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RG recomenda: o novo filme em 3D de Godard é uma experiência obrigatória

Por Carol De Barba

Intenso, sensorial, profundo e provocador, artístico e inovador. Enfim, uma obra-prima. O novo filme de Jean-Luc Godard, seu début no 3D, é tudo isso e mais. “Adeus à linguagem” (distribuído pela Imovision) entra em cartaz a partir desta quinta (30), no Reserva Cultural e outros quatro cinemas de São Paulo (Cinemark Cidade Jardim, Pátio Paulista, Iguatemi e Kinoplex Itaim)RG esteve em uma das sessões de pré-estreia, conversou com os protagonistas e conta, a seguir, por que essa é uma experiência obrigatória.

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Godard ganhou reconhecimento como uma das principais figuras da Nouvelle Vague francesa. O lançamento de seu primeiro filme, “Acossado” (1960), foi considerado revolucionário e marcou a história do cinema. Desde então, suas obras (“Uma Mulher é Uma Mulher”, “A Chinesa”, “Rei Lear”, “Passion” e “Nossa Música”, para citar algumas) refletem uma linguagem cinematográfica e um estilo próprios, e continuam a testar limites formais e estéticos da sétima arte.

Em “Adeus à Linguagem”, o diretor explora visualmente as possibilidades do 3D como ninguém nunca fez. Cria imagens tanto psicodélicas quanto poéticas, questiona tanto sua própria perspectiva quanto a do espectador. Para isso, usa cinco dispositivos e frames-rates diferentes especialmente pensados para o 3D: Canon (23.98 fps), Fuji (24 fps), Mini sony (29.97 fps), Flip flop (30 fps), Go Pro (15 fps) e Lumix (25 fps).

Psicologicamente, Godard cutuca. Questiona o tempo inteiro a nossa atitude diante de todos os aspectos da vida. Preconceitos, recatos, falsos moralismos. A passividade diante do socialmente aceito, a fé cega, o apego com o passado, a ansiedade pelo futuro. Por que pensamos mais e vivemos menos? Por que tudo precisa fazer sentido, precisa ter significado?

Até a sinopse oficial é caótica: “um casal vive um relacionamento marcado pela falta de comunicação, uma vez que os dois não falam a mesma língua. Eis que um cachorro, então, resolve intervir”. Mas até para os próprios protagonistas do filme, Héloïse Godet e Kamel Abdeli, é nestas infinitas possibilidades de interpretação da ‘despedida da linguagem’ que está a magia. “Adeus, na Suíça, também significa ‘olá’. Então também pode ser ‘Olá para a linguagem'”, diz Héloïse. “Adeus – a Deus. Na Bíblia, ‘no começo, foi o verbo’. E eu não sou católico”, ri Kamel.

De acordo com os atores, o mistério faz parte das dores e delícias de se trabalhar com Godard. “Mesmo nós, que lemos o script cheio de detalhes, não sabíamos o que ele faria conosco de verdade. Ele brincava durante a gravação que iríamos redescobrir o filme no fim das contas”, revela Héloïse. Segundo Kamel, foi o que acabou acontecendo. “Demos muita risada durante toda a filmagem. Houveram momentos tensos, também. O resultado, para mim, foi um grande choque emocional”, avalia.

O entusiasmo de ambos enquanto relembram a experiência é inegável. “Aproveitamos cada momento, cada segundo. Sabemos o quanto somos sortudos. Ele é muito encantador, um cavalheiro, coisa que não esperávamos pelo que ouvíamos falar dele. Foi muito intenso e motivador”, diz Héloïse. “Para um ator, é o melhor presente do mundo”, completa Kamel.

Depois de serem aplaudidos de pé em Cannes (festival que já vaiou o diretor), de ficarem impressionados com a juventude do senhor de 83 anos interessadísssimo nas novas tecnologias, não era imprevisível que a dupla tivesse, em resumo, apenas uma palavra para definir toda a experiência: genial.

A gente deixa vocês com a dica da cativante e linda (entrou pra nossa lista de bem vestidos #RGlooks) Héloïse: “Toda vez você descobre algo novo. Ideias, sons… Não dá para assistir apenas uma vez. Você tem que assistir uma vez por mês”. Tirou as palavras da nossa boca, Héloïse.

VALE CONTAR

Que o próprio cachorro de Godard, Roxy Miéville, atua no filme. Ele foi, inclusive, vencedor da “Palma de Cachorro” no Festival de Cannes. “Adeus à linguagem” foi a sensação do Festival, vencendo o Grande Prêmio do Júri.

O filme também foi considerado pela crítica americana o melhor do ano em 2014.

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