Top

“Sou um espetáculo de mau comportamento e gafes”, diz Fernanda Young, que estreia série

Por André Aloi

Fernanda Young explora a noite de São Paulo em uma série documental (o primeiro episódio, você confere acima). Ela busca na calada da noite pessoas que encontram na madrugada uma forma de expressar sua arte. São oito episódios, lançados no canal Urban Feed, que começam a ser exibidos nesta quinta-feira (14.04). “Já fui muito da madrugada, paulatinamente fui deixando de ser. Criativamente, ela me inspira, sou uma pessoa muito insone, com uma certa dificuldade pra dormir. Mas levo uma rotina muito atribulada diuturnamente. Faço faculdade, acordo muito cedo. Não tenho disponibilidade para vivê-la, como já vivi”, diz ela, que acorda às 6h30 por causa do curto de Artes Visuais.

A escritora, roteirista e apresentadora acredita mesmo que o mundo esteja realmente chato, mas ainda assim acha divertido. Quando vai a uma reunião, consegue se interessar pelas pessoas. “É engraçado como os outros brincam com seus ‘playmobils’: de ser adulto, sexy, famoso. Tem algo muito risível na ingenuidade humana, na dramaturgia”. Mas ela mesma não consegue atuar como se fosse um personagem na vida real. “Sou uma pessoa realmente teimosa, sempre me atrapalho… Até penso, mas sou um espetáculo de mau comportamento e gafes. Baixei o Uber tem uma semana, mas vou tirar, porque me fez um mal danado. Me passou a sensação de que posso ir, e é melhor eu não ir”, ri.

Ela estava um pouco cética com relação ao programa “Madrugada Desperada”. “É bom demais ser pessimista porque você não se ofende. A pessoa em estado eufórico acaba se decepcionando. Você acha que a gente vai encontrar pessoas legais em todo lugar o tempo todo?”, relembra, dizendo que hoje já acredita que o programa possa ter mais temporadas. “Meu olhar já está sacando e reconhecendo a necessidade de continuar o projeto. Tem gente que está fazendo coisas interessantes. No Brasil, acho que São Paulo tem essa generosidade de sempre estar instigando o público de forma gratuita. Uma cidade que, por sua falha na beleza natural, tem tecnologia humana muito instigante”, explica.

Segundo Fernanda, o trabalho é muito sofisticado e detalhista, de uma visão estética muito apurada e elegante. “Como criadora, a madrugada sempre foi instigante. Foi interessante voltar a sair, chegava em casa por volta das 4h da manhã, e conhecer essas pessoas que interagem com a cidade, oferecendo arte e entretenimento de forma muito generosa. Fiquei muito impressionada com as gerações mais jovens com relação à minha, que é muito apegada à questão do direito autoral. Sempre foi muito do ‘eu que fiz’. Pra mim foi muito surpreendente o artista ser mais fugaz, mais instantâneo, mais desapegado. Com uma necessidade de imortalizar”, comenta.

Ela se diz muito ligada à estética, mas nunca seguiu uma fórmula em trabalhos anteriores. “Se, para me comunicar hoje em dia, é necessário uma coisa feia, eu não vou fazer. O que eu quero dizer é que para atingir um grande público, na internet, não precisa ser necessariamente feia e desinteressante”, argumenta. “Talvez eu seja atraente para o público jovem porque eu sou genuína e eles são despidos de qualquer… (preconceito). Eu sou idealista, não acredito que seja difícil falar com esse mundo. A linguagem é simples e as pessoas que são entrevistadas são extremamente interessantes”.

A curadoria dos personagens foi feita pela Conspiração Filmes e traz entrevistas com artistas, como Leandro Dario (que instala obras feitas de crochê pela capital paulista), o pessoal do Coletivo Rolê (grupo que sai pelas madrugadas para fotografar), Venga Venga (de festas e instalações efêmeras que ocupam espaços urbanos), Chico Tchello (da festa “Buraco da Minhoca”), Aline Tima (performance de skatistas de burca) etc.


ASSISTA AO TRAILER

Mais de Cultura