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Thiago Pethit: “Não acho que o amor vai salvar o mundo”

Cantor acaba de lançar seu terceiro CD: “Rock ‘N’ Roll Sugar Darling”

Por André Aloi

Thiago Pethit acaba de lançar “Rock ‘N’ Roll Sugar Darling”, seu terceiro álbum, e aproveitou a ocasião para conversar com RG sobre inspirações e todo o processo criativo. Confira a íntegra da entrevista:

RG – Como foi o processo criativo do novo álbum?
Thiago Pethit –
Fazer disco pra mim talvez seja uma das coisas mais frustrantes do mundo. Eu tenho expectativas muito altas sempre… Então é sempre um processo muito angustiante. Mas, nesse  especificamente, teve um lado muito divertido. Eu estava trabalhando com dois produtores, o Kassin, no Rio de Janeiro, e o Adriano Cintra, em São Paulo, e o Adriano vem de um histórico de música muito diferente do meu. Ele tem muito mais experiência com música eletrônica e, de algum jeito, ele mudou muito meu processo criativo porque passou muito tempo brincando com samples e batidas eletrônicas. Muitas músicas foram construídas a partir das batidas e depois eu fiz melodias e letras. Foi muito gostoso.

RG – Uma fala de Joe Dallesandro – ator-fetiche de Warhol –  introduz o disco.  Como você chegou até ele?
TP –
Ele tinha sido inspiração pra mim no meu disco anterior, “Estrela Decadente” (2012). Por causa do clipe de “Moon” (direção de Heitor Dhalia), um amigo que temos em comum me apresentou pra ele, que gostou muito e me escreveu via Facebook. Demorei muito tempo pra acreditar que fosse ele mesmo, e a gente se falou. Eu, ele e a mulher dele, que é uma artista e escritora, chamada Kim. Os dois moram em Los Angeles e eles foram uma das razões pelas quais eu resolvi fazer fotos e me inspirar naquela cidade para esse disco. Ele passou por toda a história do rock e, de repente, está ali abrindo meu disco, meio que passando o bastão ou dando aval para falar do rock da geração dele.

RG – Suas inspirações para o novo álbum foram de Elvis Presley a Iggy Pop, passando Nancy Sinatra, Cher, The Doors e a série “Twin Peaks”. São muitas referências pra um CD só… Como cada uma tem relevância e se encaixa no novo disco?
TP –
São referências de épocas diferentes, que se revisitaram muitas vezes e que por si só já são um liquidificador delas mesmas. Você pega um filme do Lynch e tem sempre uma trilha de Ryan Orbison ou do Elvis Presley ou do Lou Reed. Então, o que eu sinto que esse disco tem é que eu olhei para esse mesmo caldo que uma turma já olhou. E, de algum jeito, eu roubei. Eu não digo nem que eu peguei emprestado ou me inspirei. Roubei mesmo.

RG – Como você classifica seu som e também o público?

TP – (Depois de um tempo para pensar…) O que eu acho sobre mim hoje em dia é que eu me identifico cada vez menos com o rótulo de neo-MPB. Quando surgi há quatro anos, o termo significava um monte de coisas. Esse estilo se tornou ou tem se tornado uma coisa só. Os artistas que antes eram diferentes estão ficando cada vez mais parecidos uns com os outros. E eu me sinto um estranho no ninho diante dessa cena e artistas. De algum jeito, sou – no momento – um artista de rock. Eu faço rock! Se viessem me perguntar como define, diria rock ou candy rock. Esse rock que tenta olhar pro lugar onde o rock nasceu, pra essa transgressão.

RG – Falando nessa neo mpb… Você e a geração de “novos paulistas” (formado por Dudu Tsuda, Tatá Aeroplano, Thiago Pethit, Tiê e Tulipa Ruiz) já não são tão novidade assim. O que mudou de lá para cá? Você se incomodava com essa nomenclatura?
TP –
Essa nomenclatura só engavetou a gente. Isso, na verdade, era um show que a gente fez e que virou um termo para designar essa cena. O que acho que aconteceu é que, de 2010 pra cá, foram surgindo muitos outros nomes e que aquilo que cada vez mais era plural, acabou se tornando comum. A ideia do que eram os novos paulistas nunca foi se manter junto ou fazer coisas juntos. Isso acontecia naturalmente porque nós éramos muito amigos e muito grudados. Convivíamos e tínhamos mais tempo porque estávamos todos começando. Hoje, temos pouquíssimo tempo, nos encontramos super pouco e essa união já não acontece mais. O que não me agrada é sentir que, de repente, as coisas estão ficando todas com a mesma cara e que neo MPB um termo que significa alguma coisa de fato e não muitas coisas.

RG – O que mais mudou em você desde o lançamento de “Estrela Decadente” (2012), e pode ser sentido nesse novo CD?
TP –
No fundo, de lá para cá, vivo a mesma situação mercadológica, ser um artista independente, sem apoios estatais ou patrocínios. E fazendo às minhas próprias custas, do meu trabalho, sem empresários… sem uma estrutura mercadológica mais comum. Mas não posso reclamar e dizer que sou um fracasso. De lá para cá, cresci muito. Esse disco é uma percepção disso. Ao mesmo tempo é, sonoramente, um passo a mais do que estava fazendo no disco anterior.

RG – “Romeo” é uma coisa meio amor bandido… Aquela coisa de cinema, da moça apaixonada que quer fugir com o amor, mas ele não é o cara que a família sonhou. Você acredita no amor?
TP –
Eu acredito que a gente ama… O que é acreditar no amor (devolve a pergunta. Depois de uma explicação sobre amor romântico, prossegue). Acho que o amor pode ser muito destruidor, não só construtivo. Não acho que o amor vai salvar o mundo, por exemplo. Pelo menos não o amor como a gente entende ele. Acho que “love is all you need” ao mesmo tempo, a gente precisa repensar esse amor, talvez. É muito difícil se relacionar, não só afetivamente, enquanto casal. Contato ser humano x ser humano é sempre uma barreira. Acho que a sociedade nos torna muito doentes… Então, quando falo de amor, que tem uma potência que visualizo na vida e no amor mesmo que pode ser disruptiva, muitas vezes auto-destrutiva.

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