Não deixe o funk morrer, por Fabiano Moreira

RG dá boas-vindas a Fabiano Moreira, nosso novo olhar, braços e pernas no Rio de Janeiro, que estreia sua coluna de CULTURA. Neste primeiro texto, ele fala que a cidade-berço do Funk não tem mais bailes: silenciaram a cultura das favelas. Scroll!

Por Fabiano Moreira

Berço de um estilo que ganhou o mundo e influenciou artistas como M.I.A. e Diplo, o Rio de Janeiro não tem mais baile funk. Depois da pacificação das favelas, a cultura do baile veio sendo silenciada pelas UPPs, que se instalaram nas quadras esportivas aonde antes tocava o pancadão em paredões de caixas de som. Focos de resistência, a equipe Chatubão Digital, na Penha, e o Baile do Chapéu Mangueira continuam a fazer edições especiais, mas é tarefa quase impossível achar um baile funk hoje na cidade.

“O baile funk está no Brasil inteiro, menos na sua meca original. Se continuar assim, vou me mudar do Rio, ir aonde as coisas acontecem”, conta o fotógrafo francês Vincent Rosenblatt, que conquistou a confiança das comunidades e, desde 2005, vem se dedicando a fotografar e registrar os bailes funk do Rio, em um trabalho de contornos heroicos que já foi exposto em Paris e traça um verdadeiro mapa do funk na cidade. “Minhas imagens adquiriram um significado novo na medida em que os bailes foram varridos do mapa da cidade. Se tornaram documentação histórica, lembranças, no lugar de testemunha de uma cultura viva”, explica.

Outra fotógrafa que se dedica ao tema é Maria Buzanovsky, que acompanha as batalhas do passinho. Ela está em cartaz com a exposição “Sharingrafia”, até o dia 21 de maio, no Museu da Vida, na Fio Cruz. Suas imagens alucinantes foram impressas sobre T-shirts para a mostra. E o melhor: as artes para imprimir as camisetas estão disponíveis para download gratuito no Facebook da mostra. Sharingar é copiar o passinho de outro dançarino. “O que era originalmente uma mistura de frevo, break, kuduro, Michael Jackson e teatro se transformou em um movimento cultural que engloba beleza, estilo, atitude, auto-estima e um jeito único e ousado dos adolescentes e jovens das favelas fluminenses”, analisa Maria.

Os dois estarão discutindo a documentação da cultura funk nesta quarta-feira (18.05), das 16h às 20h, dentro da 5ª Conferência Funk no Museu de Arte do Rio (MAR), ao lado da fotógrafa pioneira nestes registros, Daniela Dacorso, responsável pelos primeiros registros da cultura funk, ainda no final dos anos 90, com a série Totoma, e do diretor do clipe de funks paulistano Kondzilla. E é preciso discutir mesmo o setor, sob o risco de só restar a documentação, no Rio, com o silenciamento dos bailes.

A organizadora da conferência é a Rio Parada Funk, que acontece desde 2011, em locações como Largo da Carioca, Lapa e Apoteose. A edição deste ano já tem data confirmada: será no dia 26 de junho, no Aterro do Flamengo, com 12 palcos, cada um deles comandado por uma equipe tradicional do Rio. Durante as Olimpíadas, a Parada ainda organiza, em parceria com a Prefeitura, o Circuito Carioca de Bailes Funk Tradicionais, em comunidades como Vila Kenedy, Vila Aliança e Rocinha. O evento é uma turnê de aniversário do DJ Grandmaster Raphael.

Para matar as saudades dos bailes, só que no asfalto, no próximo dia 25 acontece mais uma edição do Eu Amo Baile Funk, no Circo Voador. O baile recebe a MC Carol pela primeira vez, além de um line up das estrelas do funk, com Grandmaster Raphael, Sany Pitbull e Mr. Catra. MC Carol, aliás, está de música nova, em um feat histérico com MC Tchelinho, Heavy Baile e Tropkillaz, “Toca na pista”. Quem também está com música nova é o medalhão do funk Deize Tigrona, pioneira do estilo que lançou, nesta quarta (18.05), “Madame”, produzida pelo gaúcho DJ Chernobyl.

E, falando em documentação da cena funk, é grande a expectativa pela estreia do filme “Deixa na régua”, do diretor Emílio Domingos, o mesmo do documentário “A Batalha do Passinho”. Domingos, que já registrou as batalhas de rap da Lapa e os campeonatos de dança dos meninos de mola do Rio, mostra agora a cultura do corte do jaca nos salões de barbeiro das periferias, ponto de encontro de todos os personagens do funk, e também das batalhas de barbeiros. O filme tem música assinada por Lucas Santtana e foi montado por Jordana Berg, que trabalhava com Eduardo Coutinho. Assista ao teaser aqui.