Por Luisa Graça, conteúdo Harper’s Bazaar
Foram dois encontros recentes com Sienna Miller. No primeiro, ela entra, confiante, em uma sala cheia de jornalistas preparados para fazer perguntas politizadas sobre um filme politizado. Sienna segue linda, com seus cabelos loiros, que têm traços de rosa pink, estilizados como um bob ondulado, desejo de todas as mulheres. Mas paira sobre ela um aspecto mais sério, uma sensatez, que quebra, vez ou outra, ao soltar palavras inapropriadas, rindo de si.
A atriz está ali para falar sobre o filme “Sniper Americano”, badalado drama de guerra que concorreu a seis Oscar, dirigido pelo diretor Clint Eastwood, “o homem mais cool do mundo”, segundo ela. Há pouco tempo, Sienna não seria o tipo de protagonista de um filme sério de um cineasta sério. Era mais conhecida pelo guarda-roupa e currículo amoroso de seus 20 e poucos anos, embora tenha feito alguns papéis interessantes, como a Edie Sedgwick de Andy Warhol em “Factory Girl“. Outros tempos.
Hoje, aos 33, sua agenda anda mais cheia e importante: nunca teve tantos trabalhos ao mesmo tempo, nunca tão bons e tão relevantes.“Não sinto que apertei um botão e, de repente, tudo mudou. Levou um tempo para que as pes- soas me percebessem de maneira diferente. Estou mais velha, mais focada e dedicada”, contou, em entrevista exclusiva à Bazaar, semanas depois do primeiro encontro de jornalistas, em uma manhã entre a aparição no Globo de Ouro, vestindo Miu Miu, e a participação bem-humorada no The Tonight Show, a bordo de um Céline listrado. “Não acho que minha vida virou de ponta-cabeça. Crescer, mudar, é inevitável. Talvez eu só esteja pronta para ter uma carreira mais séria.”
2012 foi o marco. Sua performance madura como a musa de Hitchcock, Tippi Hedren, em “A Garota”, filme da HBO, ganhou elogios. Fora das telas, nascia Marlowe, sua primeira filha, com o ator Tom Sturridge. “A maternidade me deu mais profundidade e uma sensação de completude”, confessa. Ser mãe foi também fator decisivo para que conseguisse o papel de Taya Kyle, esposa do fuzileiro naval que, durante quatro ciclos da Guerra do Iraque, tornou-se o atirador mais letal da história militar americana. Sniper Americano é um filme intenso, que depende de performances estelares.
Taya, a da vida real, queria que a atriz que a interpretasse fosse mãe, como ela, e pudesse expressar sua história com ver- dade. Então surgiu Sienna, que, ao lado de um introspectivo e 18 quilos mais forte Bradley Cooper (indicado ao Oscar por sua atuação), deu vida à mulher de Chris Kyle. “É difícil fazer perguntas a alguém que perdeu o marido há pouco tempo, mas, quando nos falamos pela primeira vez, foi como se Taya e eu já nos conhecêssemos há anos”, diz a atriz, que interpreta uma viúva também no filme Foxcatcher, em cartaz.
Contar uma história significativa como essa foi um dos maiores desafios da carreira da inglesa. “É sempre difícil essa transição, de ser outra pessoa atuando e depois não ser mais.Você simplesmente precisa passar por algumas semanas de tristeza, sentindo-se inquieta e, então, seguir em frente.” Apesar da densidade do assunto, Cooper e Miller, claramente, se divertiram juntos.“Somos pessoas parecidas em termos de nos dispormos a investir tudo o que temos para contar uma história […] Tive sorte de trabalhar com ele duas vezes seguidas.”
Depois de Sniper, fizeram outro filme, ainda sem título, sobre um chef que deseja montar o melhor restaurante do mundo. Um entre outros cinco longas de Sienna que chegam aos cinemas em 2015. E que ano: além dos filmes que entram em cartaz, a atriz começa a rodar outras três produções, entre elas o novo trabalho de Ben Affleck na direção.
E, se cineastas conversam entre si, alguém deve ter dado o recado a Sam Mendes, diretor da montagem de “Cabaret“, com estreia em junho, que escolheu Sienna para suceder Emma Stone e Michelle Williams como Sally Bowles, o papel mais cobiçado da Broadway. “Sinceramente, não sei bem o que está acontecendo com minha carreira, mas só posso dizer que estou muito feliz com tudo isso.”