Por Cacá de Guglielmo, especial para o Site RG
Adriano Cintra foi a cabeça pensante e o principal compositor de uma das bandas nacionais de maior sucesso fora do país: o Cansei de Ser Sexy, ou CSS, como o mundo aprendeu a chamar. Depois de sua saída nada amigável do CSS em 2011, Cintra voltou a morar em SP e fez uma parceria com Marina Vello (ex Bonde do Rolê), que resultou na dupla Madrid e dois discos lançados. Também montou uma produtora musical e começou a trabalhar com artistas locais como Tiê, Thiago Petit, Lia Paris, Marcelo Janeci e Boss in Drama.
Agora, ele chega com seu primeiro trabalho solo, “Animal” (Deck Records, 2014), que foi lançado em outubro e já está disponível nas lojas e para download. O disco conta com convidados de peso como Rógerio Flausino, do J Quest, Guilherme Arantes e a cantora Naná Rizinni nos vocais. “Animal” recupera a fórmula pop/divertida responsável pelo sucesso do CSS, que acabou por consolidar o sucesso do grupo.
Em conversa com o Site RG, Adriano mostrou ter uma visão crítica sobre vários temas. “Eu tenho PAVOR dessa definição de MPB. Pra mim MPB é tipo Mônica Salmasso. Não considero a Tiê, nem o Thiago, nem a Lia, nem o Jeneci MPB. Pra mim, eles fazem música pop.”, confessou. “Daí alguém pode falar que MPB é ‘música popular brasileria’ e até é, mas essas três letrinhas criaram um ranço detestável, um verniz velho, caquético, careta, pequeno e eu não gostaria de chamar nenhum amigo meu de MPB. Deixa a MPB pros velhos reacionários e burros”, completou. Confira o restante da entrevista abaixo:
RG – O seu primeiro projeto depois do CSS foi o Madrid, que era mais calmo e intimista. Agora no seu primeiro disco solo você voltou as raízes fazendo um electropop/videogame/divertido que era a marca registrada da sua ex banda. Foi uma estratégia pra reconquistar os antigos fãs do CSS ou é simplesmente o estilo que você gosta de fazer?
Adriano Cintra – Não foi pensado, não. Quando deixei o CSS em 2011, eu não sentia vontade de dar continuidade àquele tipo de trabalho. Voltei a estudar piano, fiz dois discos do Madrid. Daí a Marina se mudou de Londres para Paris e não podia mais ficar vindo para SP toda hora e eu fiquei sem banda de novo, e foi aí que eu comecei a fazer esse disco. Foi natural.
RG – Com o CSS você experimentou um reconhecimento internacional que poucos artistas brasileiros tiveram oportunidade. Você acha que a responsabilidade de fazer sucesso é maior por conta disso?
AC – Eu não tenho a menor preocupação em “fazer sucesso” para ter algum reconhecimento. Pra mim, lançar esse disco por uma gravadora tão legal quanto a Deck já é fazer sucesso o suficiente, sei que meu disco vai ser vendido em tudo que é loja, que vou trabalhar imprensa direitinho, que vão divulgar meu trabalho. O resto é consequência do trabalho feito, dos shows, dos clipes. Eu não sinto esse tipo de pressão, eu tô tranquilo e seguro que meu disco é muito legal, eu sou chato pra caralho com isso.
RG – Hoje você divide seu tempo entre sua produtora, produzir outros artistas e seus projetos. Como é seu processo de criação? Você toca todos os instrumentos ou tem uma banda?
AC – No disco eu toquei tudo, menos o saxofone da faixa Duda, que era meio complicado e eu chamei um saxofonista pra fazer. No show eu tenho uma banda sensacional: a Nana Rizinni na bateria, o André Whoong na guitarra, o Bruno Monstro no baixo e eu toco guitarra e canto. E eu fiz projeções para todas as faixas também, o show está bem pensado. Quanto a criar, eu não tenho um processo, tem épocas que eu componho mais e vem tudo de uma vez, noutras faço uma música aqui, outra ali. Agora estou nessa fase mais calma, estou mais preocupado em ensaiar o show. E estou produzindo outros artistas também.
RG – Fale um pouco sobre as parcerias desse disco como a do Rogério Flausino, por exemplo.
AC – Quem fez a direção artística do disco foi o Marcus Preto. Eu tinha composto esse disco todo em inglês e, quando ele me botou pilha para fazer um disco solo, eu mandei as músicas pra ele. Ele curtiu, mas disse que eu não “podia lançar um disco em inglês”. E, realmente, não tinha porque lançar um disco assim, eu não tinha a menor intenção de lançar esse disco fora. Eu voltei para o Brasil em 2010 e eu adoro isso aqui, estou feliz aqui. Daí ele perguntou se “podia fazer algo” com as músicas. Eu nem perguntei o que seria esse algo, falei que sim. Dois meses depois eu recebi um email do Guilherme Arantes, depois do John Ulhoa do Pato Fu, depois do Odair José, do Tim Bernardes do Terno… e assim foi.
Teve o Kiko Dinucci, o Marcelo Segreto, a Alice Caymmi, a Gaby Amaratos. Marcus mandou algumas músicas minhas pra essas pessoas e pediu que elas fizessem versões para o português, como se fazia antigamente na época da Jovem Guarda. E eu gravei essas versões e o disco começou a tomar forma. Três múiscas ficaram sem versões e continuavam em inglês e eu mesmo fiz as versões. “Desde O Início” é uma delas e, quando eu gravei a minha própria letra em português, fiquei meio chocado porque parecia uma música do Jota Quest. O que eu fiz? Mandei um email pro Rogério perguntando se ele não toparia cantar e alguns dias depois eu recebia um email com a voz dele.
RG – O que você ouve atualmente e quais suas referências?
AC – Olha, eu não gosto de falar muito de “referências” porque fora da publicidade eu não trabalho com referências. Acho que são influências, são bandas contemporâneas com as quais eu me identifico (e sei que algumas inclusive se identificam com o trabalho que eu faço/fiz no CSS), como o Metronomy, a LaRoux, o Chvrches. Aqui no Brasil eu gosto muito muito muito do trabalho do Thiago Pethit, depois de trabalhar com ele eu fiquei mais fã ainda, ele tem uma preocupação estética praticamente inédita por aqui. Pago pau pro Silva também. Sou apaixonado com a Alice Caymmi, esse último disco dela é apenas maravilhoso e torço para que a Mahmundi estoure de alguma forma. Ela é uma gênia.
RG – Como esta sua relação com o CSS. Você recebe direitos autorais sobre as músicas que criou pra banda?
AC – Sim, eu recebo tudo certinho, quase tudo que elas tocam é meu. Faço votos que elas continuem fazendo shows por muitos anos. Mas eu não tenho contato algum com elas, acho que elas morrem de medo de mim.