Por Carol De Barba
“Ausência”, longa do cineasta Chico Teixeira, venceu o prêmio de melhor filme e outros três Kikitos no 43º Festival de Gramado – melhor diretor, melhor roteiro e melhor trilha musical.
Leia mais: “Olho – vídeo art cinema” apresenta títulos de grandes artistas contemporâneos
“Ausência” (2014), segundo trabalho do diretor do aclamado A Casa de Alice (2007), é um drama cotidiano, familiar, sexual e afetivo. Centrada na figura de Serginho, a trama criada por Teixeira se estrutura sobre diversos aspectos da vida do adolescente: o recém-adquirido papel de homem da casa, cuidando de sua mãe e de seu irmão mais novo; o trabalho na feira; sua amizade com Mudinho e Silvinha; e sua relação confusa, entre o sexo e o afeto, com o Professor Ney. O longa participou da Berlinale (Festival de Cinema de Berlim), foi Premiado no Festival do Rio 2014 com o Prêmio Especial do Júri e como Melhor Ator, para o jovem Matheus Fagundes.
RG conversou com Chico, que diz estar com uma sensação de reconhecimento muito grande. Melhor: sentindo-se abraçado por todos que viram e aplaudiram o melhor filme do ano. “A gente que trabalha com cinema, pelo menos eu que escrevo e dirijo, é como se fosse uma sanfona. Às vezes, você está muito isolado escrevendo. Às vezes, você fica angustiado, ou fica feliz. Os personagens tomam conta de você. E é um preenchimento, parece que você fica grávido das pessoas que você está escrevendo, mas muito só. Depois você passa para a filmagem, aquela loucura do set. Vem a edição, enfim, várias etapas. Quando você ganha um prêmio por algo que fez com tanto carinho, com tanto prazer, é uma certeza de não estar no caminho errado”, conta.
Quanto aos prêmios de melhor diretor e roteiro, Chico acredita que o segredo é acertar a mão. “Quando falo em mão, pensei numa imagem de cozinha. Tem vezes que você faz um arrozinho, um feijãozinho, fica tudo bom e você não sabe nem o motivo”, compara, usando a metáfora da gastronomia para explicar que há um esforço muito grande e íntimo para conseguir dar alma às palavras que colocou no papel. Isso só acontece quando ele está sozinho e concentrado no set. “Às vezes dá vontade de exagerar, mas perceba que no cinema menos é mais. Aquela tela enorme passa muita emoção”, comenta.
Apesar da felicidade com a premiação de “Ausência”, Chico já está com a cabeça em outro projeto. O cineasta finaliza o argumento de um novo filme que, por enquanto, leva o nome de “Dolores”. A história vai girar em torno de uma mulher por volta de seus 60 e poucos anos, que, segundo ele, já cumpriu todo o papel de mulher que a sociedade impõe – foi mãe, avó, trabalhou para se sustentar. Agora, aposentada, ela é livre para cuidar de si. “Ela não precisa dar satisfação a ninguém se tomou um porre, se ficou com uma pessoa uma noite qualquer… Acho que aí está a liberdade dessa mulher. Em vez de estar na fase ruim ela está no melhor momento da vida”, adianta.
O Festival de Gramado premiou, ainda Mariana Ximenes como melhor atriz por um “Um Homem Só”. O melhor ator foi Breno Nina, de “O Último Cine Drive-In”, outro filme a levar para casa quatro prêmios: melhor atriz coadjuvante (Fernanda Rocha), melhor direção de arte e prêmio do júri da crítica.