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“Todo mundo teve uma pessoa ou pulga que fica sugando nossa energia”, diz Aldo, The Band

Por André Aloi

Aldo, The Band, dos irmãos André e Murilo Faria, está de CD novo. “Giant Flea”, que pega emprestado o nome de uma das faixas, foi lançado este mês pelo selo Ganzá (da plataforma Skol Music). “Todo mundo teve uma pessoa ou pulga que fica sugando nossa energia, o joie de vivre (alegria de viver), mas é também uma homenagem às pulgas gigantes que acabam nos sugando um pouco”, diz Mura, apelido de Murilo.

Ele brinca, dizendo que se existe algum inseto na mira do duo, está oculto. “Acho que eu fui a pulga atrás da orelha do meu irmão e ele da minha. Nossa relação é como um casamento. A gente teve de reinventar nossa relação como irmãos e criar uma química nova para criar músicas”, explica, falando que o álbum fluiu de forma natural.

“O fato de a gente se conhecer muito é um atalho. Nenhum produtor poderia nos deixar tão à vontade”, garante André. Essa intimidade transcende o vínculo familiar. É físico também. Compartilharam, por pelo menos 20 anos, a companhia um do outro no mesmo quarto. “Dormindo junto, tomando banho pelado, jogando, é uma intimidade absurda. A gente se conhece há 30 anos. Esse tipo de intimidade no estúdio permite explorar sua essência que nenhum outro produtor conseguiria”, complementa.

Mas nem tudo são flores. “A intimidade é uma merda, fode tudo. Justamente por isso temos vícios de uma relação familiar, do irmão mais velho com o mais novo. Na prática, é quebra-pau. A gente tenta separar o lado profissional, é um exercício, mas tem dia que um está de saco cheio e provoca o outro. Amo trabalhar com meu irmão”, resume André, o mais velho, que taxa como “supermimado” o companheiro de banda.

Para eles, cantar em inglês é uma forma universal de se comunicar. “Combina muito com nossa música. As letras são despretensiosas, não temos a pretensão de cantar a nossa cidade ou o nosso âmago. É muito mais no sentido de se divertir e se comunicar com o mundo”, diz André, explicando que não vê barreira no idioma. Mas não quer dizer que no próximo disco não possa ter uma ou outra faixa em espanhol ou português.

SONORIDADE
Para o resultado, eles ouviram mais de 100 demos gravadas e foram afunilando no processo. “A gente sempre foi muito aberto a acidentes (sonoros), que poderiam trazer coisas boas. Quando estava quase fechado, a gente tinha esquecido uma demo. Mas tava tão alinhado, num ponto de sinergia forte que compusemos num dia, escrevemos no outro, gravamos no terceiro e mixamos no quarto”, revela Murilo.

Diferente do primeiro disco, produzido no quarto da casa deles ou no armário da mãe, este foi feito em estúdio profissional, com toda a mordomia. “Foi como se a gente tivesse pilotando um Uno e aí, de repente, uma Ferrari. Muito legal essa diferença”. Para este CD, os irmãos explicam, foi um processo acertivo e “bem diferente” do anterior. “O desafio foi transmitir a energia do ao vivo. Para valorizar a performance, gavamos uma linha de baixos do começo ao fim, e a mesma coisa com os vocais”, garante Murilo, ressaltando a felicidade com o resultado.

“A gente não fica preocupado em rotular nosso som, mas experimentar – não de repetir ou criar uma categoria. Indie, eletrônico, punk, dance, groove, funky eletrônico, eletrônico com punk. É difícil mesmo, nem a gente sabe. Mas continua sendo o que a gente gosta de ouvir na pista”, explica André.

Apesar de muita tecnologia, o que dá o charme ao CD é a mescla do material novo com um fundinho das demos. “Quando a gente gravou as demos, elas tinham uma magia – e a gente descobriu ao longo do tempo. Mantivemos a característica (das primeiras gravações) e usamos muita programação e bateria eletrônica, que dá um groove diferente”, pontua o guitarrista, produtor e vocalista da banda.

O disco foi feito pelos dois, do começo ao fim, sem pitaco da gravadora. A mixagem teve colaboração de Dudu Marote, que comanda o selo Ganzá (da plataforma Skol Music) e de Mauricio Cersosimo para que não houvesse vício na audição. David Corcos, o Marroquino, também ajudou.

 

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