Por Carol De Barba
Clara Averbuck lança, neste sábado (20.02), seu novo livro, “Toureando o Diabo”, romance construído totalmente em conjunto com a ilustradora e sua parceira de longa data Eva Uviedo. A obra é costurada pelos desenhos, rabiscos e bilhetes feitos à mão – o texto e a imagem dependem intrinsecamente um do outro e não existem separadamente. A noite de autógrafos vai ter cara de festa: rola no café-bar Elevado, com exposição, ação de flash tattoo, discotecagem e bebidinhas.
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Antes de aparecer por lá para garantir o seu, conhecer as autoras e curtir o lançamento, leia a entrevista que RG fez com Clara sobre o novo trabalho. E fique sabendo: o livro só saiu do papel graças a uma campanha de financiamento coletivo com mais de 600 apoiadores – ela não achava justo o tradicional esquema editora-escritor, mas fala mais sobre isso na conversa a seguir:
Na época do Máquina de Pinball, dizia-se que você era uma autora visceral, que transformava vida em obra. Mas em “Toureando o Diabo”, a Camila, seu alter ego, diz que “vive de fazer versões da vida que não são verdade”. Esse livro tá mais para a primeira ou segunda opção?
Transformar a vida em obra também é viver de fazer versões da vida que não são verdade. Criar com alterego não é simplesmente anotar os acontecimentos do dia, é todo um processo. Nunca neguei que a vida é matéria-prima do meu trabalho, mas acho curioso que foquem tanto nisso e não no resultado literário da coisa toda. Se aconteceu ou não é a menor das questões e acho que não se deve restringir uma obra a isso.
Agora, parece que a Camila amadureceu. Como você acha que os leitores vão encarar isso? Você acha que eles vão se identificar, que ela é um reflexo da geração, digamos assim?
O amadurecimento da Camila é um reflexo do meu amadurecimento. Espero que os leitores curtam essas novas nuances da Camila e eu acho que dá pra dizer, sim, que esses questionamentos passem por momento e uma geração. Mesmo que escritoras e teóricas já venham escrevendo sobre as questões das mulheres há décadas é agora que o assunto realmente está sendo discutido no dia-a-dia. As mulheres que leram, até agora, se identificaram bastante. Acho que tem uma Camilinha, ou um caquinho dela, em cada uma de nós.
Você também diz que queria uma personagem mais humana, com quem as minas se identifiquem. Você acha que conseguiu isso? Por quê?
Acredito que consegui abordar muitas questões femininas no livro, sim. Antigamente eu construía a Camila pra ser “diferente das outras”, floquinho de neve, especial. Agora ela foi construída pra ser todas essas outras de quem ela acreditava estar tão distante.
O seu trabalho com o site Lugar de Mulher é muito bacana. E dos seus primeiros livros para cá, parece que as minas estão realmente mais fortes… O livro também traz essa mensagem de empoderamento?
O Lugar de Mulher foi criado por mim, pela Mari Messias e pela Ana Paula Barbi, duas das minhas melhores amigas, porque estávamos cansadas de publicações que restringiam os interesses das mulheres a batom, filhos, emagrecer e emular um poder dar mulher invencível, que não existe. É um site para mulheres feito por mulheres feministas, abordando muitos assuntos.
Já o livro é literatura, não me preocupei em fazer panfletagem nele. Existem questões ali que passam pelo feminismo, é claro, mas é um romance; é o meu sétimo livro, afinal, e a literatura veio bem antes do meu envolvimento com a causa, mesmo que eu já tivesse algumas visões e vivências que apontassem pra esse questionamento de papéis de gênero. Antes de ser feminista eu sou escritora, e antes de ser escritora, sou mulher. Camila é uma personagem mulher com conflitos e questões e que está inserida neste mundo em que vivemos.
Como foi o processo de construir esse livro com a Eva Uviedo?
A Eva é minha parceira há muitos anos. Somos amigas e temos uma identificação muito grande com o trabalho uma da outra. Já temos outro livro juntas, o “Nossa Senhora da Pequena Morte”, que saiu pela Editora do Bispo em 2008, mas está esgotado e pensamos até em republicar, e ela fez as capas de todas as reedições dos meus livros quando saíram pela 7 Letras, em 2012.
O processo criativo do “Toureando o Diabo” foi bem bacana e o livro foi concebido em dupla mesmo; eu tinha parte do texto e a ideia inicial era fazer apenas 5 ilustrações. Isso não estava dando certo. Só funcionou no momento em que nos demos conta que não precisávamos seguir nenhum molde pré concebido de livro ou de narrativa, então começamos realmente a criar. Muito texto foi descartado, muitos outros foram encontrados em bilhetes e caderninhos que eu tinha guardados, e as ilustrações costuram isso tudo.
E sobre ser escritora… “Toureando o Diabo” foi feito graças a financiamento coletivo, você falou bastante sobre os motivos quando lançou a campanha, sobre não concordar com o esquema editorial. Você prevê um futuro melhor para a literatura?
Acho que existem outras possibilidades, hoje, pra quem quer publicar sem necessariamente estar em uma editora grande. Existe financiamento coletivo, várias editoras independentes e feiras de publicações independentes. Isso está mudando um pouco o mercado, sim, mas acho que ainda há um caminho longo pela frente. Particularmente estamos muito felizes com o resultado do nosso livro, que foi criado com liberdade total, e é incrível pensar que 100% da grana vai vir pra nós duas. É a única forma que conseguimos pensar, por enquanto, do ilustrador e autor conseguirem ter 100% do lucro sobre a obra que produziram.
O que você achou da Claudia Leitte ser autorizada pelo MinC a captar R$ 356 mil para publicar uma biografia
Bom, em primeiro lugar, é preciso ficar claro que ser autorizada a captar não significa que vão DAR 356 mil na mão dela; significa o projeto está autorizado a captar esse dinheiro nas empresas, que podem dar uma parte do que seria pago em impostos a um projeto cultural. Dito isso: ¯\_(ツ)_/¯
Toureando o Diabo
Autoras: Clara Averbuck e Eva Uviedo
146 páginas
Janeiro/2016
Literatura brasileira; romance; relações de gênero
Preço sugerido: R$ 50
SERVIÇO
Lançamento de Toureando o Diabo @ Elevado
Data: 20 de fevereiro, 14h às 20h
Endereço: Rua Dr. Albuquerque Lins, 489, Santa Cecília
Entrada: grátis (o livro estará à venda)
Quem participou da campanha de financiamento coletivo do livro poderá retirar a sua recompensa no local!