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Aposta RG: jovem artista, Antonio Gullo pinta e desenha temas delicados e pesados

Por André Aloi

Antonio Gullo tem 17 anos e vem desenhando desde os 3 ou 4 anos de idade. Filho de Carola Diniz e Nando Gullo, está no terceiro ano do Ensino Médio, na escola St. Pauls, em São Paulo. Seus desenhos têm temas “pesados” para um jovem de sua idade, como estupro e bulimia. “São temas que eu acho que deveriam ser mais discutidos, e eu gosto de expor aos observadores algo sobre o mundo em que vivem, mas nem sempre gostam ou querem admitir”.

Ele afirma que sempre desenhou, mas tem se aventurado em pintura ultimamente. “Geralmente faço peças figurativas, com temas mais pesados como perfeccionismo e a percepção da mulher na sociedade”, explica. Quando terminar o colégio, pensa em estudar artes plásticas em Nova Iorque (EUA). “Fui muito incentivado pelos meus pais. Meu pai foi quem me ensinou a desenhar quando era pequeno e minha mãe sempre me mostrou arte contemporânea quando estava crescendo. Hoje em dia eu tenho feito mais pesquisas sozinho”, explica, narrando seu amor pelo Surrealismo e arte moderna do século 20.

Duas peças chamam a atenção na coleção de sua autoria: uma em que a modelo parece vomitando e a outra, a cantora Lady Gaga. “A mulher vomitando pérolas é um comentário sobre bulimia, e as pérolas representam sua beleza interior que acaba sendo purgada em favor da perfeição exterior. A da Gaga é um retrato, mais por prática, e por ser minha maior musa”, enfatiza. A cantora, inclusive, tem se mostrado solidária às vítimas de abuso sexual. Mas ela teve interferência por causa da música “Till It Happens To You” em sua criação? “Não pensei quando fiz a série, mas eu posso dizer que ela me influenciou muito em pesquisar sobre o assunto e tentar a me por no lugar de vítimas do abuso sexual. Na verdade nem tinha feito a conexão até me falar”.

Nos desenhos mais obscuros há mulheres amarradas, que ele explica ter pensado em estupro quando estava desenvolvendo a ideia. “A série é composta de seis desenhos da mesma mulher amarrada e vista por diferentes ângulos, que mostra como uma vítima é enxergada de apenas um modo, dependendo de quem interpreta sua história, e ninguém nunca ira conseguir saber, como um todo, tudo o que se passa na cabeça de uma mulher que foi agredida”, analisa. “A dos animais marinhos é mais um experimento com colagem, desenho e composição. Eles estão habitando uma casa como se fossem seres humanos, de um jeito mostrando que não passamos de animais em nossa essência”.

Com muitos desenhos avulsos e cadernos com ideias, e algumas peças não finalizadas, ele tem ao todo cerca de 20 peças, sem contar os desenhos. Por enquanto, não pensa em expor: “Ainda acho que estou numa fase muito imatura para expor qualquer coisa, mas eu terei minha exposição de fim de curso na escola daqui um ano e meio com meus trabalhos favoritos. Estou acabado dois quadros, mas não tenho nada que seja bom o suficiente para expor ainda. Um é um autorretrato e o outro uma figura rasgando o torso”.

Para ele, esta arte mais pesada é mais um escape. Nas horas vagas, faz coisas comuns da epítome da adolescência: “Pilates, muay thai, e faço parte de um grupo internacional escolar que defende direitos sociais”. Para ele, sua arte é uma forma de liberar seus pensamentos mais obscuros e comunicar opiniões e visões sobre como enxerga o mundo. “Minha artista favorita é uma pintora surrealista espanhola, Remedios Varo. Me inspiro muitos nela, no René Magritte e em vários outros surrealistas, além de pintores como Lucian Freud e Kandinsky”.

Seu maior sonho é ter suas obras em museus e ser reconhecido mundialmente. “É mais fácil dito do que feito”, pondera. Apesar de os pais não o terem pressionado em seguir uma carreira mais convencional, por assim dizer, sua mãe quer que ele também estude administração para saber como funciona o mundo dos negócios e finanças. Ele também pode seguir os caminhos do tio, André Diniz, um pintor, desenhista e curador nato, além de dono da Urban Arts.

Até o ano que vem, ele se muda para a Big Apple: “Sempre amei muito Nova York e nunca me vi morando em nenhum lugar que não fosse lá, mesmo que seja apaixonado por São Paulo também”, pontuou.

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