Por André Aloi
No filme “Não Olhe Para Trás”, Danny Collins (interpretado por Al Pacino) vive uma estrela do rock decadente. Ele é um cara de um hit só (one hit wonder, do inglês). Quando pretende dar uma guinada na sua carreira e apostar em uma nova música, um show com proposta totalmente diferente, vive uma dicotomia: agradar ao público, cantando as mesmas faixas, ou ser feliz e entoar o que gosta?
Ney Matogrosso nem de longe se assemelha ao personagem muito menos tem essa dúvida. No repertório da turnê “Atento aos Sinais”, de CD homônimo (lançado em 2013, pela Som Livre), interpreta músicas da nova safra da música brasileira, como Criolo, Vitor Ramil, Dani Black, a banda Tono, entre outros. Ele se apresenta neste sábado (03.10), no Citibank Hall, única em São Paulo.
Leia também: Wagner Moura estreia em “Narcos” e diz não se importar com as críticas: “não leio p*rra nenhuma”
O cantor não quer nem saber de antigos sucessos no setlist, só canta “Amor”, da época do Secos e Molhados. “Eu não faço isso. Raramente canto meu repertório”, conta. “Quando em vez, um ou outro. Mas não é uma coisa do meu trabalho, não. Nunca fiz um show de sucessos. Tenho um impulso de apresentar coisas novas, fazer trabalhos novos. E não é renegando”, defende-se.
Mas explica que não é barreira não cantar um sucesso. “Ficaria muito triste se fosse obrigado a ser só isso. Acho que deve ser uma tristeza. Eu tenho essa liberdade, alcancei isso, tive que enfrentar”. Essa apresentação, entrega ele, é mais rock, talvez na mesma frequência do ‘Inclassificável’ (2008). “Talvez seja o primeiro trabalho que pretendo estar conectado com o momento. Nunca tive essa preocupação. Cantava coisas que gostava, independente de estar conectado”, reflete.
Veja ainda: “Musical me obriga a correr atrás do prejuízo com canto e dança”, diz Miguel Falabella
Como o nome da turnê sugere, Ney é atento a todos os sinais da vida. “Eu tô ligado. A minha mentalidade é essa: eu estou encarnado no Planeta Terra, quero estar conectado como um todo. Se a gente prestar atenção, fica até pra baixo. Mas eu procuro entender esse processo que a humanidade está passando. Não sei aonde vai dar. Não estamos vivendo uma vida estagnada. Tudo está em um movimento constante. Hoje não é igual a ontem”, entoa esse pensamento budista.
Com mais de 40 anos de carreira, cerca de 30 CDs lançados, o que fazer para se manter atual? “Eu sou uma pessoa aberta para o mundo, para tudo, as impressões… Não fico preocupado em ser moderno. Tenho que que ser eu”. O cantor acredita que, na vida, são pessoas inspirando pessoas: “é você sendo retro-alimentado o tempo todo. Quando gravei com o Criolo, é porque admiro ele, o artista que ele é”, derrete-se.
E mais: Paulo Borges assina show de Alice Caymmi que vai virar DVD e documentário
Alice Caymmi é uma artista que Ney classifica como “muito interessante”, apesar de nunca ter visto ao vivo. “Até uma falha, já deveria ter visto. E olha de onde ela vem? Olha a tia que ela tem… Maravilhosa! Vejo muita gente contestando, mas ela tem a vida pela frente”.
Ney não vê problemas quando comparam o recifense Johnny Hooker com ele. “Eu trato como inspiração. Agora, ele (Johnny) nega. Pode não ser. Eu não sei, não quero falar mal dele. As pessoas tentam o tempo todo me jogar contra ele. E não aceito. A diferença é que quando eu cheguei,eu falava que Caetano tinha sido minha inspiração. Não queria ser ele. Me transformei no artista que sou por causa dele. Não acho nenhum demérito”, esclarece.
Voltando para o início da conversa, aquela história de renovação de repertório reflete também numa mudança de plateia, o que agrada Ney. “Tenho observado um público muito jovem se aproximando de mim. E me pergunto: ‘ué, o que será que está acontecendo?’ E me vem uma voz, dizendo: certamente porque você não está fazendo um show de sucessos, repetindo sempre a mesma coisa. Eles têm a referência dos Secos e Molhados, que acho maravilhoso que tenham, e devem falar: vamos ver aquele maluco e ver em que estado ele está. Prefiro imaginar isso”, pontua.