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“Mostra conflitos de qualquer cidade grande”, diz Vera Egito sobre “Amores Urbanos”

Por André Aloi

Estreia nesta quinta-feira (19.05), nos cinemas brasileiros Amores Urbanos, o primeiro longa de Vera Egito, conhecida por seus dois curtas e trabalhos na publicidade. Para os papéis principais, alguns rostos conhecidos, como o de Maria Laura Nogueira (“Marias”, do canal pago Sony), que faz seu debut nas telonas. Os cantores Thiago Pethit e Ana Cañas, além de Renata Gaspar, estão no elenco. Narra a história de três amigos que passam por problemas e precisam resolver sua vida. Todos beiram os 30 anos e moram na capital paulista.

A cineasta não acredita que os conflitos apresentados no longa sejam bairristas. Mas comuns a qualquer cidade grande, deixando de lado o favela movie e biografias de estrelas de futebol. “A gente estreou no festival de cinema de Miami, com público leigo, foi super bem recebido. Depois da sessão, as pessoas vinham falar: ‘é minha história de vida’. Se funcionou para o público de fora, legendado em inglês, é porque essa situação urbana – de quem vem de fora e os amigos são a família – é de qualquer cidade grande”, ressalta Vera. “Se é DJ ou trabalha com moda… Tanto faz. Porque a história deles pode ser de qualquer um, com qualquer profissão”, complementa a protagonista, Maria Laura.

Com muitas cenas foram gravadas em lugares hype paulistanos, Vera diz que não é isso que faz diferença. “Se você reconhece o Mandíbula, é muito legal. Mas se não reconhece, tudo bem. Por exemplo, em uma das falas há uma citação à Javali. Acho muito forçado se fosse falar a festa. Quem não sabe, vai entender que é o nome”. Segundo ela, o filme vem pra assumir a idade e o fato que não tinha feito um filme. “Chega de ficar esperando, só porque sou legal, educada e culta não vai acontecer. Só vai acontecer se você correr atrás”, concorda Maria Laura. “Sempre tive essa sensação de estar atrasada. Ficava perguntando: já tenho 30 anos, cadê o meu longa. Fui buscar isso na unha”.

Para o roteiro, Vera pegou algumas coisas da personalidade de amigos para montar a Júlia. É o caso dessa adolescência tardia: “falo várias línguas, já viajei o mundo, sou culta, sou bonita, e não faço nada com isso. Não é muito a minha biografia. Minha família é mais sem grana, sai do Brasil só depois dos 20 anos. Não é tão eu. Desde os 14 anos sabia que queria fazer cinema, nunca tive nenhuma dúvida”, argumenta a diretora. “Não é tão autobiográfico, é só uma inspiração”.

Se a protagonista tem uma coisa que é de Vera, é essa dificuldade de se expor, de se abrir e pedir ajuda. “A Júlia era muito perfeitinha – que é um erro comum em muitos roteiros. Ela era legal, bacana, ajudava os amigos. Você ama tanto seu protagonista, que é chato. Se ele não tem nenhum defeito, ninguém vai gostar dele”. A cutucada veio de Pethit, que no longa interpreta o amigo gay sem filtro, em uma das primeiras leituras: “ela devia ser que nem vocês duas, meio arrogantes, doninhas da verdade”. Refletiram, riram. Mas a fala acabou entrando para o longa.

O filme foi rodado em 17 diárias, entre setembro e outubro de 2014. “Desde o começo, como sabia que a gente ia ter uma verba reduzida, a gente precisou montar um esquema onde isso não fosse um problema. Pelo contrario! A primeira coisa foi chamar amigos, escrevi para a Maria Laura, que é minha amiga. Ela atuou no meu primeiro exercício de roteiro, na ECA (Escola de Comunicação e Artes, da USP), em 2003”, relembra Vera. “Algumas amigas que são atrizes mais mainstream reclamaram: ‘me chama pra um filme seu’. Mas não eram tão próximas”. Mas com Maria Laura foi diferente. “Falei: ‘preciso de você por tanto tempo, mas não vai ganhar cachê. Porque nem eu nem ninguém ganhou. Mais do que estar comigo, queria que tomassem isso pra elas”, argumenta a diretora.

Rola uma brincadeira de bastidores (que começou com o produtor Heitor Dhalia) que a Júlia, personagem principal, é um alter-ego da diretora. “Ela cortou a franja (igual de Vera), o figurino tem muita roupa minha porque a gente fazia umas provas de figurino em que cada uma pôs seu guarda-roupa abaixo. Depois, a Emanuelle Junqueira, que atua no filme e faz o figurino dela, trouxe o acervo dela”, brinca Vera. “Eu que dei a ideia (da franja). Perguntei o que ela achava porque eu tinha um visual meio ripongo. Talvez fosse meu inconsciente, querendo me aproximar mais da Vera”, pontua Maria.


 

ESTRELA MUSICAL?
Pode ser surpresa para muitos, mas Thiago Pethit – antes de ser cantor – é ator. Formou-se há mais de dez anos na Escola Célia Helena. Com seus avós, que fez o debut aos 9 anos. Quando estudou a técnica, foi da sala de Maria Laura, inclusive. O músico afirma que – ao passo que sua personagem tem muita coisa sua, ao mesmo tempo, não tem nada. “Faz parte do meu universo. Conheço muitos Diegos, me relaciono com alguns. Eu sou um pouco”, argumenta.

Ele acredita que talvez sua lógica de olhar para o mundo seja parecida com a de quem interpreta no seu primeiro papel no cinema. “Um pouco pessimista, niilista. No fundo, a gente está aqui pra se f… mesmo. Ele é mais sarcástico do que eu, sou muito mais dócil e afetuoso. As histórias dele, não são histórias minhas”, complementa, explicando que tem uma ótima relação com os pais. “Quando a Vera me chamou, não lembrava mais atuar”, brinca. “Em uma das cenas, foi preciso chorar. Foi quando me perguntei: será que ainda sei fazer isso?’. Me envolvi na cena e simplesmente veio”.

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