São Paulo é a casa da primeira Leica Gallery da América do Sul. A galeria ocupa por inteiro um charmoso prédio no número 600 da Rua Maranhão, em Higienópolis, onde até as garrafas d’água têm Leica no rótulo.
Leia mais: Leica abre primeira galeria da América Latina em São Paulo; veja fotos
O espaço é dirigido pela arquiteta Valéria Blay (que também assina o projeto) e pelo representante da marca no Brasil, Luiz Marinho, dois verdadeiros apaixonados pela icônica e centenária câmera fotográfica.
A abertura da galeria contou com as presenças da curadora mundial da Leica, Karin Rehn-Kaufmann, e do guitarrista do The Police/fotógrafo, Andy Summers, autor da primeira exposição do lugar.
“Esse é o local perfeito para ser o hot spot da fotografia em São Paulo”, resume Karin sobre sua expectativa com a galeria paulistana. De acordo com ela, a marca aposta alto no local, com grandes méritos para Valéria e Marinho. “É muito interessante que com a Leica são sempre as pessoas que nos procuram. Elas nos perguntam: ‘podemos abrir uma galeria? Esse espaço é bom?’ Achei perfeito”, comemora.
Segundo Karin, a ideia é inserir a Leica Gallery de São Paulo no circuito de exposições das demais galerias ao redor do planeta. Muitas podem esbarrar em problemas de logística, mas eles também pretendem dar visibilidade a profissionais locais e de toda a América do Sul. “Estou muito aberta. E também achamos muito importante que cada Leica Gallery cuide dos seus próprios fotógrafos das suas regiões”, afirma.
Karin explica que workshops, palestras, sessões de autógrafos, enfim, diversas atividades se somarão às exposições – sem falar na loja e no café que fica no térreo, perfeito para os amantes da arte jogarem conversa fora. Tudo para atrair, fidelizar o público e, quem sabe, resgatar um pouco das origens da fotografia. “Quando você olha para a Leica, ela é um instrumento. Você escolhe as lentes, os ajustes. É você por trás da câmera, não um dispositivo que faz um milhão de disparos e uma foto sai boa. Nós fazemos fotografia, não apenas câmeras”, conclui, citando a filosofia da Leica.
A exposição de estreia reflete exatamente esse contexto. “Del Mondo” apresenta fotografias de vendedores, pedestres, motoristas, quartos de hotel, garçons e até do próprio artista Andy Summers, em cenas espontâneas registradas durante suas andanças pelo mundo.
A seguir, a gente reproduz na íntegra a conversa com Andy:
O que você achou da galeria?
Linda, uma das melhores.
Você acha que será um hot spot para a fotografia nacional?
Eu acho. Acho que milhões de fotógrafos vão querer estar aqui.
Como foi seu começo na fotografia?
Como todo mundo, eu tinha uma câmera quando criança. Mas o negócio começou a ficar sério por volta de 1979. Eu estava em NY, comprei uma câmera muito boa e comecei a me focar nisso.
A música influencia a sua fotografia?
Acho que todas as artes estão relacionadas. E acho que se se você treinar para ser muito bom em um meio, você provavelmente poderá levar aquela informação para outro. É possível colocar uma foto sob o ponto de vista musical, e há músicas que podem ser visuais, dá para falar muito sobre isso. Certamente, para mim, o meu conhecimento, a minha criatividade vem originalmente do processo de fazer música, de compor, montar linhas, harmonias, pensar na estrutura, na sequência. Eu levo tudo isso para a fotografia. Fotografia é uma arte diferente, você aprende a ver isso nela também.
Você quer passar alguma mensagem com as suas fotos?
Essa é uma pergunta interessante. Eu não tiro a foto e fico pensando ‘estou passando uma mensagem, estou passando uma mensagem’. Acho que quando você está fotografando – e você é treinado no meio –, primeiro você aprende as formalidades do meio. Depois você percebe, esse é um momento realmente emocionante, esta é uma forma linda, uma luz, uma sombra, tem uma silhueta ótima nesta imagem, mas no fim tudo isso funciona junto. Há estética e há emoção. É muito similar à música nesse aspecto. Eu fotografo de um jeito muito rápido, não trabalho no estúdio, onde você fica horas ajustando luz, modelo. Eu gosto que a foto seja uma aventura. É interessante pensar nisso. Você tem que ser rápido, mas reagir às ações baseado em conhecimento e experiência.
Essa emoção, vêm dessa mesma origem a música e a fotografia?
Em todas essas coisas, você trabalha a sua vida inteira para ser bom. Tem gente que tem talento, é sorte. Outros precisam estudar. Observei muitas fotografias antes de começar a fotografar. Na guitarra, comecei copiando os mestres. Não vem de um vácuo, você aprende. E depois de alguns anos, você acaba com muito conhecimento e usa isso para criar a sua própria voz.
Parece que você está fazendo muitas coisas no Brasil, agora. Você vai começar uma turnê por aqui! Conta pra gente.
Tem muito acontecendo aqui, mesmo. Esse mês será meio maluco. Sei que essa não é a melhor época no Brasil, mas este mês tenho essa exposição, com a qual estou muito empolgado e orgulhoso por estar abrindo essa primeira Leica Gallery na América do Sul. Depois, tenho o lançamento da minha autobiografia. Tenho vindo ao Brasil por anos para fazer o livro sair e finalmente, vai acontecer. E, é claro, os shows ao lado do Rodrigo Santos, com quem eu já toquei no ano passado. É tudo ótimo, e vou ficar aqui por três semanas. Eu amo o Brasil. É a minha segunda casa. É um lugar muito bom para músicos.
Por que você acha isso?
É um dos países mais musicais do mundo. Adoro a música brasileira, principalmente das antigas. Quando era criança, ouvi Orpheu Negro e fiquei impressionado. Assim que comecei a gostar de música brasileira e estudá-la à minha vida inteira.