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“As pessoas lutam para encontrar o artista que vai ganhar mais dólares em vez de procurar pelo significado da música”, diz Murray Lerner

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Por Carol De Barba

Já não se faz música como antigamente. Essa é a opinião do diretor e escritor norte americano Murray Lerner, o grande homenageado da 7ª edição do In-Edit Brasil – Festival Internacional do Documentário Musical, que começa quarta (1º), em São Paulo.

Lerner mora em Nova York e não poderá vir ao Brasil para participar do evento. Mas, por telefone, RG conversou com ele sobre momentos marcantes da carreira e o mundo dos festivais. Leia a entrevista:

Você sempre quis fazer documentários sobre música ou aconteceu por acaso?
Desde muito jovem era obcecado pela música folk americana. Eu queria fazer filmes sobre as origens do gênero. Mas eu não conseguia achar ninguém interessado, era algo muito obscuro. Quando me mudei para o Village (bairro de Nova York), havia muitos shows de folk. Era algo grande, só que não era divulgado. Depois, quando visitei Newport (a cidade, no estado de Rhode Island), percebi como estava se ampliando e sendo usado como um meio de expressão pelos jovens. Fiquei empolgado e percebi que era sobre isso que eu deveria fazer um filme. Foi o Newport Folk Festival que me interessou a ponto de desejar fazer algo profundo sobre música.

O que é mais importante em um festival, a banda ou o público?
Acredito que uma combinação. O principal é a cultura do festival. Em Newport, havia um conjunto de performances de artistas e da juventude tentando expressar ideias novas. Algo além, que está por trás da música.

Dos festivais em que você esteve, qual foi o melhor?
Fico relembrando Newport e Isle of Wight. Acho que são os dois melhores. Entre eles, eu diria Newport. Porque foi o começo de um grande movimento de novas ideias que se espalharam pela América e pelo mundo.

Atualmente, existe algum evento com esse espírito?
Tudo se tornou muito comercial. Então eu não sei, não tenho certeza, mas acho que não.

As mudanças mais recentes na indústria fonográfica influenciaram os filmes sobre música?
Acredito que sim. Agora é tudo muito mais comercial. As pessoas estão preocupadas em ganhar dinheiro, mas ao mesmo tempo é difícil sobreviver fazendo isso. As pessoas lutam para encontrar o artista que vai ganhar mais dólares em vez de procurar pelo significado da música. Talvez eu esteja vivendo no passado.

Dentre os seus filmes, quais são seus favoritos e qual é o melhor?
Cada um é muito diferente. Eu gosto do “Festival”, do “The Other Side of the Mirror: Bob Dylan at the Newport Folk Festival”, do “Listening to You: The Who at the Isle of Wight 1970″… Um dos meus favoritos é o documentário “Miles Electric: A Different Kind of Blue”. Não sei se é o melhor, mas é um dos melhores porque tem muitos momentos emocionantes entre o Chick Corea (pianista), Herbie Hancock (pianista) e Miles.

Dentre os artistas com quem você teve contato, quais foram os mais difíceis e os mais fáceis para se trabalhar?
Nenhum deles é muito fácil, uma vez que eles se tornam famosos. Os mais famosos são os mais difíceis. Mas a verdade é que eu nunca tive uma grande dificuldade porque eu tentava não me envolver. Eu apenas registrava os acontecimentos e dava meu próprio significado ao trabalho deles. Procuro me expressar em vez de mostrar só o artista. É um erro tentar mostrar apenas a realidade. A única realidade é o filme e ponto de vista do diretor. É isso que eu sinto.

Hoje em dia, a maioria dos shows é transmitida pela TV, internet ou vira um DVD. Ainda vale a pena ir a festivais?
Vale. Quando você está no meio da multidão, você se torna parte dela. E se o artista é ótimo, você se torna parte da música. Isso era algo muito legal de vivenciar no show do The Who, por exemplo. A certo ponto, a audiência tomava conta. Era arrebatador, especialmente no final da “Ópera Rock Tommy”. Essa sensação só acontece quando o artista e a plateia se tornam um. Muitos artistas não tem essa capacidade.

Não se fazem mais artistas como antigamente, então?
Não. Os grupos modernos vem e vão. Eles podem fazer muito dinheiro, mas não são tão bons quanto Jimmy Hendrix, o The Who, o The Doors. Eles tinham ideias únicas e tentavam expressar algo muito profundo com a música. Se isso está acontecendo agora, eu não sei. E eu percebo que os jovens nunca viram Hendrix mas quando ouvem respondem de um jeito muito interessante. Ele tem uma plateia talvez ainda maior do que quando estava vivo. Dylan continua fantástico, eu realmente gosto dele e vejo que ele tem plateias cada vez maiores. Tem algo nessas pessoas que comove a audiência.

Existe alguma cena que se repete na sua cabeça?
Certamente Dylan eletrificando-se é uma dessas cenas. Foi inesquecível. Como uma grande mudança de paradigmas, como entrar em um novo mundo. Há também Hendrix tocando Machine Gun. O The Who no final do show de Tommy, no filme “Listening to you”. Herbie Hancok falando do significado da sua música no final do documentário sobre Miles Davis. São muitas, mas acho que você já em umas boas, aí.

*O festival exibe cinco títulos importantes de Murray Lerner: “Festival” (indicado ao Oscar em 1967), “From Mao to Mozart: Isaac Stern in China” (vencedor do Oscar de melhor documentário em 1981), “The Other Side of the Mirror: Bob Dylan at the Newport Folk Festival”, “Listening to You: The Who at the Isle of Wight 1970” e “Blue Wild Angel: Jimi Hendrix Live at the Isle of Wight 1970”. A programação completa está disponível neste link.

Os filmes estarão em cartaz nas salas Cinesesc, Cine Olido e Centro Cultural São Paulo (CCSP, Sala Paulo Emilio Sales Gomes), Cinemateca Brasileira, Matilha Cultural, de 1º a 12 de julho. De 14 a 19 de julho, o Festival irá a Salvador, na sala Walter da Silveira.

O In-Edit Brasil – 7º Festival Internacional do Documentário Musical é o primeiro dedicado exclusivamente ao gênero no país. Ele foi fundando em 2003, em Barcelona, Espanha.

Foto: Jason Kempin/Getty Images
Foto: Divulgação
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