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Aposta RG! “Vocês são boy band? Quem julga, não vai querer ouvir”, cutuca vocalista da Scalene

Por André Aloi

Scalene faz show neste sábado (10.10) na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. A banda de rock acaba de relançar seus dois álbuns nas formas física e digital, “Real/Surreal” e “Éter”, pelo selo SLAP da Som Livre. Conversamos com a banda de Brasília (DF) e por isso ela figura como Aposta RG!

Quem olha para os meninos de 20 e poucos anos associa a imagem deles a um som mais light. Nada disso! Talvez por este motivo eles não estampem a capa de nenhum dos CDs. “Tem muita gente que julga sem saber. Olham e falam: ‘que bonitos! São de alguma boy band?’. De som pesado não devem entender nada. Muita gente já quebrou a cara. Quem tem esse tipo de julgamento não vai querer ouvir o que a gente fala”, ironiza o guitarrista e vocalista Gustavo Bertoni.

Mas ele diz que as duas capas têm uma continuidade, um primor pela arte. “O primeiro foi o processo de experimentar várias vertentes do rock, fazer um CD duplo conceitual, e este foi para afunilar e apresentar uma identidade mais clara”. O quarteto é formado por Gustavo, de 21 anos, seu irmão Tomás Bertoni (guitarra), de 24, Lucas Furtado (baixo) e Philipe ‘Makako’ (bateria e vocal), ambos de 25. Os irmãos estão juntos há seis anos, é a primeira banda de cada um, mas os outros já participaram de outros projetos de garagem.

O grupo tem buscado cavar seu lugar numa escala de rock mais sujo. “Houve um gap sem bandas pesadas (no cenário nacional) ou com som minimamente ousado e que fugia do padrão, e as pessoas notam isso”, aponta. “ As bandas que a gente se identifica, ouve o som, é mais pesado”, diz ele, citando nomes da atualidade, como Supercombo e Far From Alaska. “São as que mais me identifico, mas tem várias, como a Inky, de São Paulo, Gosto muito do som do Medula, uma outra chamada Hover”.

“Éter”, como o nome do disco sugere, foi o conceito que a banda esbarrou, e resume a essência do material. “Veio no meio do caminho, que começou totalmente irracional. Quando estava com umas 10 (de 18), falou: “aonde está indo?’. E amarramos a ideia com conceito. Pesquisando, descobrimos que éter era o quinto elemento, servia para equilibrar e harmonizar os quatro. Era uma metáfora maravilhosa, que preenche o vazio do equilíbrio da sua alma e da sua mente. Tudo casou”.

Gustavo aponta que a atual geração é superficial, muito presa ao mundo digital e coisas mais físicas e materiais. “A gente sente que pode abrir a cabeça dessa geração”, diz ele, que compõe algo novo todos os dias – seja uma melodia de voz, um riff de guitarra, alguma coisa no teclado. “Se eu gosto da parada, faço uma nota no celular. Anoto palavras-chave, invento apelido e deixo lá. Quando chega perto do processo de gravar, compor, levo para o estúdio, mostro ideias para os moleques e eles vão somando”.

Os temas mais fáceis são também os mais difíceis de compor: “dilemas e impasses internos. Meu approach e dos moleques (do meu irmão principalmente) é muito de auto-análise, espantar os demônios. Criar uma experiência e uma energia que as pessoas vão tirar proveito. Por termos um tom melancólico e meio nostálgico, podem achar que nossa música é triste. Algumas vão ser, mas a maioria tem um tom de otimismo. Estamos está nesta fase da nossa vida. Na busca pelo equilíbrio, pela espiritualidade, descobrir quem a gente ama. Acreditamos que, para melhorar como músico, tem que melhorar como pessoa”, filosofa.

Segundo Gustavo, sua música, é do tipo para “se jogar” na experiência. “Eu não vejo como algo para ouvir enquanto, sei lá, trabalha ou está em um evento. É para ouvir antes de dormir ou na hora de malhar, em momentos que você está sozinho e quer entrar neste processo mais reflexivo. A parte pesada da coisa é de onde vem a energia porque crescemos ouvindo bandas pesadas. É muito difícil abrir mão disso. Faz porque gosta mesmo”.

Ele cita, entre as influências, bandas que têm pegada de rock mesmo, com a tríade: guitarra, baixo bateria. A exemplo de Thrice, Alexis On Fire, Queens of the Stone Age, além de algo menos pesado, como Radiohead e Citi and Colour.

Ainda incrédulos com o sucesso que vêm fazendo, são pés no chão, apesar de quererem cantar em inglês no futuro e até mesmo tentar se lançar internacionalmente. “Temos muito que melhorar e evoluir com músicos e pessoas. Mas está no fundo das nossas cabeças porque é muito natural cantar inglês. Eu tenho um projeto solo folk assim. Nosso som já é muito influenciado pelo rock norte-americano. Acho que um dia gente pode cogitar isso sim, apesar de ter muito que expandir no Brasil”.

Apesar de este novo trabalho não ser muito radiofônico, o vocalista frisa que a banda trabalha os dois discos em paralelo, uma vez que o primeiro é inédito para o grande público. Esta semana, o quarteto lançou o clipe de “Histeria”, terceira faixa do novo disco.

E não pensam em lançar disco novo por enquanto. “Acabamos de soltar 33 faixas”, comenta, citando as músicas dos dois CDs lançados pelo SLAP. “Temos um ano inteiro para trabalhar melhor, com rádio, DVD etc. Mas 2017 deve ter algo novo porque Scalene é meio frenética nas composições e gravações e o mercado te pede isso. Em dois anos, muita coisa acontece”.

Segundo o vocalista, as palavras de passe para a banda são: crescimento e evolução. “A gente quer expandir nosso público, melhorar nosso trabalho pra conseguir fazer coisas mais ambiciosas, temos planos”, explica, citando que a participação em um reality musical os catapultou à fama e gerou o contrato com a gravadora. “O programa serviu para confirmar que tem sim espaço para um som mais pesado e denso. Confesso que nos deu bastante esperança”, finaliza.

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