos Cegos e discursou na Assembleia Geral da ONU em 1981. Ela faleceu em 2010, aos 91 anos, deixando um vasto legado de inclusão social que merece ser conhecido e admirado.
O FILME
Entre os entrevistados do documentário que reconta essa trajetória, estão a família Nowill, integrantes da Fundação, pessoas que tiveram a oportunidade de trabalhar e estudar com ela e o cartunista Mauricio de Sousa, que criou a personagem Dorinha, também deficiente visual, em homenagem a ela.
“Dorina – Olhar Para o Mundo” tem direção de Lina Chamie, que também assina o roteiro junto a Martha Nowill. O documentário, realizado com recursos da Condecine – Artigo 39, é produzido por Roberto Rios, Maria Angela de Jesus, Paula Belchior e Patricia Carvalho da HBO Latin America Originals, e Martha Nowill da Mil Folhas, Lina Chamie da Girafa Filmes e Sara Silveira da Dezenove Som e Imagem.
Aperte o play abaixo para ver o trailer!
1 / 9Dorina Nowill, grande pioneira na luta pela educação e inclusão social dos deficientes visuais no Brasil e no mundoFoto: Reprodução
3 / 9Dorina discursou na ONU, em 1981Foto: Reprodução
4 / 9Dorina viajou aos EUA para se especializar na educação de cegosFoto: Reprodução
5 / 9Em 1946, Dorina criou a Fundação para o Livro do Cego no Brasil e foi a responsável por trazer a primeira imprensa braile do país para que tivessem mais acesso à leitura e à educaçãoFoto: Reprodução
6 / 9Martha Nowill na produção do projeto, idealizado por elaFoto: Reprodução
7 / 9Martha, chorando, no colo da avóFoto: Arquivo pessoal
8 / 9Registro de Dorina em Paris, em 1982. Essa é uma das fotos favoritas de Martha, a pequena com o rosto quase grudado na câmeraFoto: Arquivo pessoal
9 / 9Chartres com Dorina, em 1982Foto: Arquivo pessoal